Cachorro resgatado após atropelamento transforma a vida de casal em Jaraguá do Sul
História real de adoção que mostra como o amor transforma vidas, a dele e a dos tutores.
Julia e Murilo com Joffrey, símbolo de amor, adoção e recomeço em Jaraguá do Sul.
Era um domingo qualquer quando o destino apareceu no feed de um casal jaraguaense. No perfil Me Adota Jaraguá do Sul, a foto de um cãozinho caramelo, de olhos tristes e pidões, parou o dedo da Julia de Castro Martins. Ao lado do marido, José Murilo de Goés Mário, ela sentiu “uma vontade imensa de conhecer ele e adotá-lo. Ele era tudo que sempre sonhamos”, recorda.
A coincidência parecia escrita: no “mapa dos sonhos de 2024” que Julia montara em janeiro, havia a imagem de um cão muito parecido, porte pequeno, caramelo dourado. Quando o post do Joffrey surgiu, foi como se um retrato antigo tivesse ganhado vida. “O olhar dele dizia muito: meigo, doce, tristonho e pedindo pra ser amado.”
Antes do encontro: dor, resgate e preparo para renascer
A história anterior do Joffrey passa pelo programa da prefeitura em parceria com a Fujama (Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente) e clínicas veterinárias. Resgatado após um atropelamento e abandono, ele chegou com fraturas, dor e uma tristeza que se via de longe.
A recuperação foi gradual, seguindo orientação de ortopedista: piso com tapete antiderrapante, passeios monitorados e, acima de tudo, muito carinho. Durante a estadia, a equipe incentivava a socialização com outros pacientes à espera de adoção, para facilitar a transição para um lar.
Segundo Cris Mazur, do perfil Me Adota Jaraguá do Sul, ele ficou cerca de dois meses até estar pronto para seguir. Quando veio a notícia da adoção, a sensação foi de “coração cheio e dever cumprido”, o mesmo desejo que tem por todos os animais do programa, enquanto lutam, dia a dia, por conscientização, castração e por manter os bichos longe das ruas, onde correm risco de atropelamentos, doenças e brigas.

O primeiro choque (e a primeira certeza)
No dia seguinte ao post, o casal foi à Clínica Bicho Urbano conhecer o cão da foto. O encontro cortou o coração. Joffrey estava muito magro, com metade do corpo raspada, usando cone e duas cicatrizes de cerca de 10 cm nas costas.
Conteúdos em alta
“Ao ver ele daquele jeito, ficamos balançados… Queríamos dar a ele uma nova vida, um renascimento, mas vinham dúvidas: conseguiríamos cuidar dele como precisava?”, conta Julia.
O apoio das veterinárias, de Cris e da equipe da Fujama foi decisivo: explicaram os cuidados, tiraram todas as dúvidas e garantiram que o cão estava pronto para seguir. “O Murilo me olhou e falou: ‘tu ainda quer ele, né?’ Eu respondi: ‘sim’. E ele: ‘eu também’.”
Primeiros dias: casa pronta, coração em obra
A chegada foi serena. Joffrey ainda usava o cone e não podia correr nem pular. Tapetes cobriram o piso; os passeios eram curtinhos; as escadas, proibidas. E, como se entendesse as regras, ele obedeceu desde o começo.
“Parecia que ele sabia o que não podia fazer por conta da cirurgia”, lembra Julia. Dia a dia, o casal via a cura aparecer de dentro para fora.

A adaptação do cão foi exemplar, e a dos tutores, um aprendizado amoroso. “Ele nunca fez uma arte sequer… era adulto, calmo, amoroso. Até achávamos que estava com dor por ser tão quieto.”
Com o tempo, o comportamento revelou um passado provável: o cão já parecia acostumado a cochilos no sofá, voltinhas de carro e a dormir na mesma cama. Difícil entender como alguém havia abandonado “um animalzinho tão incrível”.
Julia, por sua vez, sofreu com a ansiedade dos primeiros dias de trabalho longe dele. “Contava os segundos para voltar e ver o rabinho abanando.” A rotina ganhou três passeios diários, mantidos faça chuva ou sol. No intervalo do almoço, Julia começou a correr para casa só para um minipasseio do meio-dia.
Entre ajustes e idas e vindas, a convivência se firmou no simples: estar junto. “Nos primeiros dias, a gente sentava no chão para fazer companhia… unidos, mesmo desconfortáveis.”

