Schützenfest anos 1990: memórias de quando uma banda alemã fazia a alegria nos “afters” da festa
Quem viveu a Schützenfest nos anos 90 deve lembrar: todo mundo curtia a festa e, depois, muita gente ainda partia para um “after” com quem quisesse estender a diversão madrugada afora. O endereço desse encontrinho? O lendário Gargamel Lanches, na Reinoldo Rau, onde uma geração inteira viveu noites que iam muito além dos pavilhões.
Ali se reuniam todas as tribos: jaraguaenses, turistas, pessoas das sociedades de tiro, integrantes das bandas alemãs que na época se apresentavam na festa e, claro, quem não queria que a noite acabasse.
Para nos ajudar a resgatar as histórias dessa época, conversamos com os jaraguaenses Zeca Jr., professor universitário e cronista, e Sandro Schünke, professor e radialista – apresentador do programa “Deutch Fest” na Nossa FM 99.9. Amigos, descendentes de alemães, e sempre muito envolvidos com a cena cultural da cidade, eles ajudavam a fazer acontecer a festa mais amada da cidade lá nos anos 1990.

O after da festa: lanche, música e memórias
“O Gargamel era o lugar onde as risadas se alongavam, os sotaques se confundiam e ninguém queria admitir que o dia seguinte já tinha chegado”, lembra o professor jaraguaense Zeca Jr.
Ele conta que costumava sair da Schützen direto pra lá, com o amigo Sandro Schünke e o tecladista Dirk Staubach (o Diego), da banda alemã Die Original Mottener – sim, aquela que criou o hino oficial da festa.
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A relação com a Mottener era especial. Entre 1991 e 1997, a banda embalou a Schützenfest com seu repertório autêntico. Além disso, Diego, por exemplo, morou um tempo em Jaraguá, e era casado com uma amiga deles, a Ivanize natural aqui de Jaraguá. Essa amizade deu margem para muitas outras, e todas atravessavam o palco e seguia pelas madrugadas no Gargamel, com direito a rituais únicos.

A tradição era tanta que o grupo tinha um espaço demarcado na frente do palco do pavilhão A, e ninguém ousava ocupar aquele espaço. Em 1996, Zeca deu ao amigo um pequeno crucifixo de madeira como lembrança.
“No ano seguinte, no último show da banda aqui, vi que ele estava usando o crucifixo. Foi muito emocionante.”
Com a presença dos músicos alemães, Sandro era o “intérprete oficial” do grupo. Nascido em Jaraguá, criado no bairro Czerniewicz, onde toda a família falava alemão, ele sempre esteve imerso nessa cultura. Acompanhava a Mottener do aeroporto à praia, do palco ao Gargamel.

Ele também guarda lembranças inesquecíveis, como o dia em que dois integrantes da banda tocaram no enterro de seu avô, no dia seguinte ao encerramento de uma edição da festa.
Para Sandro, a presença da Mottener em Jaraguá ia muito além dos shows. “Eles ficavam aqui por semanas. Muitos namoraram brasileiras, quatro casaram, três com jaraguaenses. Eles não eram artistas inalcançáveis. Faziam churrasco com a gente, iam pra praia. Até hoje temos contato. Muitos jaraguaenses foram pra Alemanha e foram recepcionados por eles lá. Foi uma irmandade verdadeira”, comenta.

A amizade e a tradição que ainda vivem
Apesar de hoje a festa estar muito maior, os relatos dos amigos mostram que a Schützenfest dos anos 1990 movimentava e conectava muito a comunidade; e ia muito além de um evento no Parque Municipal. Era uma experiência que invadia a cidade, criava laços, formava amizades improváveis e deixava marcas que duram décadas.

A cidade também se mobilizava para receber os músicos. Empresários locais organizavam churrascos, passeios, confraternizações informais.
“Era uma Jaraguá mais comunitária, todo mundo se ajudava. A Schützen era um acontecimento da cidade inteira, não só de quem ia ao baile”, destaca Zeca.

Ele ainda lembra que, na época, a internet não era algo comum. Não havia grupos no WhatsApp ou mensagens instantâneas. As coisas eram combinadas pelo telefone fixo, e isso tornava cada encontro ainda mais especial. Como na vez em que ele e os amigos do grupo de jovens da igreja decidiram ir à Schützenfest com touca de natação e óculos, só para chamar atenção. “Acho que mais marcante que isso, impossível pra época”, brinca.
Em meio a tantas histórias e lembranças, uma figura era central para Zeca: sua amiga Ivanize, que foi casada com o tecladista Diego, e que já é falecida. “Se eu pudesse voltar no tempo, queria mais uma noite com a Ivanize, minha amiga que partiu, com a banda tocando e a gente rindo no Garga”, diz ele.

Como isso impacta sua vida?
A história dos afters da Schützen não é só uma viagem nostálgica: é um lembrete do poder da convivência, da cultura e das conexões humanas. Em tempos de eventos cada vez mais “instagramáveis”, lembrar do que realmente fazia uma festa ser memorável pode ser um convite para resgatar o que há de mais genuíno na tradição.
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.