60 anos de Homago: a escola que nasceu de um sonho comunitário e formou muitas gerações em Jaraguá do Sul
Foto: Gabriela Bubniak/JDV
A escola é um dos lugares mais marcantes na vida de qualquer pessoa. É onde nascem amizades duradouras, onde os professores deixam lições que vão além do conteúdo das aulas, onde o recreio vira memória afetiva e os primeiros desafios moldam o que virá depois. É também onde se aprende a conviver, a se posicionar, a crescer.
E se existe uma instituição que deixou – e continua deixando – sua marca na vida de muitos jaraguaenses, é a Escola de Educação Básica Holando Marcellino Gonçalves, ou como todos carinhosamente chamam, Homago.

Neste 26 de novembro de 2025, a escola comemora 60 anos de fundação. Seis décadas que representam dezenas de professores, milhares de alunos e incontáveis histórias de transformação. Quem passou pelo Homago, ou ainda vive a rotina escolar, sabe, o colégio é ponto de partida, lugar de acolhimento, cenário de descobertas e construção de vínculos.
Em comemoração a esta data tão importante, o JDV revisitou a trajetória da escola que nasceu de um sonho coletivo e se tornou uma das referências em educação pública em Jaraguá do Sul. Um mergulho em lembranças, personagens e momentos que ajudaram a formar o que hoje é parte vivíssima da cidade.
O início de um sonho comunitário
A história do Homago começa antes mesmo de seus muros serem erguidos. Nos anos 1960, a região da Vila Nova Esperança, atual bairro Ilha da Figueira, crescia rapidamente, e a pequena escola Irmã Marieta, no Morro da Boa Vista já não atendia às necessidades da população local. Os moradores precisavam de um novo espaço maior, mais estruturado e capaz de acolher os filhos da comunidade que se formava por ali.
Conteúdos em alta
Foi nesse contexto que nasceu a ideia de fundar uma nova escola e transferi-la do morro para o bairro. A iniciativa partiu da própria comunidade, com destaque para o professor Holando Marcellino Gonçalves, uma figura admirada e respeitada por sua dedicação à educação pública.
Ele liderou este movimento ao lado de nomes como Rudolfo Kreis, Miguel Petry e Siegfried Kreutzfeld, uma comissão dedicada que se encarregou de transformar o plano em realidade.

Após conseguirem o terreno para a construção, doado por Alfredo Friedel, morador da região, iniciou-se a mobilização – junto à prefeitura da época – para fazer o projeto sair do papel. A primeira ala foi construída: duas salas de aula, uma secretaria, um gabinete e um depósito. A inauguração ocorreu em 30 de janeiro de 1966, e foi recebida com festa e orgulho comunitário.
Pouco tempo depois, em uma reunião da recém-formada Associação de Pais e Mestres, surgiu a proposta de dar à nova escola o nome do homem que havia sido essencial para sua existência. A escolha foi quase unânime: a instituição passaria a se chamar Escola Reunida Professor Holando Marcellino Gonçalves, uma homenagem em vida ao seu idealizador. Desde então, virou Homago – sigla que carrega as iniciais de seu patrono.

Um homem à frente do seu tempo
O educador Holando Marcellino Gonçalves (1925 – 2015) foi uma figura respeitada na comunidade. Ele acreditava no poder transformador da educação pública e no papel da escola como espaço de emancipação.
Nascido em 26 de novembro de 1925, iniciou sua vida escolar em Schroeder e concluiu o Curso Complementar no Colégio Marista em Jaraguá do Sul, aos 17 anos. Serviu ao Exército e logo iniciou sua carreira como professor primário em 1946.
Atuou em diferentes colégios da região até tornar-se efetivo no quadro estadual em 1951. Em paralelo à trajetória profissional, formou uma grande família ao lado da esposa Felomena Schmitz Gonçalves, com quem teve dez filhos: Antônio José, Maria Júlia, Orlando Gilberto, Marly Marlene, Marina Bernadete, Clóvis Marcellino, Noêmia Eliana, Clotilde Inês, Rogério Luiz e Lucia Helena.

Em 1964, assumiu a direção do Grupo Escolar Roland Harold Dornbusch e, no mesmo ano, propôs a fundação de uma nova escola na Vila Nova Esperança.
Holando também foi diretor do CIP (Centro Integrado de 1º grau), atual escola técnica, e atuou como Inspetor Escolar em Joinville. Aposentou-se em 1981, com mais de 35 anos dedicados à educação pública. Hoje, seu legado permanece vivo na memória dos ex-alunos, nas ações dos educadores e em cada jovem que passa pelos corredores do Homago.
Legado que inspira
“O professor Holando não é apenas o patrono da escola, ele é um símbolo de propósito”, resume a pedagoga e mestre em Educação Alessandra Fischborn, atual diretora da instituição. Segundo ela, o compromisso que Holando tinha com o acesso à educação pública e com a formação humana ainda orienta cada passo da instituição.
Para ela, a visão que ele tinha de escola como espaço de formação integral – com disciplina, acolhimento e vínculo comunitário – segue viva no cotidiano.