Dois sinais ficaram na memória: o “sorriso” que Joffrey dava ao ver os tutores, mostrando apenas os dentinhos de cima, como fazia o antigo cão da família, e a data simbólica: oito anos de relacionamento, agora comemorados em três.
A vida hoje: um ranzinza carinhoso
Com o corpo curado, emergiu a personalidade que dá vontade de morder de amor. Joffrey é calmo e amoroso, mas também curioso, ligeiramente preguiçoso e muito faceiro. Reconhece os horários da casa, sabe quando é hora de passear ou andar de carro, e quando a família vai dormir.
É friorento e tem um armário de looks; vez ou outra solta suspiros rabugentos, especialmente se alguém fala alto perto da hora do soninho. Com humanos, é um gentleman; com outros cães, prefere ser filho único. Investiga cada barulho como um bom alerta doméstico, quer estar junto, mas com espaço próprio: se apertam demais, ele dá um empurrãozinho e reclama. Ah, e ronca e arrota como gente, quem convive jura que só falta falar.

A casa mudou: brinquedos espalhados, caminhas em todos os cantos, um quartinho para roupinhas, petiscos e remédios. Mais que isso, mudou a atmosfera: “Nossa casa se tornou de fato um lar. Somos mais unidos, felizes, responsáveis, e sempre incluímos o Joffrey nos nossos planos.”
O que o amor cura (e o que ele ensina)
Joffrey fez a família andar mais e ver menos telas: parques, trilhas, praia, tudo vira programa melhor quando tem focinho junto. “Antes de decidir para onde ir nas férias, pensamos em como incluir o Joffrey, ele faz parte da família e merece conhecer o mundo conosco.”
Nos dias pesados, a terapia é gratuita: um rabinho dourado abanando na porta. “Ele não se importa com a nossa roupa, com o dia no trabalho… ele simplesmente nos ama e nos vê como as melhores pessoas do mundo.” Julia transformou essa sensação em meta: “Seja a pessoa incrível que seu cachorro acha que você é.”

Há gestos silenciosos que dizem tudo: quando vê a tutora triste, Joffrey traz brinquedinhos e espera que ela tope a brincadeira. E, como todo bom “cão-do-tempo”, odeia chuva e ama sol: se o céu fecha, ele murcha; se abre, chega a dar pulos e latidinhos; pede para abrir a sacada e toma banho de luz.
Também tem manias docemente esquisitas: não destrói pelúcias e morde tão de leve que nem faz os bichos apitarem. O nome, Joffrey, veio com ele, referência a um rei loiro e baixinho de série de TV, e ficou, para não exigir mais uma adaptação.
O que mudou para sempre
Na balança do antes e depois, Julia é taxativa: “A adoção do Joffrey foi uma jornada de aprendizado, transformação e amadurecimento.” Foi entender o ritmo de cada ser e a força do carinho constante para reconstruir a confiança.
No fim, “não fomos só nós que demos uma nova chance a ele; ele transformou a nossa forma de ver o mundo, mais sensibilidade, gratidão e alegria.” E ficou uma certeza bonita de guardar na geladeira: “O cachorro certo não é o que queremos; é o que precisamos.”

Um recado para quem pensa em adotar
Se pudesse falar par alguém com desejo de adotar um amigo, Julia diria: “Se estiver com dúvida ou medo, adote mesmo assim. Você vai se surpreender e pensar: ‘por que não fiz isso antes?’. Eles nos ensinam sobre amor, superação, resiliência e gratidão. A adoção realmente transforma vidas.”
O casal já sonha com uma irmãzinha para o Joffrey. Não sabem quando nem como, só que, quando for para ser, ela vai aparecer, como apareceu ele.
Joffrey é mais um dos protagonistas da série “Meu Cachorro Tem História”, produzida em Jaraguá do Sul com apoio de tutores, ONGs e protetores independentes. Toda semana, trazemos aqui provas de que trás de cada adoção, há duas vidas que se reinventam: a do cão e a da pessoa que decide acolher.
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Ajude as ONGs e grupos de proteção animal a continuarem o excelente trabalho de proteção e acolhimento em Jaraguá do Sul e região. Você pode colaborar de várias formas:
- Ajapra (Associação Jaraguaense Protetora dos Animais): doações via Pix – CNPJ: 07.532.982/0001-01, doação de ração, fraldas, remédios e outros itens (confira as necessidades da ONG no Instagram: @ajapra_oficial);
- Gang dos Patinhas: doação via Pix – 8pix.gang@gmail.com. Saiba mais sobre a instituição pelo Instagram: @gangdospatinhas
- Focinhos Carentes: entre em contato e saiba mais pelo Instagram: @focinhoscarentes_poreles
- Bigodes e Ronrons: doação via Pix – grupobigodeseronrons@gmail.com. Saiba mais sobre a instituição pelo Instagram: @bigodeseronrons
Você também acompanhar e ajudar protetoras de animais independentes na cidade e região. Conheça algumas delas:
- Cris Mazur – rede de resgate da Fujama: @me_adota_jaraguadosulsc
- Digia Deretti de Moura: @digiaprotetora
- Rutinha Protetora Pet: @rutinhaprotetorapet
- Simone Protetora: @_simoneprotetora_
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Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.