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Coluna: Premiações do Oscar refletem os novos ventos da pluralidade

Sem dúvida, essa foi uma edição inclusiva. Em tempos de globalização, com tantas produções de qualidade, não há mais lugar para o isolacionismo cultural.

02/05/2021

Por Sônia Pillon

Muitos associam o Oscar ao glamour dos astros e estrelas do cinema no tapete vermelho, elencando o ranking dos melhores e piores modelitos da noite. É inegável que isso faz parte do jogo, e que a maneira como os cotados ao maior prêmio da sétima arte se vestem é um chamariz para milhões de telespectadores no mundo. Porém, acima de tudo, na 93ª cerimônia, a entrega das estatuetas mostra novos olhares nos critérios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Diferentemente de anos anteriores, em que um ou dois filmes venciam em diversas categorias. Sem dúvida, essa foi uma edição inclusiva, que premiou merecidamente os talentos em direção e atuação, como a produção sul-coreana “Minari”. Sinal dos tempos? Com certeza um reflexo das pressões para que sejam abarcadas películas que tragam o universo de um mundo globalizado, onde não há mais lugar para o isolacionismo cultural.   

E foram justamente os novos tempos que conduziram “Nomadland” conquista das premiações de Melhor Filme, Melhor Direção, para Chloe Zhao, a segunda mulher a vencer nessa categoria, e de Melhor Atriz à Frances McDormand. Aliás, a atuação dela é tão verossímil que a plateia fica com a sensação de estar realmente assistindo a história de uma nômade pelas estradas da América. De gente como a gente. Outro detalhe surpreendente é que esse longa-metragem é o menos lucrativo a ganhar o Oscar na categoria “Melhor Filme”. Porém, traz histórias repletas de humanidade, justificando a escolha.

Não cabe aqui analisar todos os prêmios da Academy Awards. A lista já foi devidamente repercutida ao longo da semana. Agora cada um elencará seus filmes preferidos para assistir, seja nos cinemas, ou nas plataformas de streaming.

Pessoalmente, entre vários premiados, destaco a conquista do Oscar de Melhor Ator para o veterano octagenário Anthony Hopkins, pela desafiadora interpretação em “Meu Pai”, de um idoso com Alzheimer do ponto de vista de quem sofre desse tipo de demência. É o mais velho vencedor de Melhor Ator. Ele fez questão de dedicar o prêmio à Chadwick Brosnan, que morreu de câncer em 2020 e teve indicação póstuma pela bela atuação em “A Voz Suprema do Blues”. Sem dúvida, uma atitude nobre de Hopkins.

Outros dois filmes que mechem na ferida do racismo estrutural norte-americano são “Judas e o Messias Negro”, que premiou Daniel Kaluuya como Melhor Ator Coadjuvante, e “Dois Estranhos”, como Melhor Curta-Metragem, esse último disponível na Netflix.

E para os nostálgicos que apreciam filmes rodados em preto e branco e querem conhecer os bastidores do roteirista Herman J. Mankiewicz, que escreveu o roteiro de Cidadão Kane, na década de 1930, a dica é assistir “Mank”, vencedor em “Melhor Fotografia” e “Melhor Design de Produção”, também encontrado na Netflix.

Aos cinéfilos, cabe agora escolher entre as diversas possibilidades da tela grande em 2021, para rir, chorar, se emocionar e até refletir sobre o cotidiano. Dessa vez, com os novos ventos da pluralidade.

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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