As torres que resistiram ao fim: o mistério de Itá, cidade submersa de SC

Imagine um grande lago calmo. No meio dele, duas torres emergem da água como se guardassem um segredo.
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Debaixo delas? Uma cidade inteira que desapareceu do mapa, mas nunca da memória. Bem-vindo a Itá, a cidade submersa de Santa Catarina.
A cidade que virou lago
No início dos anos 2000, Itá era uma cidade pequena e tranquila no Oeste de Santa Catarina. Com cerca de dois mil moradores e aproximadamente 200 casas, o município vivia seu cotidiano até que um grande projeto energético mudou seu destino. Por conta da construção da Usina Hidrelétrica de Itá, a cidade foi alagada, e sua área urbana original coberta por mais de 49 mil metros cúbicos de água.
Com o avanço das obras, toda a população precisou ser transferida para uma nova área, a cerca de cinco quilômetros do centro antigo. Ali foi construída, do zero, a chamada “nova Itá”. Um projeto urbanístico planejado, com infraestrutura moderna e organizado em etapas. As famílias receberam indenização e reassentamento, num processo que, apesar dos desafios, buscou garantir condições adequadas de recomeço para a comunidade.
Hoje, a nova Itá é uma das poucas cidades planejadas do Brasil. E embora muita coisa tenha mudado, o vínculo com a antiga cidade permanece vivo – especialmente por causa de um símbolo que resiste até hoje: as torres da antiga igreja.
Mas… e as torres?
Enquanto quase toda a antiga cidade foi demolida antes do alagamento, duas torres da Igreja Matriz de São Pedro permaneceram de pé. Elas seguem visíveis no meio do lago, com 15 metros acima da linha da água. Os outros 10 metros estão submersos.

O motivo para essa permanência nunca foi completamente explicado. Moradores contam que tentaram derrubar as torres com trator, cabo de aço, reza braba… nada deu certo. Cabo arrebentou, trator pifou. Coincidência? Mau presságio? Bom, tem quem diga que foi a maldição de um padre, que não era bem quisto na cidade.
Ele teria lançado uma maldição ao partir: “Um dia essa cidade será inundada”. Verdade ou não, a coincidência alimenta o imaginário popular — e dá àquelas torres um status quase mítico.
Hoje, elas são um marco turístico e histórico. Servem como ponto de visitação, símbolo de memória e também de curiosidade. O cenário é único: uma construção do passado que sobreviveu ao tempo, à água e à demolição.

A usina que mudou tudo
A Usina Hidrelétrica de Itá foi inaugurada em 1997. E como quase toda grande obra, veio com prós e contras. Por um lado, gerou 2,5 mil empregos diretos e 1,5 mil indiretos, movimentando a economia regional. Por outro, causou impactos ambientais sérios: desmatamento, perda de vegetação, animais silvestres sem resgate, árvores apodrecendo no fundo do lago e, claro, proliferação de mosquitos.
Segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), cerca de 1 milhão de brasileiros já foram impactados por obras desse tipo — e 70% nem viram a cor da indenização. Itá escapou dessa estatística: as famílias foram compensadas e reassentadas, o que infelizmente é exceção no país.

Hoje, as torres da antiga igreja de Itá são como guardiãs do que restou — ou como um lembrete de que nem tudo afunda junto com a cidade. A cena é surreal: no meio do lago, lá estão elas, firmes, desafiando o tempo, a engenharia e talvez até uma ou outra maldição.
Quer conhecer um pouco mais dessa história? Assista ao vídeo:
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.