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Coluna: O bobo da corte

Vestindo roupagem multicolorida, o espalhafatoso chapéu de guizos e carregando um saco nas costas, o bobo da corte finalmente chegou ao castelo de Jaga, no distante reino do Brail. Chegou chegando, como sempre fez, sorrindo e saltitando…

07/06/2020

Por Sônia Pillon

Vestindo roupagem multicolorida, o espalhafatoso chapéu de guizos e carregando um saco nas costas, o bobo da corte finalmente chegou ao castelo de Jaga, no distante reino do Brail. Chegou chegando, como sempre fez, sorrindo e saltitando, com  rápidos movimentos de cabeça, de um lado para o outro ao mesmo tempo. O som dos guizos balançando, aliado às caretas engraçadas e os pulos produziu o efeito esperado. Com suas habilidades e maneirismos de artista de rua, conseguiu com que o mais sisudo soldado da guarda real se rendesse e soltasse uma sonora gargalhada.

Satisfeito, o recém-chegado abriu um sorrisão e se anunciou. “Sou o bobo da corte Ibbarac, ou o bufão Ibbarac, como preferir… Nasci no feudo da Arga, depois comecei a percorrer os reinos próximos. Em cada um deles, sempre fui reconhecido pelas minhas criações, recebi muitas homenagens, e hoje chego aqui, nessa majestosa corte, para trazer alegria e entretenimento para todos!”. Imediatamente um emissário do rei apareceu, fez mais algumas perguntas e depois o conduziu à presença do rei.

Sempre foi assim. Desde muito jovem, essa foi a maneira que o bufão Ibbarac arranjou para ganhar a vida, abandonando a família e deixando tudo para trás quando se descobriu artista.  Além do talento para as artes, descobriu em si a habilidade da sedução, que utilizava em todos os momentos e que sempre abriu portas para ele.

Com olhar incisivo e hipnótico, era também hábil com as palavras. Procurava saber um pouco de tudo nos lugares onde visitava. Assim, costurava conversas com astúcia e dizia exatamente o que as pessoas queriam ouvir. Impressionava pela falsa erudição, pelo uso de palavras “difíceis”, quando a ocasião exigia.

A postura brincalhona e bem humorada, quase infantil, encantava as pessoas em suas apresentações, especialmente as crianças. Se portava igual a elas, como não iriam gostar? Causava simpatia, empatia, tinha carisma. Adorava uma plateia e os monarcas o adoravam.

Com as mulheres, era o mestre da sedução. Se transformava em um conquistador feroz quando se encantava com uma.  E nem precisava ser donzela… Bastava achá-la atraente, não importando a idade, ou estado civil da presa. Atacava com todas as armas disponíveis. O repertório de “xavecos” à moda medieval não tinha limites. O que importava para ele era a aventura, acima de tudo! Compromissos e regras? “Comigo, não!”, pensava. Definitivamente, não foi feito para levar a vida a sério.

Casou mais de uma vez. Sempre que as responsabilidades apareciam, esperneava. Mesmo apaixonado, nunca se entregava de verdade. O bobo, que de bobo não tinha nada, geralmente se aproximava das carentes. Recebia guarida até que a relação se desgastava. Aí ele pegava o saco, botava nas costas e partia novamente para o desconhecido.

E foi assim, de feudo em feudo, de castelo em castelo, com peripécias mil na bagagem, que o bufão Ibbarac aportou em Jaga, um pouco cansado de tantas aventuras e desventuras. Dizem que dessa vez foi para ficar. Será?

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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