A primeira edição impressa do Diário Oficial de Santa Catarina (1934): um marco na transparência administrativa
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Em 1º de março de 1934, há pouco mais de 91 anos, era publicada a primeira edição impressa do Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, um instrumento que passaria a consolidar os atos administrativos, decretos, nomeações e demais decisões governamentais, lançando as bases para a transparência que hoje se fortalece com a digitalização do acervo. O estado vivia sob a liderança do Coronel Aristiliano Ramos, interventor federal nomeado pelo governo provisório de Getúlio Vargas, após a Revolução de 1930.
O documento inaugura uma nova fase na transparência administrativa e na organização do poder público catarinense, registrando de forma oficial os atos do governo e fortalecendo a institucionalização do Estado.
Hoje, essa trajetória de organização e divulgação da informação institucional ganha nova força com a criação do Sistema de Consulta ao Acervo do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina (APESC) — uma iniciativa voltada à democratização do acesso à informação e à preservação da memória do poder público catarinense.
Esse projeto é financiado pelo Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) e tem como objetivo a digitalização e disponibilização online de parte significativa do acervo histórico do Estado.
O que já está disponível no sistema
Edições digitalizadas do Diário Oficial do Estado entre 1934 e 2011
(Edições mais recentes estão disponíveis em: https://portal.doe.sea.sc.gov.br/)
Como funciona o sistema
O sistema opera na plataforma ATOM (Access to Memory), um software livre desenvolvido com apoio do Conselho Internacional de Arquivos (ICA), conforme padrões internacionais de descrição arquivística.
Conteúdos em alta
Destaques Governamentais e Administrativos
A edição de estreia é repleta de atos normativos e administrativos. Entre os principais:
- Decretos de Reorganização da Educação Pública, com criação de cargos, nomeações e reestruturação curricular nas Escolas Normais do estado;
- Reformulações orçamentárias e suplementações para pagamento de vencimentos e manutenção da máquina pública;
- Nomeações e exonerações em diversas áreas, com destaque para o ensino, a saúde e a justiça;
- Estatísticas atualizadas da educação, refletindo os avanços do estado no campo educacional.
Educação em Foco
Um dos eixos centrais da publicação é o forte investimento na educação, revelando a prioridade dada ao tema pelo governo estadual. Destacam-se:
- A ampliação do corpo docente nas Escolas Normais, com a criação de cargos de lentes substitutos (professores auxiliares);
- A reorganização do currículo escolar, com disciplinas como Português, Literatura, História Natural, Aritmética, Geometria, Francês, Alemão e Latim;
- Publicação de dados estatísticos do ano de 1933, demonstrando o alcance do ensino em Santa Catarina e seu crescimento em comparação ao ano anterior.
Essas ações posicionaram Santa Catarina como o segundo estado brasileiro com maior percentual de escolarização, conforme dados do Ministério da Educação da época.
Um Destaque Cultural: Antonieta de Barros
Um dos atos mais significativos do ponto de vista cultural é a nomeação da professora Antonieta de Barros como lente substituta da cadeira de Português e Literatura. Negra, escritora e futura deputada estadual, sua presença no Diário Oficial marca um passo importante na valorização da diversidade e da inclusão no espaço educacional catarinense.
Cultura, Imigração e Relações Internacionais
O conteúdo do Diário revela a multiculturalidade catarinense:
- A presença de línguas estrangeiras no currículo (como o alemão e o francês) mostra a forte influência dos imigrantes europeus na formação cultural do estado;
- Notícias da época destacam a abertura comercial com a Alemanha, mostrando a intenção de aproximar economicamente o estado de nações estrangeiras;
- O combate a epizootias (doenças animais) também indica o zelo com a saúde pública e o desenvolvimento do setor agropecuário.
A primeira edição do Diário Oficial de Santa Catarina é mais do que um registro técnico: é um documento histórico que reflete os rumos políticos, sociais e culturais de uma época de transição. Ela simboliza o esforço do governo em estruturar o estado sob os princípios de modernização, transparência e desenvolvimento social — especialmente pela via da educação.
Em resumo, a iniciativa do governo de SC de abrir o acesso ao Diário Oficial (desde 1934) visa:
- Aumentar a transparência das ações governamentais passadas;
- Preservar a memória institucional do estado;
- Fomentar a pesquisa histórica e acadêmica;
- Promover a participação cidadã informada.
Para os municípios, isso pode significar:
- Referência para a gestão e decisões atuais;
- Fonte para pesquisa histórica local, fortalecendo a identidade;
- Subsídio para políticas públicas municipais.
O cidadão poderá usufruir acessando o acervo para:
- Acompanhar a evolução de políticas;
- Fiscalizar ações passadas;
- Participar do debate público com informação;
- Exercer o direito à informação.
O Arquivo Municipal Eugênio Victor Schmöckel de Jaraguá do Sul tem o papel de:
- Ser um ponto de acesso e divulgação local;
- Oferecer mediação e interpretação dos documentos;
- Promover atividades educativas;
- Integrar informações com o acervo local;
- Colaborar com o governo estadual na disseminação.
Noventa e um anos depois, dando continuidade a esse legado de organização e divulgação da informação institucional, surge o Sistema de Consulta ao Acervo do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina (APESC) — uma iniciativa voltada à democratização do acesso à informação e à preservação da memória do poder público catarinense.
Ademir Pfiffer – Historiador
Ademir Pfiffer
Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais