Economia

Empresária fabrica ferramentas há mais de 40 anos no bairro Rio da Luz em Jaraguá do Sul

“No começo eles falaram que eu não daria conta de fazer. E aprendi”, comenta a ferreira

29/04/2021

Ambiente escuro, muito quente e com barulho. Ferreiros com máscaras de solda e aventais sujos de poeira. Assim é uma ferraria. E o estereótipo descrito em filmes americanos é real. 

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Se encontrar um ferreiro hoje em dia é difícil, uma mulher é mais difícil ainda. E talvez – não querendo ser categórica -, mas a única mulher na profissão é Elia Hass, de 50 anos. 

A moradora do bairro Rio da Luz, em Jaraguá do Sul, começou na profissão ainda pequena, com os pais. “Fui criada pelos meus avós até os meus três anos. Depois fui morar com meus pais e desde pequena ajudava eles na empresa. Aos 15 anos, já fazia pintura e com 16, dirigia o caminhão”, comenta Elia que há mais de 40 anos atua na área. 

De acordo com a ferreira, ela aprendeu a fazer solda, afiar e a bater foice sozinha quando ficou sem os profissionais responsáveis por essas funções na empresa. “Hoje sei fazer de tudo”. 

Ela trabalha no mesmo horário que os três funcionários e brinca dizendo que trabalha até mais, pois de vez em quando, fica na empresa que é no mesmo pátio que a casa onde mora com o marido, o filho e os três cachorros, para terminar algum serviço ou adiantar alguma coisa. 

Preconceito

Se pensarmos nas profissões, existem aquelas que são tradicionalmente vistas como masculina e ferreiro é uma delas. Dessa forma, Elia comenta que no começo sentiu muito preconceito por assumir a função e a empresa, que toca desde 2000 quando o pai morreu. 

“No começo eles falaram que eu não daria conta de fazer. E aprendi. Quanto mais eu aprender, mais vou poder ajudar aqui dentro, pois nesse ramo é difícil encontrar alguém para trabalhar”, salienta. 

Ela lembrou, emocionada, que a mãe foi a pessoa que mais a incentivou a seguir a profissão dos pais. Ela morreu em 2020, vítima de um câncer. 

“Quando minha mãe ficou grávida, meu pai disse que tinha que ser menina, mas minha mãe disse que para esse ramo um menino seria melhor”. E o pai estava certo, pois mulheres são mais caprichosas, disse ela entre sorrisos e o olho cheio de lágrimas das lembranças da infância. 

Produção artesanal

A produção é feita em um galpão e é quase 100% artesanal. Ao entrar no lugar de piso de concreto se vê do lado esquerdo uma mesa onde é feita a solda para os machados. Na parte de trás, mais aos fundos próximo a uma porta lateral e janelas, ficam o forno de aproximadamente 300 graus onde as chapas brutas são coladas para serem moldadas.

O processo é feito na mão. Depois que sai do forno, a ferreira não tem muito tempo para bater na chapa e formar a foice antes que o material esfrie. Já frio, ele vai para uma lixadeira onde ganha corte. E por fim, para a sala de pintura onde ganha o acabamento final e o cabo em madeira. 

E mesmo em 2020, com a crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19, ela comenta que não parou. “A produção diminuiu, mas nunca parei. E quando ela diminui para mim é um fôlego para poder fazer mais peças de um produto”, afirma. 

Segundo Elia, tudo o que ela produz já está vendido. Dessa forma, não adianta bater em sua porta querendo uma ferramenta, pois ela não tem estoque.

“Produzo uma média de 2.500 peças por mês entre foices, machados, machadinhas”. 

Só para a agricultura de banana, por exemplo, são diversos tipos de foices. Tem foice para o corte da folha, para cortar o broto, para o corte da fruta e assim por diante. E quando perguntam quando ela pretende parar, a resposta vem um sorriso. “Vou trabalhar até quando eu tiver saúde”.

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