Colunas

Coluna: A queda do império

A legião romana ia seguindo em frente, puxada pelo centurião, que procurava manter a cabeça erguida para transmitir um resquício de segurança aos comandados. Uma segurança que nem mesmo ele sentia.

19/07/2020

Por Sônia Pillon

As sandálias de couro cru estavam gastas, com as tiras estouradas, e as pernas pesavam. Aliás, todo o corpo do centurião Krassus pesava. A noite era densa, mas apesar da lua cheia e das estrelas que brilhavam no céu, o moral dos soldados estava bastante abalado. Quilômetros e quilômetros de caminhada madrugada adentro e ainda dava para sentir o cheiro da morte que tomou conta da batalha…

A legião romana ia seguindo em frente, puxada pelo centurião, que procurava manter a cabeça erguida para transmitir um resquício de segurança aos comandados. Uma segurança que nem mesmo ele sentia. Na verdade, ele estava extremamente preocupado.

O general da legião ia bem mais à frente, e cabia a ele, como centurião, levar as fileiras da sua centúria até o próximo vilarejo.

A água tinha acabado e os mantimentos estavam racionados, e era urgente encontrar um rio com segurança.

Ah, como se sentia orgulhoso no dia em que ingressou no exército! Tanto poder nas mãos de Roma! Ele imaginava as glórias da carreira, os feitos heróicos, a liderança incontestável sobre os adversários, os bárbaros, que jamais conseguiriam alcançar, ou simplesmente abalar, o Império Romano!… Mas a realidade de agora era bem outra…

Os povos germânicos estavam cada vez mais fortalecidos, conheciam bem as artes da guerra, aprenderam não somente a se defender, mas também a atacar. E dos 100 soldados sob o seu comando, mais da metade haviam tombado no dia anterior. Soube que o mesmo estava acontecendo em outras regiões do vasto Império.

“Nós subestimamos o inimigo! Nos achamos superiores, não reconhecemos as qualidades do adversário, relaxamos, e estamos perdendo mais e mais territórios por causa da nossa arrogância!”, pensava Krassus. “Desse jeito, teremos a queda do Império Romano.”

Ao longe era possível avistar o leito de um rio, e ele ordenou que todos se reabastecessem de água e descansassem. Esticou as pernas e fechou os olhos. Estava exausto.

– Acorda, João! Já está na hora de se arrumar! Desse jeito você vai se atrasar para a escola!

– Mãe, você não vai acreditar! Estava sonhando que era um centurião romano! Fiquei tão impressionado com a aula de ontem, sobre a queda do Império Romano, que até me transportei pelo túnel do tempo…

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

Notícias relacionadas

x