Litoral Norte de SC terá praia ampliada com obra inédita no Brasil; entenda
Foto: Reprodução/Prefeitura de Itapoá
Itapoá, no Norte de Santa Catarina, vai receber uma das obras costeiras mais ambiciosas do país: o alargamento da praia com uso de areia retirada da dragagem de um canal. É a primeira vez que esse tipo de intervenção é feita no Brasil, e a promessa é de ampliar em pelo menos 30 metros a faixa para banhistas ao longo de 10 km da orla. O serviço foi oficializado em agosto e deverá depositar cerca de 6,4 milhões de metros cúbicos de sedimentos na costa.
A areia utilizada no projeto virá da dragagem do canal da Baía da Babitonga, que liga o estuário aos portos de Itapoá e São Francisco do Sul. No total, serão retirados aproximadamente 12,5 milhões de metros cúbicos de sedimentos. Parte desse volume será transportado para alto-mar, em uma área chamada “bota-fora”, e a outra metade será usada diretamente no engordamento da praia.
Esse volume é mais do que o dobro da obra realizada em Balneário Camboriú, que utilizou 2,5 milhões de metros cúbicos de areia extraída de jazidas submarinas para aumentar a faixa de areia da Praia Central de 25 para 70 metros. Em Itapoá, a estimativa é de ampliar em pelo menos 30 metros a faixa de areia, podendo ultrapassar os 100 metros em alguns trechos.
Investimento bilionário e impacto regional
A obra faz parte de uma Parceria Público-Privada (PPP) envolvendo o governo estadual e o setor privado. O terminal portuário de Itapoá vai investir R$ 300 milhões, enquanto o porto público de São Francisco do Sul vai aportar R$ 24 milhões. O valor será devolvido de forma parcelada até dezembro de 2037, cerca de 11 anos após o fim da obra.
A dragagem também vai permitir a entrada de navios maiores na região. Atualmente, o canal comporta embarcações de até 336 metros. Com a intervenção, esse limite passará para 366 metros, o que deve aumentar a competitividade logística dos portos catarinenses.
A obra também é estratégica para o Complexo Portuário da Baía da Babitonga, que responde por mais de 60% da movimentação portuária de Santa Catarina em tonelagem. O Porto Público de São Francisco do Sul, administrado pela SCPar, é o maior em movimentação de cargas do estado. Já o terminal privado de Itapoá, operando há 14 anos, ultrapassou a marca de 10 milhões de TEUs (unidades de contêineres de 20 pés).
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Além disso, está prevista a construção de um novo porto na cidade, que seria o terceiro da região e o oitavo em Santa Catarina. A obra, orçada em R$ 3 bilhões, será conduzida pela Coamo, maior cooperativa agrícola do Brasil.
Onde a praia vai mudar
O trecho que vai receber a nova faixa de areia se estende da região da Figueira até o Balneário Princesa do Mar, totalizando cerca de 10 km de intervenção. Itapoá tem atualmente a maior faixa litorânea de Santa Catarina, com 32 km de praia, e sofre com processos de erosão agravados pelas chuvas. Em agosto, a cidade chegou a decretar situação de emergência por conta dos estragos na orla.
Apesar da assinatura da PPP, o projeto executivo ainda está em fase de conclusão e deve ser finalizado nos próximos quatro meses. A liberação das obras também depende da autorização ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O cronograma definitivo será anunciado assim que os trâmites forem concluídos.
Críticas e alerta de especialistas
Embora vista como uma solução contra a erosão e uma estratégia de valorização turística, obras de engordamento de praia geram críticas entre especialistas. Estudos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontam que esse tipo de intervenção não resolve completamente os problemas de erosão e pode causar efeitos colaterais, como impacto nas praias vizinhas, turbidez da água e poluição do ar.
Pesquisadores defendem revisão nas normas e mais investigação sobre os impactos ambientais, especialmente em projetos de grande porte como o de Itapoá.
Como isso impacta sua vida?
Mesmo para quem está fora de Itapoá, a obra sinaliza um novo modelo de intervenção costeira no Brasil, com impacto direto no meio ambiente, na economia do turismo e na logística portuária de Santa Catarina. Moradores, turistas e empresários devem ficar atentos aos desdobramentos, especialmente em relação à segurança ambiental e à sustentabilidade a longo prazo.
Maria Eduarda Günther
Jornalista em formação na FURB, nascida em Jaraguá. Cresci entre filmes, livros e peças teatrais. Após criar conteúdo para redes socias sobre Formula 1 e esportes descobri a paixão por jornalismo e a área de comunicação. Nunca perco a oportunidade de conhecer novos lugares e novas histórias por ai.
