6 fatos (super) curiosos das eleições em Santa Catarina
acervo.arquivopublico.sc.gov.br Foto:acervo.arquivopublico.sc.gov.br
Eleições no Brasil são uma tradição, embora tenha havido períodos em que eles não ocorreram. Como voto é obrigatório, a busca por votos baseia-se sem no percentual de eleitores aptos a votar. As regras também são atualizadas a cada edição (antigamente bastava o título; hoje, documento com foto). É uma emoção a cada dia de campanha que resultam nos mais diferentes resultados, alguns previsíveis e outros “inexplicáveis”. Conheça aqui seis curiosidades da política em Santa Catarina.
Eleições 1982: vários candidaturas pelo mesmo partido
Em 15 de novembro de 1982, 58 milhões de eleitores foram às urnas para escolher prefeitos e vereadores em mais de 4 mil municípios brasileiros. Foi o último pleito durante o Regime Militar e o único realizado durante o governo de João Figueiredo. Essa eleição foi marcada por alguns fatos curiosos, como a presença de mais de um candidato a prefeito por partido e o excesso de aspirantes ao cargo mais importante de municípios com nem tantos eleitores assim, como foram os casos de Camboriú e Navegantes, no Vale de Itajaí.
Camboriú e Navegantes: muitos candidatos para poucos eleitores
É o caso de Camboriú. Na cidade litorânea, por exemplo, o PMDB indicou três pretendentes: Andronico Pereira Filho, João Moraes Filho e José Pedro Heizen. Do Partido Democrático Social (PDS, atual PP) mais três: Luis Manoel Cruz, Fernando Garcia e Anacleto Testoni. Completaram a corrida Gerônimo Cardoso, do PDT, que conseguiu 32 votos, e Sebastião Amorim, do PT, com dois votos.
Eram tantos candidatos, que o prefeito eleito, Andrônico Pereira Filho, conquistou apenas 1.798 (26,5%) dos 6.932 eleitores camboriuenses. O segundo colocado foi seu correligionário e, naquele momento, adversário José Pedro Heinzen.

Na vizinha Navegantes, no mesmo ano, a situação era parecida. Três candidatos do PDS, três do PMDB, um do PDT e outro do PT para apenas 9.301 eleitores. Foi eleito Domingos Angelino Régis (PDS), com 2.377 votos. Concorria com ele o ex-prefeito Cirino Adolfo Cabral , que obteve 1.750 votos.
Assim como em Camboriú, a lanterna ficou com um candidato petista, Waldemir Borba Júnior, com 20 votos. O penúltimo colocado foi o pedetista Manoel de Souza, com 22 votos.
Conteúdos em alta
Rio dos Cedros 2012 – vereadora sem nenhum voto
A expressão “nem ele votou nele” é muito comum quando um candidato recebe poucos votos. Mas imagine não receber nenhum voto e transformar a expressão em algo literal.
Foi o que aconteceu na eleição de 2012 em Rio dos Cedros, quando a candidata Gilmara Elisa Ricardo concorreu ao cargo de vereadora apenas para fechar a cota de participação feminina, sem nenhuma pretensão. Não fez campanha e não votou em si mesma, garantindo seu voto para o marido, também candidato.

Acordo garantiu mandato
Mas, por conta de um acordo partidário, a titular do mandato pelo partido (PPS), Anilda Moser, planejou períodos de licença para que os demais suplentes, por ordem de número de votos, ocupassem o mandato por 30 dias.
Para que cada suplente pudesse ocupar a cadeira, os beneficiários anteriores precisavam desistir do direito, o que era passado para o seguinte na lista, até chegar a Gilmara Elisa, que, sem nem mesmo o voto dela, foi vereadora por 30 dias. E poderia ser pelo mandato todo, caso todos os demais suplentes desistissem de assumir.
Indaial 2004 – A eleição decidida por UM voto
Eleito prefeito de Indaial no ano 2000 pelo PT, Olímpio Tomio concorreu à reeleição em 2004. Seu adversário era Sérgio Almir dos Santos, cuja campanha conquistou metade da cidade. Ou melhor, quase a metade.
No momento da apuração, embora numericamente disputando voto a voto, as urnas davam a vitória para Santos, cuja campanha já festejava.
A urna que faltava
Mas, no meio dos festejos, descobriu-se que ainda restava uma urna a ser apurada. Era para ser a consagração da vitória, mas a urna também estava dividida e, dos votos apurados, o resultado total garantiu 9.133 votos para Tomio, contra 9.132 para Santos.
Uma das vitórias mais improváveis já vistas.

