O Hindenburg em Santa Catarina: tecnologia, propaganda e diplomacia nazista no Sul do Brasil em 1936
Foto 1: Arquivo | Foto 2: Ivo Kretzer
Em 1º de dezembro de 1936, a cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, testemunhou um evento extraordinário: a passagem do dirigível alemão LZ 129 Hindenburg. Este acontecimento, que na época causou espanto e entusiasmo, foi muito mais do que um feito da engenharia aeronáutica; ele se inseriu no contexto da propaganda nazista e das relações diplomáticas entre a Alemanha e o Brasil, em um momento crucial antes da Segunda Guerra Mundial.
O resgate histórico desse momento, impulsionado pelo trabalho de pesquisadores locais como Ivo Kretzer, revela a importância das colônias alemãs no Sul do Brasil para o regime de Hitler.
O Hindenburg: símbolo de tecnologia e propaganda
O Hindenburg, o maior dirigível já construído, representava o auge da engenharia alemã. Para o regime nazista, ele era uma poderosa ferramenta de propaganda, ostentando a suástica em sua cauda durante seus voos transatlânticos.
A passagem sobre Jaraguá do Sul fez parte de uma “tour” de exibição na América do Sul, com o Rio de Janeiro sendo um de seus destinos regulares. Em Santa Catarina, a aeronave de 245 metros de comprimento, que voava baixo e em silêncio, foi um evento inédito e inesquecível, sendo descrita pelos moradores como “enorme” e “majestosa”.
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A exceção da suástica no Brasil
Apesar de ser um instrumento de propaganda nazista, a excursão do Hindenburg no Brasil precisou seguir as regras internas do governo de Getúlio Vargas.
É um fato histórico notável que, ao sobrevoar as colônias alemãs no sul do país, o Hindenburg não ostentava o emblema da suástica. Esta restrição decorreu de uma política do governo brasileiro de Getúlio Vargas, que proibia a exibição de símbolos políticos estrangeiros em território nacional. Embora a proibição formal de agremiações políticas estrangeiras (como o Partido Nazista no Brasil) só tenha ocorrido mais tarde, em 1938, durante o Estado Novo, a política de nacionalização e coesão nacional já estava sendo imposta, forçando o regime alemão a recuar nesse aspecto de propaganda visual.
O telegrama diplomático e as colônias alemãs
O significado político da visita foi formalizado por um telegrama enviado do dirigível para o Governador do Estado de Santa Catarina.
O emissário da mensagem era Arthur Schmidt-Elskop (1875-1952), que serviu como embaixador alemão no Brasil de 1933 a 1937. Embora o Diário Oficial do Estado tenha registrado a assinatura como “Schmidt Elsopk, Embaixador da Allemanha”, tratava-se de Schmidt-Elskop, que havia sido elevado ao posto de embaixador em 1936.
O telegrama, datado de 30 de novembro de 1936, fazia questão de enviar saudações cordiais especificamente às “colonias alemãas ahi residentes” no Estado. Essa saudação reflete a atuação de Schmidt-Elskop no Rio de Janeiro, onde monitorava ativamente as comunidades alemãs no Sul do Brasil e reportava positivamente sobre o potencial local.

O Trabalho de Preservação Histórica (Ivo Kretzer)
O resgate e a celebração da passagem do Hindenburg são creditados ao trabalho do Sr. Ivo Kretzer, morador de Jaraguá do Sul.
• Kretzer é o autor do lembrete que buscou celebrar os 90 anos do evento.
• Sua contribuição é guiada pela máxima: “Aquele que não registra os fatos, contribui para que a história seja consigo sepultada”.
• Ele foi fundamental para documentar e comparar o cenário histórico (foto do Zeppelin Luftschif Hindenburg) com o cenário atual, garantindo que o fato de 1936 fosse preservado na memória da cidade.
Considerações Finais
A passagem do Hindenburg por Jaraguá do Sul em 1936 é um episódio que transcende a curiosidade aeronáutica. Ele representa um momento de forte projeção do poder e da ideologia nazista sobre as comunidades de descendência alemã no Brasil. A documentação oficial, o telegrama do embaixador Arthur Schmidt-Elskop, e o contexto diplomático da época demonstram o interesse da Alemanha em consolidar laços com a população teuto-brasileira. Graças a pesquisadores como Ivo Kretzer, esse marco histórico, que antecedeu o trágico desastre do Hindenburg em 1937, permanece vivo, oferecendo uma janela para as complexas dinâmicas geopolíticas e culturais da década de 1930.
Ademir Pfiffer
Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais