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Não seja transfóbico! Como fazer para não praticar transfobia e respeitar a identidade trans

A informação é a melhor arma contra o preconceito! Confira algumas dicas quando for falar sobre questões de gênero

29/07/2020

Uma polêmica envolvendo Thammy Miranda e a marca de cosméticos Natura repercutiu nas redes sociais nesta quarta-feira (29) após o ator divulgar que iria estrelar a campanha do Dia dos Pais de 2020 da empresa.

“As melhores lembranças q meu filho vai ter de mim, sem dúvidas, serão das coisas boas que vivemos juntos, seja brincando, sendo amigo, educando… É essa energia de presença, sendo companheiro, que vou continuar tendo com ele. Estar presente é o melhor presente! #meupaipresente”, disse Thammy na rede social.

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Em uma sociedade conservadora, a publicação rendeu comentários maldosos de pessoas que não gostaram da campanha ““A Natura acaba de perder um cliente, não vai ser eu q vou ficar olhando indiferente p essa bruta inversão de valores, e não me venha com essa babaquice de homofóbico”, criticou um internauta. 

Thammy Miranda, filho de Gretchen, e Andressa Ferreira são pais de Bento, que nasceu em março de 2020.

Transfobia se combate com informação!

Após perceber-se com um gênero diferente do que lhe foi atribuído ao nascer, uma pessoa transgênero passa a enfrentar uma verdadeira luta para viver sua identidade. Especialmente no Brasil, onde casos de transfobia são recorde mundial.

Nos últimos oito anos, o Brasil matou ao menos 868 travestis e transexuais. Esses números nos deixa no topo do ranking dos países com mais registros de homicídios de pessoas transgêneras.

Apesar de assustador, os dados publicados pela ONG Transgender Europe (TGEu) não são uma novidade para essa parcela invisibilizada pela sociedade.

Isso porque é sabido que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos contra os 75 anos da população em geral, de acordo com o cruzamento de informações dos Dados da União Nacional LGBT e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

E como quebrar o tabu das questões de gênero? Simples! Selecionamos algumas informações para que você não pratique transfobia e passe a respeitar a identidade de uma pessoa trans. Vamos lá?

O que é identidade de gênero?

 

símbolo masculino e feminino cruzados e pintados com as cores da bandeira trans

Crédito: IStock/@itakdaleeIdentidade de gênero não é o mesmo que orientação sexual, você sabia? Há homens e mulheres trans que são heterossexuais

Identidade de gênero é como a pessoa se enxerga no espelho, seja como mulher, homem ou outra denominação dentro do espectro de gênero.

Pessoas que se identificam com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer são consideradas cisgênero ou cis, na abreviação. Por exemplo, se ao nascer o bebê é registrado como menino e ao longo da vida ele continua se identificando dessa forma, ele é um homem cis. Se essa pessoa não se identificar com seu sexo biológico, ela é transgênero ou somente trans.

Há também aqueles que não se identificam com nenhum gênero em específico. Essas pessoas são denominadas não-binárias, ou seja, não se identificam como homem ou como mulher.

Vale lembrar duas coisinhas: identidade de gênero não é uma ideologia e, muito menos, tem a ver com a orientação sexual de uma pessoa. Tanto pessoas cis quanto pessoas trans podem ser hétero, bi ou homossexuais.

Transexual x Transgênero x Travesti

  •  Transexual

Há um tempo, esse termo era usado para falar sobre pessoas transgênero mas caiu em desuso para não dar a impressão de que ser trans é uma orientação sexual.

  • Transgênero

Este termo é usado atualmente para abarcar as pessoas trans. Por exemplo: um homem transgênero é aquele que foi identificado como mulher ao nascer e passou a se reconhecer como homem, enquanto, da mesma forma, a mulher transgênero é aquela que foi designada homem ao nascer mas, na verdade, se identifica como uma mulher.

  • Travesti

Travesti é um termo mais comum no Brasil, na Espanha e em Portugal e já foi usado como xingamento transfóbico e também para denominar uma mulher trans que não desejava passar pelo processo de readequação genital, mas não se aplica mais. Hoje o termo travesti é comumente usado para empoderamento e resistência da comunidade.

A diferença entre as três denominações é de auto identificação. Caso esteja na dúvida e não quer cometer um ato de transfobia, use apenas o prefixo trans ou pergunte à pessoa como ela se identifica.

Meu corpo, minhas regras!

 

a cantora trans linn da quebrada usa maquiagem vermelha na boca e nos olhos, uma trança também vermelha, dentes dourados e uma unha perolada grande

Crédito: Vivi BacoA cantora e atriz Linn da Quebrada luta contra a transfobia em todos os seus trabalhos e afirma que ser travesti é um ato de resistência

Evite fazer perguntas sobre o corpo da pessoa trans, se já fez cirurgia ou hormonioterapia principalmente. Um homem ou uma mulher transgênero não necessariamente deseja mudar sua aparência ou genitais para se identificar com seu gênero, e questioná-los é desrespeitoso.

Transfobia é crime!

Apesar de transfobia e homofobia não serem a mesma coisa – um diz respeito à violência contra a identidade de gênero e o outro à orientação sexual – a criminalização da homofobia pelo STF, em junho de 2019, se estende a toda comunidade LGBT e também equipara atos transfóbicos ao crime de racismo. Nesta matéria aqui, explicamos como denunciar esse tipo de crime.

Mulheres trans e Lei Maria da Penha

Outra lei que protege as mulheres trans, em especial, da transfobia é a Lei Maria da Penha. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em maio de 2019, um projeto que inclui mulheres transgêneras e travestis na Lei de proteção à mulher.

A proposta altera um artigo da lei que diz “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião” não pode sofrer violência, incluindo o termo “identidade de gênero”. A proposta está parada na Câmara e especialistas preveem que caráter mais conservador dos Deputados será um obstáculo.

Entretanto, há casos de transfobia julgados como violência doméstica. Em maio de 2018, uma decisão inédita da Justiça do Distrito Federal indicou que os casos de violência contra mulheres trans podem ser julgados na Vara de Violência Doméstica e Familiar e elas devem ser abarcadas em medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha.

A linguagem é simbólica

desenho de uma mão segurando a bandeira trans em apoio a luta contra a transfobia

Crédito: IStock/@BaluchisAtualmente, a transfobia no Brasil é um crime equiparado ao racismo, assim como a homofobia

Não pense que tudo isso que listamos aqui é frescura! Nada disso, a linguagem é simbólica e respeitar essas diferenças é um grande passo para neutralizarmos a transfobia no Brasil.

É legal ressaltar também que não é crime você não saber algo – crime é atacar de forma preconceituosa a comunidade trans.

Tente se lembrar dos termos e do uso dos artigos corretos quando for conversar com uma pessoa transgênero, que tudo ficará bem!

Caso tenha dúvidas, pergunte a pessoa com quem está conversando ou se referindo como ela prefere ser chamada.

Fonte: Catraca livre

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