[Opinião] Caí no jogo do tigrinho!
Marcelo Lamas conta como foi fisgado por um golpe com cara de aposta entre amigos
Parece fácil precaver-se. Os bancos, as autoridades e a imprensa estão sempre dando os alertas, mas não adianta, vem a tentação e a pessoa clica no link, passa a senha, faz o PIX ou acredita no dinheiro fácil, para nunca mais precisar trabalhar dez horas por dia.
Até cair, eu – assim como os outros – me achava safo e ligado no que poderia acontecer.
Eles são muito habilidosos. O cara me observou diariamente, no meu período de férias. Todos os dias eu frequentava o mesmo lugar que ele. Tenho um amigo que nas férias não usa cuecas. Não é o meu caso. Eu costumo usar minha pequena coleção de camisetas de futebol, do Grêmio, principalmente.
Lá pelo terceiro dia de conversas superficiais e cumprimentos protocolares, ele pediu licença, sentou-se comigo, enquanto eu comia e colocou um papel na minha frente. Sim! Eu caí no golpe do jogo do tigrinho analógico:
– E aí, Marcelo, vi que você gosta de futebol…
– Gosto sim! Já fui atleta.
Conteúdos em alta
– Que legal. Olha, aqui está a próxima rodada do Brasileirão.
O papel dele era um pedaço de folha A4, cortado com régua, e tinha a tabelinha feita em casa com os jogos do final de semana seguinte, impressos. Ele seguiu:
– Você e eu escolhemos os vencedores, quem acertar mais, ganha R$ 50,00.
E começou marcando o primeiro vencedor e me perguntou:
– Qual você quer? Faço essa aposta com todo mundo.
– O Inter vai ganhar.
– Ué, você vai a favor do seu rival?
– Não é o resultado que eu quero, mas é o que eu acho que vai dar.
E seguimos assinalando naquele bilhete. Quando cheguei em casa e recebi uma foto do papel rabiscado, percebi que tinha entrado naquela pirâmide. Não sou de jogos, o pocker, por exemplo, nem sei o que é.
Acontece que na segunda-feira, o cara me mandou um whatsapp:
– Bom dia, Marcelo! Você venceu nessa rodada. Na próxima, você começa escolhendo o vencedor.
O cara não estava ligado no meu histórico. Fui o único duas vezes campeão do bolão de futebol da firma. Não vou contar o meu segredo aqui. Mas para garantir, já fiz um bilhete da próxima rodada, e enviei para o meu pai. O velho Lamas era jogador de futebol, está no quadro de campeão na parede, faz os mesmos comentários da tv – só que antes – e passa o dia inteiro nos canais esportivos.
O cara da aposta, não disse que eu só poderia participar sozinho e também não sei quem são os outros dezoito sujeitos que jogam com ele – nem se existem.
Se eu receber o PIX da primeira rodada, vou até o final.
Parafraseando Millôr Fernandes (1923-2012): Quando se começa a duvidar de uma pessoa, já não há a menor dúvida.
P.S. Antes de enviar o e-mail com essa crônica, já haviam pingado dois PIX na conta do autor. Placar atualizado: 2 rodadas a zero.
Marcelo Lamas é cronista. Autor de Papo no cafezinho, Indesmentíveis, entre outros.
marcelolamasbr@gmail.com
Marcelo Lamas
Marcelo Lamas Cronista, autor de 4 livros. Sou gaúcho radicado em Jaraguá, há 3 décadas, porém, estou mais para jaraguaense, nascido no RS. Frio, doces, cafés, gatos, livros, futebol e Coca-Cola são as minhas preferências.