Cidade de SC foi a primeira a ter votação 100% eletrônica
Primeiro modelo de urna para uma eleição municipal 100% eletrônica no Brasil Foto: TRE-SP
Você sabia que a primeira cidade brasileira a usar um sistema de votação 100% eletrônica foi Xaxim, no oeste de Santa Catarina? Esse marco aconteceu em 1994, bem antes do que a maioria imagina. Edemar Luiz Matiello se tornou o primeiro prefeito da América Latina eleito por meio do voto informatizado.
Naquela época, ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já acreditavam na praticidade e precisão das urnas eletrônicas, mas a legislação ainda não as contemplava oficialmente, embora já existisse uma previsão na legislação eleitoral de 1932.
Fatalidade em Xaxim e novas eleições
A oportunidade para testar essa inovação surgiu com a necessidade de uma eleição extraordinária no município de Xaxim. Em 1994, o prefeito Alberto Angelo Sordi faleceu em um acidente de carro, e o vice-prefeito, Gilson Sorgatto, eleito deputado, decidiu não assumir o cargo, deixando-o vago. As urnas eletrônicas já estavam prontas, e o presidente do TSE daquele ano, ministro Carlos Velloso, tinha uma boa relação com o presidente do TRE-SC, desembargador Francisco Xavier Medeiros Vieira, o que possibilitou que Xaxim fosse escolhida para ser a primeira cidade a realizar uma eleição eletrônica no Brasil. A votação foi marcada para 12 de fevereiro de 1995.
O desafio: processo 100% informatizado
O TRE-SC deu uma orientação clara: “A eleição precisa ser 100% informatizada.” Foi então que os juízes da comarca, Artur Jenichen Filho (hoje desembargador no TJSC) e Betina Maria Maresch (também desembargadora), reuniram a equipe necessária. O Ilario Luiz Parizotto, que era escrivão judicial, passou a ser escrivão eleitoral. Ele já estava no Poder Judiciário de Santa Catarina desde 1969 e tinha ampla experiência no campo eleitoral desde 1984.
“Aproveitamos para realizar a transição para o novo modelo de título de eleitor. Íamos de Kombi para as comunidades mais remotas. Trabalhamos não só durante a semana, mas também aos sábados, domingos e feriados para dar conta. Foram tempos difíceis, mas também de muito aprendizado,” relembra Parizotto, em entrevista ao portal TJSC.
A verdadeira importância do momento foi percebida durante um intenso treinamento no TRE-SC, em Florianópolis, que durou uma semana. Parizotto lembra da grande expectativa para o dia da votação, mas o cuidado nos preparativos fez tudo acontecer de maneira impecável.
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Desafios da distância
“Em uma sessão eleitoral onde não havia internet, foram instalados oito quilômetros de cabos para garantir a participação de todos. Governantes de diferentes estados do Brasil acompanharam o evento, assim como autoridades e jornalistas de outros países. Nenhuma urna apresentou problemas, e, graças ao trabalho da equipe, deu tudo certo.”
No dia seguinte, os jornais do mundo inteiro publicaram que, ao contrário das filas de três horas que ocorriam nas eleições com cédulas de papel, agora a votação era tão ágil que cada eleitor levou apenas 59 segundos para escolher seus representantes. Em 39 minutos, o resultado estava pronto: os 12.204 eleitores escolheram Edemar Matiello para completar o mandato.
“Agora temos a certeza de que é possível informatizar o voto e eliminar fraudes. Para adotar o voto eletrônico, basta vontade política,” declarou o ministro Velloso aos jornalistas. No ano seguinte, 1996, 70 mil urnas eletrônicas foram usadas em 57 cidades brasileiras. Mais de 32 milhões de brasileiros – um terço do eleitorado da época – tiveram o primeiro contato com a tecnologia.
Edemar Luiz Matiello, primeiro prefeito da América Latina eleito por meio do voto informatizado, governou de 1995 a 1996 e teve como vice-prefeito Pedro Rui Rodrigues.
Parizotto se aposentou em 2008, após 42 anos de serviço no PJSC.
Marcio Martins
Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão
