Tanto faz | 29/10/2025 | Atualizado em: 29/10/25 ás 16:53

Os ônibus amarelos de filmes que rodaram em Jaraguá do Sul e sumiram com o tempo

Os dias em que cenas de filmes americanos invadiram as ruas de Jaraguá do Sul

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Os ônibus amarelos de filmes que rodaram em Jaraguá do Sul e sumiram com o tempo

Modelos como este chegaram em Jaraguá do Sul em 1996, doados por entidades internacionais. Para muitos, pareciam saídos de um filme. Foto: Pixabay

No meio da década de 1990, uma cena inusitada virou rotina em Jaraguá do Sul: ônibus escolares amarelos, iguais aos vistos em filmes e séries dos Estados Unidos, passaram a circular pelas ruas da cidade, transportando alunos da rede pública. O impacto visual e emocional foi imediato. Para as crianças, entrar naqueles veículos era como viver uma cena de cinema. Para os adultos, uma mistura de curiosidade e surpresa: afinal, como aqueles ônibus “de filme” vieram parar aqui?

Esses veículos, fabricados nos Estados Unidos e já com alguns anos de uso, foram doados por meio da Santiago Cancer Foundation, uma entidade norte-americana que, com a intermediação de políticos e consultorias internacionais, encaminhou centenas de unidades para diversas cidades catarinenses — entre elas, Jaraguá do Sul.

Jaraguá do Sul recebeu veículos em 1996, direto do Canadá

No ano de 1996, chegaram ao município cerca de 300 alunos a bordo de ônibus modelo Ford, ano 77, doados pela Cancer Foundation do Canadá. Cada unidade custou aproximadamente R$ 15 mil aos cofres públicos, valor destinado a taxas de desembarque, liberação alfandegária e seguro de viagem.

A entrega oficial foi feita na Expoville, em Joinville, com presença de representantes da entidade canadense e políticos locais. A intermediação do processo foi feita pelo então deputado federal Paulo Bauer, que assinou os convênios entre a fundação e a Prefeitura de Jaraguá do Sul.

Na época, o prefeito Durval Vasel ainda buscava a ampliação do convênio, com o objetivo de trazer ambulâncias equipadas com UTI móvel. “Nossa intenção é que os veículos cheguem ainda este ano. Estamos mantendo contato para que isso se defina o mais rápido possível”, declarou o prefeito na ocasião.

De filmes para a vida real: o fascínio dos “school buses”

A chegada dos veículos gerou grande comoção. Reconhecidos como ícones da cultura americana, os “school buses” vinham com estrutura robusta, cores vibrantes e formatos distintos — exatamente como os vistos em produções hollywoodianas. Isso mexeu com o imaginário coletivo: era como se a cidade tivesse sido palco de um filme ao ar livre.

O cenário se repetiu em outras cidades catarinenses, como Canoinhas, Papanduva, Três Barras, Capinzal e Timbó, onde ônibus, micro-ônibus, vans e até ambulâncias foram doados. As prefeituras firmaram acordos oficiais com a Santiago Cancer Foundation, aprovados por leis municipais e documentados em câmaras de vereadores.

Mas o sonho não durou: peças caras e manutenção impossível

Apesar do impacto cultural e simbólico, a realidade bateu à porta pouco tempo depois. Os ônibus, muitos com sete a dez anos de uso no momento da doação, começaram a apresentar problemas de manutenção. As prefeituras se depararam com um desafio imenso: a maioria das peças era importada, e os motores potentes — de seis ou até oito cilindros — consumiam mais e exigiam cuidados que as oficinas locais não estavam preparadas para oferecer.

Muitas prefeituras tentaram adaptar os veículos à realidade brasileira, trocando peças, alterando motores e fazendo reformas improvisadas. Mas os custos não compensavam, e aos poucos, os veículos foram sendo abandonados.

Hoje, é difícil encontrar vestígios desses antigos ônibus escolares. Eles desapareceram dos pátios escolares, sumiram das ruas e deixaram poucas pistas de seu paradeiro. Em alguns casos, foram desmontados; em outros, apenas esquecidos.

Legado inusitado: do transporte escolar ao turismo

Alguns exemplares resistiram ao tempo de forma criativa. Em Capinzal (SC), um antigo ônibus doado foi transformado em acomodação turística. A pousada American Bus Glamping reformou o veículo e o adaptou como uma espécie de chalé temático, preservando seu estilo vintage e evocando a nostalgia da época.

Como isso impacta sua vida?

Se você cresceu em Jaraguá do Sul nos anos 1990, talvez tenha sido uma das crianças que viveu a experiência de andar num ônibus “americano”, com cara de filme. Aquela sensação de euforia e novidade marcou uma geração. No entanto, a curta vida útil desses veículos mostra como boas intenções nem sempre se sustentam na prática.

O caso também serve de alerta para os desafios logísticos de receber doações internacionais sem planejamento de longo prazo. Jaraguá do Sul foi palco dessa experiência — que virou memória, curiosidade histórica e, quem sabe, inspiração para novos usos criativos desses ícones sobre rodas.

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Marcio Martins

Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão

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