Uma charrete nas ruas de Jaraguá? Pai e filho chamam atenção no trânsito da cidade
Em plena Ilha da Figueira, pai e filho de bombacha revelam um sonho antigo que virou tradição.
Foto: Max Pires/JDV
Era fim de tarde no bairro Ilha da Figueira, aqui em Jaraguá do Sul. Entre carros, motos e buzinas que se apressavam no asfalto, uma cena improvável me chamou a atenção: uma charrete vermelha, puxada por um cavalo branco, conduzida por um homem de bombacha ao lado do filho pequeno, igualmente trajado com as vestes tradicionais gaúchas.
Não é uma cena que vemos todos os dias, não é mesmo? A curiosidade bateu e resolvemos ir atrás dessa história.
O homem é Alex Fernando Ramos, 32 anos, empresário no ramo de transporte e mudanças. Ao seu lado, o filho Davi Pedri Ramos, de apenas 8 anos, vive a experiência com olhos atentos e sorriso aberto. A cena chama atenção não só pela surpresa do contraste – ferraduras no asfalto em pleno 2025 -, mas também pela história que carrega.
Alex explica que a família é natural de Jaraguá do Sul, mas mantém forte ligação com a tradição gaúcha. Eles já tiveram a oportunidade de passear no Rio Grande do Sul, incluindo a charmosa Gramado, e guardam boas memórias dessas experiências. Mas o que mais despertou a admiração pela cultura campeira foi paixão por cavalos.

“A minha história vem de um sonho. Eu sempre amei cavalos e não tinha condições de ter um, principalmente pelo espaço. Mas queria tanto que fiz um “brick”, como a gente diz. Troquei uma roçadeira a gasolina que eu tinha por um cavalo velho. Esse cavalo ensinou tudo para nós. Eu não sabia nem botar cabresto, mas a gente foi cuidando, aprendendo, se apegando… e gostando cada vez mais”, relembra Alex.
Ver essa foto no InstagramConteúdos em alta
Do sonho ao rancho
Hoje, Alex vive com a esposa Caroline Cristina Pedri e o filho na Ilha da Figueira, onde mantém o Rancho Sonho Meu (@rsonhomeu). A rotina da família começa cedo:
“Acordamos, tratamos os animais, limpamos as cocheiras. No final do dia, andamos, vou no treino de laço e, às vezes, saímos para andar de charrete ou a cavalo”, conta.
A paixão também é compartilhada pelo filho. Para ele, o presente foi um pequeno pônei que chegou arisco, mas que virou docilidade com amor e cuidado.
“Achamos um pôneizinho para ele, que era bem ruinzinho. Mas a gente deu tanto amor, tanto carinho, que ele virou uma mansidão só. Hoje não se acha outro tão fácil. É o nosso queridinho, bagualzinho.”

A charrete como símbolo
Se a criação de cavalos e pôneis dá sentido ao rancho, a charrete é o símbolo mais visível dessa ligação com a tradição. Em 2025, no asfalto da Ilha da Figueira, ela se torna uma cena quase cinematográfica: o contraste entre a pressa urbana e a lentidão de quem ainda encontra sentido em segurar as rédeas e sentir o som das ferraduras no chão.
“Foi medo, alegria e muita emoção na primeira vez que saí de charrete com meu filho”, recorda Alex. O passeio chamou a atenção também de quem passava: “Um senhor parou e disse: ‘nossa, que lindo, faz muito tempo que não vejo uma charrete, ainda mais pequena’”.

A família hoje não se imagina mais sem os cavalos. “Acredito que não ficaríamos mais sem eles. Nós três adoramos…”, resume Alex. Para ele, o maior valor desses momentos é o que transmite ao filho: respeito pelos animais, a simplicidade da vida no campo, mesmo dentro da cidade.
E o futuro? Alex sonha alto: “Conquistar uma fazenda e poder ter muito mais qualidade de vida para os nossos animais.” Ele também gostaria de ter um boi e viver ainda mais a rotina no campo na prática.

Resistência cultural no coração da cidade
Na cena simples da charrete no asfalto, cabem várias “Jaraguás”. A cidade moderna, industrial e tecnológica também guarda no cotidiano as marcas da tradição campeira. Entre buzinas e celulares, um cavalo, um pai e um filho lembram que nem toda pressa é necessária – e que algumas paixçoes precisam ser mantidas vivas.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.