Colunistas | 03/10/2025 | Atualizado em: 03/10/25 ás 17:55

Raízes de Schroeder: a construção de um município por colonizadores e imigrantes letos

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Raízes de Schroeder: a construção de um município por colonizadores e imigrantes letos

Acervo da Prefeitura de Schroeder/Setor de Cultura

Aninhado no nordeste de Santa Catarina, o município de Schroeder desvela uma tapeçaria histórica intrincada, tecida pelas mãos de colonizadores e pela singular contribuição de imigrantes letos. Sua trajetória, que se inicia sob a égide administrativa de Joinville nos séculos XIX e XX, é um testemunho da resiliência e da visão de pioneiros que desbravaram terras, estabeleceram comunidades e forjaram a identidade de uma região.

Este texto propõe uma imersão nas profundezas dessa história, desde os primeiros passos da colonização germânica e italiana, passando pela notável chegada dos letos, até a conquista da autonomia política e os desafios contemporâneos que moldam seu futuro, revelando as camadas de um passado que continua a ecoar no presente. Em um contexto mais amplo, a própria narrativa de Schroeder nos convida a uma reflexão sobre o desenvolvimento e a ocupação territorial, questionando os paradigmas que historicamente guiaram a construção de nossas cidades.

Jair Bridaroli, atual prefeito de Schroeder | Foto: Divulgação/Prefeitura Schroeder

A trajetória histórica de Schroeder: da colonização à emancipação

O município de Schroeder, situado no nordeste de Santa Catarina, ostenta uma história intrinsecamente ligada aos processos de colonização e imigração que moldaram a região do Vale do Itapocu. Sua gênese remonta ao controle administrativo exercido por Joinville (antigo Domínio Dona Francisca) sobre vastos territórios nos séculos XIX e XX, abrangendo localidades como Jaraguá, Guaramirim e Corupá.

Os primórdios da colonização e a formação dos assentamentos

A fundação de Schroeder é um testemunho da visão e do esforço de colonizadores pioneiros. Em 1894, Eduard Krisch, um colonizador austríaco, aceitou a proposta do pastor Wilhelm Gottfried Lange, um colonizador alemão, para demarcar uma rota que se estenderia do braço de colonização de Brüderthal até a Serra do Mar, na localidade do Salto do Bracinho. Krisch e sua equipe percorreram 32 mil metros, acompanhando majoritariamente o leito do Rio Itapocuzinho, para estabelecer o núcleo de assentamento.

Essa empreitada resultou na criação das estradas que viriam a ser conhecidas como “Schröder I” e “Schröder II”, designações que perduraram ao longo do século XX. Em 1901, colonizadores de ascendência germânica (pomeranos e alemães), provenientes de colonizações vizinhas e ligados à Igreja Evangélica de Confissão Luterana, adquiriram terras em Schroeder I. Eles se estabeleceram Mata Atlântica adentro, seguindo as margens dos rios Itapocuzinho e Braço do Sul, contribuindo para o povoamento da região.

No mesmo ano, o senador Wilhelm Köplin, outro colonizador influente, adquiriu terras na comunidade (hoje Prainha) e as doou às suas filhas, Helena Köplin (Gneipel) e Ana Köplin (Muller), consolidando a presença das famílias Gneipel e Muller na área. A infraestrutura inicial incluía, no rio Hern, uma serraria e uma tafona (moinho de milho) pertencentes a Jacob Pfleger, atendendo às necessidades da população.

A diversidade cultural: imigrantes e colonizadores

O início do século XX foi um período de efervescência cultural e social. O pastor Ferdinando Schlüzen, em 1906 e 1907, fundou as Sociedades Escolares Schroeder II e Schroeder I, respectivamente, sob a liderança do movimento Luterano. Antes disso, Léo Schulz já atuava como professor doméstico, alfabetizando as crianças dos colonizadores na língua alemã.

É crucial destacar a distinção entre os grupos que se estabeleceram na região. Enquanto a maioria dos grupos germânicos e italianos são categorizados como colonizadores, as pesquisas do historiador Ademir Pfiffer, autor da obra De Schroederstrasse a Schroeder (3 volumes), ressaltam a chegada de um grupo específico de imigrantes: os letos. No início do século XX, Schroeder I foi o palco do assentamento da imigração da Letônia, composta por indivíduos de origem germânica e praticantes da fé da Igreja Batista leta. Eles representaram o único grupo de nacionalidade leta a chegar à localidade como imigrantes.

Em 1913, novos colonizadores continuaram a adquirir terras, desenvolvendo infraestruturas como estradas e pontes, e expandindo as áreas de cultivo com a introdução de culturas de subsistência, como a cana-de-açúcar. Em 1919, colonizadores italianos, alguns nascidos na Itália e residentes em Luiz Alves, como a família Tomaselli, também se estabeleceram, contribuindo para o cultivo das terras e o funcionamento de serrarias.

Desenvolvimento econômico e a luta pela emancipação

O progresso de “Schröderstrasse” foi impulsionado por investimentos significativos, como a inauguração da Usina do Bracinho em 1931, que utilizava tecnologia alemã. A usina tornou-se uma força motriz econômica, complementada por iniciativas empreendedoras como as madeireiras Gneipel e Tomaselli, olarias (Obenaus, Gneipel, Klemann) e comércios de secos & molhados e armarinhos variados.

