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Bilhete para um amigo, para sempre Geraldo José

Trabalhei com ele por um período. Fomos concorrentes, mas jamais adversários. Dividíamos pautas, cobríamos as sessões da Câmara e da Acijs, as coletivas na Prefeitura, jogos e os principais acontecimentos da cidade e região

03/08/2021

Você não vai fazer o registro da morte do Geraldo José no impresso? Foi a cobrança que recebi da Odila, como uma intimação. Claro que sim! No JDV Digital, na sexta-feira, dia da sua morte fizemos o anúncio do falecimento de Rivadávia Paulo Rassele, nome de batismo que poucos sabiam, mas Geraldo José era o nome artístico recebido já em sua Porto União natal, onde começou no rádio muito jovem, depois em Blumenau e, posteriormente, em Jaraguá do Sul, onde estabeleceu-se e constituiu família com a Jeanete Thomsen, com a qual teve três filhos que lhe deram três netos.

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Geraldo tinha problemas de saúde, teve AVC, recuperou-se parcialmente, mas tinha alta taxa de diabetes. Esteve internado inclusive, no início de julho, e estava se recuperando. Faleceu em sua casa na madrugada de sexta-feira (30). O velório deu-se no sábado na Capela Jaraguá, no Centro. O corpo foi sepultado à tarde, no mausoléu onde estão os sogros Sérgio e Sílvia Thomsen.

Geraldo fez carreira no rádio e no jornal, fazendo sempre o que gostava. “Continuo fazendo o que gosto” era o seu bordão. Teve por décadas o jornal A Gazeta, cujas atividades encerrou há seis anos. Desde então recolheu-se, por opção própria. Ele chegou a Jaraguá do Sul pouco antes de eu ter iniciado no jornalismo, no Correio do Povo, em 1977.

Trabalhei com ele por um período. Fomos concorrentes, mas jamais adversários. Dividíamos pautas, cobríamos as sessões da Câmara e da Acijs, as coletivas na Prefeitura, jogos e os principais acontecimentos da cidade e região. O respeito era mútuo, afinal, o objetivo era um só: a informação. A busca da boa informação era na cara a cara, com gravador e o bloquinho.

Fazíamos parte da imprensa raiz, da busca na fonte, das memoráveis coberturas, no tempo em que até para conseguir telefone de linha era difícil. Começamos com a máquina de escrever, não havia computador. O telefone celular, quando veio, os famosos “tijolões” era para poucos. O fac-símile (fax) veio praticamente junto.

Quem tinha era um luxo. Vivemos juntos a transformação da cidade. Em todos os sentidos, seja político, cultural, esportivo e econômico. Acompanhamos e registramos os grandes eventos como Femusc, Schützenfest, festivais da canção e de dança, a construção da Scar, do Centro Empresarial, da Arena, do Lar das Flores, do Shopping e outros.

Convivemos com todos os grandes ícones da industrialização de Jaraguá. Registramos, também, a marca inédita alcançada pela WEG, o do milionésimo (um milhão) motor elétrico. Quantas décadas fazem? Quantos milhões de motores foram feitos desde então?

Por anos, fomos os únicos espectadores das sessões da Câmara, onde hoje é o Museu Municipal. Também na Acijs, todas as segundas-feiras, era a nossa “cachaça”, tempo de colocar os assuntos em dia e trocar informações, junto com o fotógrafo e amigo Flávio Ueta. Nunca tivemos dificuldades de diálogo franco e aberto. Até algumas confidências do dia a dia da cidade.

Registramos momentos bons e também tristes. Embora afastados de um contato mais próximo nos últimos anos, não diminuiu em nada a admiração um pelo outro. Os raros encontros após o encerramento das atividades do seu jornal eram sempre de alegria. De irmãos, como dizia. Irmãos do coração.

Mas, um dia tudo acaba. Uns vão antes, outros depois. Geraldo foi embora cedo, aos 73 anos. Poderia ter ficado mais. Poderia ter escrito as suas memórias, embora os registros jornalísticos do seu jornal estejam todos no Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul, para serem conferidos. As coleções são uma riqueza. Também temos as nossas no JDV, que valem ouro. Parte da história viva se foi, mas o que está escrito permanece.

E também as suas boas ações. É impagável a sua contribuição à cidade. Geraldo fez muitas boas ações nas entidades que sempre ajudou, voluntariamente. Perdemos não só um ícone da imprensa, mas um amigo, como lembrou Celso Nagel, que falou em nome dos colegas na despedida, no fechamento do ataúde, após a encomendação do corpo pelo Padre Hélio.

Esteja bem Geraldo José. Faço meu o teu bordão, eu continuo fazendo o que gosto: jornal impresso. Por teimosia e paixão. Até quando? 

Flávio José Brugnago

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