Cotidiano | 03/12/2025 | Atualizado em: 03/12/25 ás 16:03

A obra-prima da arquitetura que transformou o Centro de Jaraguá do Sul em 1955 ainda hipnotiza quem passa

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A obra-prima da arquitetura que transformou o Centro de Jaraguá do Sul em 1955 ainda hipnotiza quem passa

Foto: Arquio/Reprodução

Em 2 de janeiro de 1943, Jaraguá do Sul recebia Hélio Westphalen, gerente do Banco Nacional do Comércio (Banmércio), para preparar a abertura da agência local. A inauguração oficial ocorreria dois dias depois, em prédio alugado na rua Marechal Floriano Peixoto.

Jaraguá vivia um momento de avanço: com cerca de 24 mil habitantes, destacava-se pela indústria, agricultura, comércio e infraestrutura em expansão.

O Banmércio, fundado em 1895 e reconhecido como um dos maiores e mais sólidos bancos do sul do país, com dezenas de filiais em operação e reputação construída sobre confiabilidade e bons serviços, enxergava em Jaraguá um ponto estratégico para sua expansão – e escolheu a cidade com olhos de futuro.

Uma proposta audaciosa em 1935

O primeiro contato formal com a instituição ocorreu em 1935, quando Bernardo Grubba convidou diretores do Banmércio a visitarem Jaraguá do Sul com o objetivo de conhecer o potencial econômico da cidade.

Comerciante, Bernardo era pai de Waldemar Grubba, primeiro prefeito após a emancipação de Jaraguá do Sul e que ocupou o cargo por mais duas vezes.

O convite foi aceito, mas a instalação da agência só se concretizou anos depois, durante o governo de Leônidas Cabral Herbster.

No coração da cidade, um terreno estratégico

Com a agência em pleno funcionamento e ganhos expressivos, o próximo passo foi consolidar a presença do banco em Jaraguá. Em 1947, o Banmércio adquiriu um terreno privilegiado, pertencente aos herdeiros de João Doubrawa, que havia sido intendente do então distrito de Joinville em 1926.

O lote ficava em uma das esquinas mais nobres e simbólicas da cidade, na confluência das ruas Marechal Deodoro, Marechal Floriano, Cel. Procópio Gomes de Oliveira e Getúlio Vargas.

história da chegada e inauguração do Banmércio em Jaraguá do Sul e seu impacto urbano
Avenida Getúlio Vargas década de 50 – Foto: reprodução Arquivo/edição IA

Do papel à realidade: nasce um gigante de concreto

Em abril de 1952, a construção do novo edifício foi oficialmente anunciada. O projeto, elaborado na sede do banco em Porto Alegre, previa uma obra moderna, robusta e funcional, compatível com a grandeza da instituição. A execução ficou sob responsabilidade da Construtora Meinecke Ltda., de Blumenau.

As obras iniciaram no ano seguinte e rapidamente alteraram a paisagem urbana de Jaraguá do Sul, que via surgir em seu centro um prédio à altura dos grandes conglomerados financeiros do país.

O edifício começou a se destacar mesmo antes de ser finalizado. Sua estrutura contava com colunas imponentes, vitrôs artísticos com desenhos geométricos, três acessos distintos e ambientes amplos para operações bancárias, salas administrativas e segurança reforçada. O prédio simbolizava o padrão de excelência do Banmércio — um banco cuja solidez o tornava referência em crédito, investimentos e confiança institucional em toda a região sul.

Inauguração: grandiosidade que encantou Jaraguá do Sul

A cerimônia de inauguração da sede própria do Banmércio, realizada em 18 de janeiro de 1955, foi um dos momentos mais marcantes da história recente de Jaraguá do Sul. A cidade, então com pouco mais de 27 mil habitantes, parou para presenciar o nascimento oficial de um edifício que materializava o progresso.

O evento contou com a presença de uma multidão e de figuras importantes, como o diretor Hermano Franco Machado, da matriz em Porto Alegre, e o consultor jurídico Dr. Manel Machado, vindo de Curitiba.

Diante da fachada imponente recém finalizada, Hermano destacou em discurso a relevância do banco e os vínculos históricos entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.

Na sequência, o prefeito Artur Müller foi convidado a abrir simbolicamente a porta da caixa-forte, gesto que selou a entrega do edifício à comunidade. Em nome do município, exaltou o papel decisivo do Banmércio no desenvolvimento regional e nacional. O encerramento das falas coube ao Dr. Arquimedes Dantas, que representando as classes conservadoras, enalteceu a contribuição do banco ao comércio, à indústria e à população jaraguaense.

O dia histórico teve desfecho à altura: os convidados seguiram para a sede do Baependi, onde foram recepcionados com taças de champanhe e uma churrascada festiva, selando em clima de celebração a chegada definitiva do Banmércio ao coração da cidade.

Hélio Westphalen, primeiro gerente Foto: Reprodução arquivo/edição IA

Uma fachada que ainda hoje impõe respeito

A nova sede não era apenas uma obra física: representava a afirmação de Jaraguá do Sul como cidade sólida, confiável e promissora. Sob a gerência de Adolpho Werneck Filho, a agência viveu um período de alta performance, com movimentação financeira que colocava Jaraguá em posição de destaque no sul do Brasil.

A fachada, praticamente inalterada desde então, ainda hoje impressiona quem passa pelo centro da cidade, seja pela simetria elegante, seja pela força simbólica que carrega.

O que aconteceu com o Banmércio?

Em 1972, o Banco Nacional do Comércio, fundado em 1895, deixou de existir após ser incorporado ao recém-formado Banco Sulbrasileiro, resultado de uma fusão entre três instituições gaúchas.

Após a intervenção federal de 1985, o Sulbrasileiro deu origem ao Banco Meridional do Brasil, que anos depois, em 1997, foi privatizado e adquirido pelo Banco Santander (que inclusive ocupou o prédio em Jaraguá do Sul), tornando-se o sucessor final dessa longa trajetória iniciada no final do século XIX.

Outro fator importante: o edifício é erroneamente citado em muitas fontes como sido construído pelo banco Inco, outra importante instituição, de origem catarinense, que operou na cidade. Mas as casas bancárias nunca tiveram ligação.

Correspondência interbancária com carimbo de Jaraguá do Sul Foto: ocolecionistaleiloes.com.br

Como isso impacta sua vida?

O prédio do antigo Banmércio representa um momento-chave da história de Jaraguá do Sul: quando a cidade atraiu investimentos de peso, fortaleceu sua economia e consolidou sua identidade urbana. Admirar essa construção é reconhecer que o progresso se escreve com decisões estratégicas, lideranças visionárias e marcos que resistem ao tempo, em concreto e memória.

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Marcio Martins

Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão

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