Guaramirim 2009 – Uma eleição, dois prefeitos
A vitória de Nilson Bylaardt (MDB) como prefeito de Guaramirim, em 2008, foi incontestável do ponto de vista numérico. Ele venceu seu principal adversário, Evaldo Junckes (PT), o Pupo, por 7.551 votos contra 6.100.
Festa feita, posse garantida em 2009, mandato iniciado, uma surpresa esperava por Bylaardt logo à frente: uma ação de compra de votos no TRE SC acusava Bylaardt de compra de votos durante a campanha eleitoral.
Bylaardt teria, segundo a acusação, pago uma viagem ao Beto Carrero a integrantes do Clube de Mães do bairro Poço Grande. A ação prosperou e, em julho de 2009, Bylaardt teve seu diploma cassado.
Dois prefeitos em um ano
Em seu lugar, foi empossado Evaldo Junckes, o segundo colocado. Novo prefeito, nova equipe. Todos os cargos de confiança do prefeito cassado foram substituídos por novos nomes ligados ao recém-empossado.
A cassação foi revertida em novembro de 2009 e Nilson retornou ao cargo, renomeando toda ou parte de sua equipe que havia sido exonerada.

Blumenau 1996 – Quando o azarão ganhou a eleição
Em 1996, a disputa para a Prefeitura de Blumenau estava acirrada entre os favoritos: o então deputado Wilson Wan-Dall (PPB), oposição, e Dalírio Beber (PSDB), que concorria para sucessor do prefeito Renato Viana (PMDB). Com chances mínimas, concorria pelo PT o então vereador Décio Lima (PT).
Décio não tinha nem o alcance político nem os recursos financeiros para concorrer em condições de igualdade com os outros dois. A disputa foi tensa e acirrada, com ataques certeiros de Beber contra Wan-Dall, que se mantinha na liderança e cuja vitória era quase certa. Nos últimos dias de campanha, inclusive, já se falava na composição do secretariado.
Favoritos brigam, azarão se aproxima
Os ataques afetaram um pouco o favoritismo de Wan-Dall sem render aumento de votos a Beber. Já Décio Lima, que vinha de 8%, viu seu percentual crescer para 17% entre o início e o fim da campanha, motivado por um certo cansaço da população com troca de acusações entre as duas candidaturas mais fortes, pela atuação da militância e, segundo ele, por seu próprio desempenho nos debates.
“Nós não ganharemos, mas ele também não…”
Mas houve um movimento, nunca anunciado publicamente, mas que quem vivia a política local ficou sabendo: diante da iminente derrota para o adversário Wan-Dall, um cacique do PMDB da cidade e apoiador da candidatura de Beber, passou a disparar telefonemas a militantes, cabos eleitorais e outros propondo que os votos fossem direcionados a Lima.
Uma desistência não oficial, portanto, que acabou tirando a vitória de Wan-Dall e garantindo a eleição de Décio de Lima com 68.951 votos.
Onde eles estão hoje
Wilson Wan-Dall – é um dos conselheiros do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC), do qual já cumpriu mandato de presidente. Foi deputado estadual por três vezes.
Décio Lima – reeleito prefeito após o primeiro mandato, foi também deputado federal. Ocupa atualmente a presidência do Sebrae nacional. Na eleição estadual de 2022, foi ao segundo turno, sendo derrotado por Jorginho Mello (PL).
Dalírio Beber – ocupou diversos cargos públicos, na prefeitura de Blumenau e no governo de SC, e cumpriu mandato de senador como suplente de Luiz Henrique da Silveira, falecido em 2015.

Prefeito quatro vezes consecutivas em duas cidades
Dário Berger é um caso raro de alguém que exerceu quatro mandatos consecutivos de prefeito, em duas cidades diferentes.
No pleito de 1996, Berger foi eleito prefeito de São José. Em 2000 foi reeleito. Nas eleições de 2004, Dário foi eleito prefeito de Florianópolis, sendo reeleito em 2008.
Foi também senador, candidato derrotado ao governo de SC, e derrotado a prefeito de Florianópolis em 2024.

Família Pavan: pai prefeito e filha prefeita
Ex-vereador, ex-governador, ex-senador, ex-deputado federal, ex-deputado estadual, Leonel Pavan construiu sua carreira política em Balneário Camboriú, onde foi vereador e prefeito por três vezes.
Em 2024, um novo desafio: concorreu e venceu a eleição a prefeito da vizinha Camboriú. No mesmo ano, sua filha, Juliana Pavan, também ex-vereadora, foi eleita prefeita de Balneário Camboriú, tendo o pai como colega de mandato na mesma região de atuação.

Apresentamos essas seis situações curiosas das eleições de santa Catarina, as mais conhecidas. Certamente, cada localidade tem as suas situações específicos, que entraram para o anedotário político local.
Marcio Martins
Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão