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Coluna: A incredulidade dos brasileiros com a pandemia

E o que significa na prática esse descrédito na letalidade da pandemia? É muito fácil constatar. Basta ver o comportamento descompromissado dos que insistem em fechar os olhos para os riscos de contrair a doença.

24/04/2020

Por Sônia Pillon

Estudo divulgado pelo Instituto Ipsos traz uma constatação preocupante. De uma lista de 15 países, o Brasil é o segundo em que a população acredita menos na eficácia do isolamento social para impedir a propagação da Covid-19.

A pesquisa on-line ouviu 28 mil pessoas, em países como Canadá, EUA, Itália e China. O primeiro da lista é a Índia, onde 56% dos entrevistados declarou não considerar a medida eficaz no combate ao Coronavírus. A Alemanha também aparece empatada com o Brasil, com 54% de incredulidade em relação à orientação #fiqueemcasa. Em terceiro lugar vem o México (50%) , seguido por Japão e Rússia (49%).

E o que significa na prática esse descrédito na letalidade da pandemia? É muito fácil constatar. Basta ver o comportamento descompromissado dos que insistem em fechar os olhos para os riscos de contrair a doença. Negam a mortandade assustadora, mesmo com as subnotificações, seja pela falta de exames, cruzamento de dados divergentes, ou ainda pelo fato das vítimas não terem recebido atendimento em hospitais. Portanto, muitos estão à margem das estatísticas, sem confirmação oficial da causa mortis por covid-19.

E apesar de todos os esforços em alertar sobre a importância de se ter uma postura responsável, adotando cuidados indispensáveis, como uso de máscaras, intensificação da higiene das mãos e distanciamento mínimo entre as pessoas, há os que preferem ignorar os fatos. E o que é pior, criticam e ridicularizaram os cuidadosos, que buscam não somente se prevenir, como também evitar que outros se contaminem.

E não adianta dizer que essa é uma doença que mata somente cidadãos debilitados, de idade avançada e com comorbidades, moradores de favelas e pessoas em situação de rua: todos os dias nos deparamos com a morte de profissionais da saúde e jovens saudáveis que sucumbem ao coronavírus.

os defensores de que velhos não produzem mais, e que portanto são fardos para os sistemas de saúde e suas respectivas famílias. Triste constatação, resultante de uma sociedade materialista que não valoriza o legado dos que tanto contribuíram na construção de tudo o que temos hoje. Merecem o nosso respeito, reconhecimento e consideração.

Recentemente, ouvi uma pessoa dizer que considera as restrições sanitárias atuais “um exagero”. Me disse que só utiliza máscara porque é “obrigada” e defende que somente idosos devem ficar isolados em casa. Para ela, tudo o mais deve ser liberado, sem restrição, por causa do impacto econômico. “Tenho uma outra visão”, disse ela. “Para mim, se a pessoa morre, é porque estava na hora de morrer”, disse, com espantosa frieza. “Isso é tudo política!”, complementou. Olhando por esse ângulo, se cuidar para que? Preservar os pais, avós e todos os demais seguindo as indicações preventivas para que? Bobagem! Se for a hora de “bater as botas”… Estarrecida, me contive para não iniciar uma discussão. Seria perda de tempo argumentar com quem tem essa “visão”…

E é por isso que vemos aglomerações em locais públicos e espaços privados. Devem se sentir sentir blindados. Os posicionamentos e informações antagônicas que circulam sobre a pandemia também confundem parte da população. O que vai acontecer? O tempo dirá…

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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