Foto: Celesc/Divulgação

A aspiração por autonomia política ganhou força nos anos 50. Apesar da vigilância durante a Segunda Guerra Mundial e da Campanha de Nacionalização da Educação, o senso político da comunidade, liderado por Engelbert Jurk, culminou na transformação do território em distrito pela Lei nº 424 de 31 de julho de 1959. Em 1960, a sede da intendência foi instalada sob o comando de Helmuth Moritz Germano Hertel. Pela Lei nº. 968, de 1º de junho de 1964, publicada no Diário Oficial em 6 de outubro de 1964, ocorreu a criação do município de Schroeder.

A conquista da autonomia e a sucessão de lideranças

A emancipação política de Schroeder foi finalmente alcançada em 1964, com a eleição do vereador Oswaldo Steilein para o legislativo de Guaramirim. Com o apoio de figuras como o vereador e empresário Arno Zimdars, Schroeder conquistou o status de município. A instalação da sede ocorreu em 3 de outubro do mesmo ano, com a presença do governador Celso Ramos e do presidente da Alesc, Ivo Silveira. Paulo Roberto Gneipel foi nomeado o primeiro prefeito, permanecendo no cargo até 14 de novembro de 1965, quando Ludgero Tepasse, o primeiro prefeito eleito, assumiu a gestão.

Ludgero Tepassé | Foto: Acervo da Prefeitura de Schroeder/Setor de Cultura

Prefeitos e vice-prefeitos de Schroeder

PeríodoPrefeito MunicipalVice-Prefeito Municipal
15/11/1965 a 31/01/1970Ludgero TepasseXXX
31/01/1970 a 31/01/1973Aldo Romeo PasoldGerhard Zastrow
01/01/1973 a 01/02/1977Ludgero TepassePaulo Roberto Gneipel
01/02/1977 a 01/02/1983Helmuth Moritz Germano HertelGerhard Zastrow
01/02/1983 a 01/01/1989Aldo Romeo PasoldAdemar Piske
01/01/1989 a 01/01/1993Ademar PiskeAdemir Fischer
01/01/1993 a 31/12/1996Hilmar Rubens HertelGregório Alois Tietz
01/01/1997 a 31/12/2000Gregório Alois TietzOsvaldo Jurck
01/01/2001 a 31/12/2004Osvaldo JurckOrlando Tecilla
01/01/2005 a 31/12/2008Felipe VoigtLuis Aparicio Ribas
01/01/2009 a 31/12/2012Felipe VoigtLuis Aparicio Ribas
01/01/2013 a 31/12/2016Osvaldo JurckMoacir Zamboni
01/01/2017 a 31/12/2020Osvaldo JurckAdriano Kath
01/01/2021 a 21/08/2023Felipe VoigtLauro Tomczak
24/08/2023 a 31/12/2024Lauro TomczakXXX
01/01/2025 a 31/12/2028Jair BridaroliAdriano Kath

Desafios contemporâneos e perspectivas futuras

Os primeiros anos de Schroeder como município foram marcados por desafios significativos, incluindo a infraestrutura rodoviária composta por estradas de chão batido, a carência de funcionários públicos qualificados e a ausência de equipamentos essenciais. A economia era predominantemente baseada no extrativismo vegetal e na agricultura de subsistência.

Atualmente, Schroeder busca reorganizar sua gestão pública, com foco em áreas vitais como Saúde, Educação, Cultura, Patrimônio, Turismo, Esporte e Lazer. A administração visa alinhar-se às políticas federais e estaduais, com ênfase na inclusão social e na excelência dos serviços. A conexão entre o passado e o presente é uma constante, honrando o legado dos colonizadores e imigrantes que construíram as bases do município, enquanto se projeta um futuro de desenvolvimento contínuo.

Considerações finais

A jornada de Schroeder, desde seus primórdios como um território sob a influência de Joinville até sua consolidação como município autônomo, é um eloquente exemplo da força transformadora da colonização e da imigração. A fusão de culturas, o espírito empreendedor dos colonizadores germânicos e italianos, e a singular contribuição dos imigrantes letos, que trouxeram consigo não apenas sua força de trabalho, mas também sua fé e tradições, pavimentaram o caminho para o desenvolvimento socioeconômico e cultural da região. Os desafios iniciais de infraestrutura e organização foram superados pela persistência de seus habitantes e pela visão de seus líderes, culminando na emancipação política que marcou um novo capítulo.

Ao contemplar o futuro de Schroeder, e o legado que as atuais administrações deixarão para as próximas gerações, é fundamental que a reflexão se aprofunde para além dos indicadores convencionais. Inspirados pelo pensamento de Ailton Krenak (indígena), compreendemos que a verdadeira sustentabilidade e o respeito ao patrimônio do imigrante e do colonizador só serão plenos quando inseridos em uma nova cosmologia. Esta cosmologia rejeita o “fim do mundo” proposto pelo desenvolvimento ilimitado e busca, ativamente, um combate à colonialidade em todas as suas manifestações urbanas e culturais.

Foto: Prefeitura de Schroeder/Facebook

Nesse sentido, o legado de Jair Bridaroli (2025-2028) não se medirá apenas pelas obras ou pela gestão fiscal, mas pela sua capacidade de guiar Schroeder em direção a um modelo de governança que honre as raízes históricas, valorize a diversidade cultural e promova uma relação mais harmoniosa com o território. A questão central é: como sua administração contribuirá para descolonizar o pensamento sobre o progresso, fomentando uma cidade que respeite seus múltiplos passados e construa um futuro onde a coexistência e a interdependência sejam os pilares, garantindo que as futuras gerações herdem não apenas uma cidade próspera, mas um modelo de vida que transcenda a lógica predatória do desenvolvimento, perpetuando os valores de resiliência e comunidade que sempre definiram Schroeder em uma perspectiva verdadeiramente sustentável e inclusiva.

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Ademir Pfiffer

Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais

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