“Cada projeto, cada cuidado com o estudante é uma forma de honrar aquilo em que ele acreditava. Caminhamos com a certeza de que ele abriu as portas para que milhares de jovens tivessem oportunidade e dignidade, e essa inspiração guia nosso trabalho todos os dias.”
Esse espírito norteou, desde o início, quem deu continuidade ao seu trabalho. Após Holando, sua filha, Marly Marlene Gonçalves Pieper, assumiu a direção e liderou a escola por mais de duas décadas. Depois, outros nomes passaram pela direção e deram continuidade ao trabalho, como Miraci Solange Ribeiro Hahn, Ivonete Machado e Gilmara Hanemann Gorges.
Hoje, o Homago conta com uma equipe composta por cerca de 70 professores, atuando em três turnos: matutino, vespertino e noturno. Somados a eles, secretários, técnicos e assessores pedagógicos, que garantem o funcionamento e a organização da escola no dia a dia, ao todo são aproximadamente 80 profissionais.
A escola atende cerca de 630 alunos, distribuídos entre os anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e o Ensino Médio (1ª à 3ª série).
O legado vivo de uma escola jaraguaense
Para muitas pessoas, a escola Homago representa um ponto de partida, um elo com a comunidade e um espaço que deixa marcas duradouras na vida de quem passa por ali. E, aos 60 anos, esse legado segue mais vivo do que nunca.
Um exemplo disso é Denis Torizani, ex-aluno e hoje cofundador do Grupo Stannis, que conta com marcas como a Cerveja Stannis, a cervejaria mais premiada do Brasil. Para ele, a escola foi essencial na formação pessoal e profissional.
“Estudei no Homago a minha vida inteira. Foi uma parte enorme da minha vida que guardo com carinho, não só pelas amizades que conservo até hoje, mas pelos ensinamentos e oportunidades que os professores nos deram. Sempre tive orgulho de dizer que fui aluno.”
Denis lembra com afeto das aulas de Artes, Matemática e Física, que despertaram sua criatividade e interesse pelo conhecimento. Ele também destaca o papel da escola no acesso ao esporte, por meio da escolinha de basquete:
“Ali eu aprendi disciplina, respeito e trabalho em equipe. Tudo isso moldou o Denis que sou hoje: o cidadão, o empreendedor, o ser humano. E muito veio dos valores cultivados ali dentro, mesmo quando a gente era um pouco arteiro. Os professores sempre acreditaram na gente.”
Mas o legado do Homago não está apenas nas lembranças de quem passou por lá. Ele também pulsa nos passos de quem hoje constrói seu caminho dentro da escola.
Aos 12 anos, Sophia Morena Rodrigues de Figueiredo representa o presente e o futuro da escola. Atleta que sonha em fazer parte da Seleção Brasileira de Taekwondo, ela já coleciona conquistas importantes, como a medalha de prata na Copa do Brasil, disputada recentemente em Canoas (RS).

Nascida em Curitiba, mas criada em Jaraguá do Sul desde o berço, Sophia conta que se sente acolhida pelos professores na escola, tanto nos estudos, quanto no esporte. Apaixonada também por literatura e escrita, ela gosta da oportunidade de escrever sobre o cotidiano.
Fico muito feliz em poder contribuir com estes 60 anos de história. É muito bom poder representar a escola no esporte, e trazer as medalhas para mostrar e comemorar com as pessoas que sempre me apoiaram.
Sobre o futuro, uma coisa ela já decidiu: quer se tornar mestre em taekwondo. E enquanto esse dia não chega, segue entre medalhas e livros, mostrando que o Homago continua formando talentos que vão muito além da sala de aula.
Uma escola que segue em crescimento e reinvenção
Ao longo dos anos a escola cresceu, ampliou turnos, implantou o Ensino Médio, acolheu novos alunos e passou por diversas reformas. Estruturalmente, modernizou-se; pedagogicamente, tornou-se referência em educação.
A estrutura atualmente conta com 12 salas de aula, além de uma biblioteca, sala de informática, laboratório de Ciências, laboratório Maker, sala de Arte, espaço de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e duas quadras poliesportivas.
“Conduzir uma equipe educacional hoje exige mais do que organização: exige presença, escuta ativa, coragem. O segredo tem sido cultivar vínculos, lembrar todos os dias que ninguém faz educação sozinho”, complementa Alessandra.
A diretora, em seu segundo ano de gestão, se diz emocionada por liderar a escola justamente no período em que completa 60 anos de história. “É perceber que cada gesto colabora com uma trajetória que começou muito antes de mim e seguirá muito depois”.
Veja algumas imagens dos espaços da escola:





















20 anos de Homago: professora que é parte da história
Entre tantos nomes da docência que ajudaram a construir o Homago ao longo de seis décadas, alguns se tornaram referência viva da dedicação que atravessa gerações. É o caso da professora Priscila Valentino Santos. Há 20 anos atuando na escola como professora de Língua Portuguesa, ela é uma das profissionais que personificam o vínculo afetivo e a memória institucional que o colégio preserva.
“Foi desafiador no começo. A escola trabalhava com material apostilado, algo novo para mim. Precisei me reinventar, estudar muito. Mas o esforço valeu a pena”, relembra sobre o início no corpo docente, no ano de 2005. Desde então, foram duas décadas acompanhando mudanças, lideranças, alunos, reformas e projetos.

Priscila recorda que os eventos escolares foram momentos que marcaram muito sua trajetória: festas juninas, o encantador Natal Luz, os alunos ensaiando, participando ativamente.
“Sempre foi uma escola viva, envolvida, vibrante. Isso me tocou muito. Ver os alunos se dedicando, vestindo a camisa da escola, me marcou e ainda marca profundamente”.
Como muitos outros professores com longa trajetória no Homago, ela destaca o que chama de “olhar humano” da escola.
“Você passa a fazer parte como se fosse uma grande família. Conhece cada aluno pelo nome, vive alegrias, mas também enfrenta dores junto. E isso forma vínculos reais”, acrescenta Priscila.
Para ela, poder reencontrar e ver ex-alunos conquistando grandes feitos e formando famílias é algo que enche o coração de alegria e proporciona um sentimento de dever cumprido.
“Esses dias encontrei uma ex-aluna no mercado. Ela me apresentou o marido, a filha, e ainda me chamou de professora com tanto carinho… é indescritível. Sinto orgulho de ver essas crianças agora contribuindo com a sociedade”.
Em meio às mudanças da sociedade e às exigências de uma geração conectada e veloz, Priscila acredita que o papel da escola continua vital: “Precisamos nos adequar, claro. Mas também seguir com nossa responsabilidade de formar seres humanos com consciência, empatia e preparo para o mundo”.
Galeria de Memórias
Em 2025, o Homago usou suas redes sociais para relembrar os muitos momentos que marcaram esses 60 anos de existência. Nos últimos meses foi possível acompanhar fotos antigas, turmas marcantes, professores queridos e eventos históricos. Uma verdadeira linha do tempo afetiva e um convite à nostalgia para quem já passou pelos corredores da instituição.
Vale a pena rolar pelo feed da escola e matar a saudade dos bons tempos: @eebhomagooficial.
E para celebrar essa trajetória de 60 anos, reunimos também imagens históricas que mostram a evolução da escola, os rostos que marcaram gerações e os momentos que ajudaram a construir a identidade do Homago. Confira:






































Baile HOMAGO 60 anos: o reencontro
Entre os eventos comemorativos deste mês de aniversário, um dos mais aguardados é o baile HOMAGO 60 anos: O Reencontro. A celebração acontecerá no dia 29 de novembro, a partir das 23h, na Sociedade Vieirense, e promete reunir diferentes gerações de alunos, professores e moradores do bairro.
Com música ao vivo da banda In Natura, homenagens especiais e clima de confraternização, a noite será dedicada à memória, aos reencontros e às histórias que atravessam o tempo. Os ingressos ainda estão à venda e podem ser adquiridos até o dia 28. Clique aqui para saber mais sobre o evento e garantir seu ingresso.
Como isso impacta sua vida?
Celebrar os 60 anos do Homago é reconhecer o papel essencial que a escola tem na formação de uma comunidade inteira. Para quem estudou, trabalhou ou viveu de perto essa história, é a chance de reviver afetos, fortalecer vínculos e entender que educação pública de qualidade transforma destinos. Impossível não se emocionar com a força de um projeto coletivo que atravessa gerações e continua deixando marcas profundas nas pessoas e na cidade.
#Nota da autora: Registrar os 60 anos do Homago, como ex-aluna, é especial. É retornar ao lugar que moldou meu olhar, acolheu meus sonhos e me deu amizades para a vida toda. Revisitar essa história é lembrar o quanto a escola foi a minha base. Vivi anos felizes como estudante e sigo certa de que quem passa por ali leva um pouco da escola para sempre.

Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.