Cotidiano | 13/11/2025 | Atualizado em: 13/11/25 ás 15:05

Casal de Jaraguá larga casa e trabalhos para pedalar até a Patagônia

Casal de Jaraguá parte em jornada de 6 mil km de bicicleta.

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Casal de Jaraguá larga casa e trabalhos para pedalar até a Patagônia

Contemplação e silêncio no alto da montanha

Bruna de Moraes, de 35 anos, designer gráfica e ilustradora, e Rodrigo Tranquilo, de 45, músico, estão prestes a transformar um sonho em realidade. Moradores de Jaraguá do Sul, eles decidiram largar tudo para viver uma experiência que vai muito além do turismo. A missão: atravessar a América do Sul de bicicleta, com destino à Patagônia, acampando ao longo do caminho e vivendo com o essencial.

A jornada deve durar entre seis e oito meses e não tem data de retorno. Eles partirão com barracas, utensílios básicos e disposição para enfrentar o imprevisível.

Como tudo começou: do incômodo à decisão de partir

Casal ciclista com casa histórica ao fundo e vegetação de araucária
Cultura e paisagem da imigração no sul

“Sempre fizemos trilhas, camping e pequenos pedais, então a bicicleta já fazia parte da nossa vida. Mas a decisão de sair mesmo exigiu foco e coragem. Em dezembro passado, definimos que essa seria nossa prioridade. Começamos a recusar trabalhos longos e isso tornou tudo real”, conta Bruna.

Rodrigo completa: “Sonhos assim a gente sempre adia porque tem um projeto, um cliente, uma obrigação. Mas chegou uma hora em que dissemos: agora vai ser isso.”

“A gente está sempre comprometido com algo, e sonhos como esse acabam ficando pra depois. Quando começamos a dizer os primeiros ‘nãos’, foi como se abríssemos a porta da viagem. A sensação de que tudo estava mesmo acontecendo veio ali.”

Eles têm histórico com mochilão, acampamentos e viagens autônomas. Em 2021, o pedal entrou com mais força como forma de lidar com a pandemia. Desde então, passaram a explorar rotas regionais como o Circuito Vale Europeu e o Circuito das Araucárias.

Roteiro flexível e mochila enxuta

Casal ciclista sorrindo próximo ao rio em trilha rural
Bruna e Rodrigo compartilham alegria durante o trajeto

“A fase de pesquisa é deliciosa. A gente viaja antes de sair. Mas quando chega a hora de escolher, é difícil deixar tantas ideias de lado”, diz Rodrigo. A rota seguirá por Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina e Chile, com foco na Patagônia. Eles têm planos mais detalhados apenas para os primeiros dias.

Para montar o equipamento, pesquisaram muito em canais de cicloviajantes e testaram tudo em pequenas viagens. O objetivo é estar preparado para múltiplas situações e evitar perrengues evitáveis.

Viagem como espelho do relacionamento

“Qualquer projeto conjunto exige maturidade e companheirismo. Vamos nos apoiar muito quando a coisa apertar fisicamente ou emocionalmente”, diz Bruna. Segundo eles, a viagem é também uma oportunidade de criar memórias potentes juntos.

“A gente sabe que vão ter dias difíceis, de desgaste, de cansaço, de silêncio. E é justamente por isso que escolhemos fazer isso juntos. Porque confiamos um no outro pra lidar com os altos e baixos. É uma decisão de estar presente – com o outro e com a gente mesmo.”

A segurança é uma preocupação real. Eles estudaram as rotas, revisaram os equipamentos e vão manter contato frequente com amigos e familiares. Mas evitam gastar energia com o imprevisível: “Pro que a gente não pode controlar, não adianta sofrer por antecedência”, resume Rodrigo.

Conexões e reflexões

Casal ciclista no marco do Circuito Vale Europeu
Rota turística cicloturística de Santa Catarina

“Toda vez que a gente pedala com os alforjes, sentimos como a bicicleta desperta simpatia. As pessoas puxam conversa, oferecem ajuda. Isso gera um senso de comunidade muito bonito”, conta Bruna. Eles esperam viver muitos encontros e aprendizados ao longo do caminho.

No plano pessoal, esperam que o tempo longe das telas, somado ao esforço físico e à lentidão da bicicleta, abra espaço para reflexões internas. “A gente carrega muitas questões. Não temos respostas, mas queremos espaço para escutar o que esse tempo vai revelar”, diz Rodrigo.

Preparação física e rotina na estrada

Nos últimos três meses, passaram por acompanhamento com nutricionista e preparador físico. Fazem treinos três a quatro vezes por semana e ajustaram a alimentação. Durante a viagem, planejam pedalar de dia e descansar bem à noite.

A ideia é acordar cedo, tomar café, pedalar até a pausa para o almoço e seguir no restante da tarde. Hidratação constante, comidas leves e sono reparador são prioridades.

Como acompanhar o projeto

Eles já compartilham bastidores no Instagram @projetoandalento e planejam publicar vídeos no YouTube @andalento. Querem também manter uma newsletter e escrever relatos no estilo de diários de bordo.

A primeira parada será em Timbó, e o plano é cruzar Santa Catarina pela serra. O Natal e o Ano Novo devem ser celebrados entre Uruguai e Argentina, embora o destino exato ainda seja incerto.

O que ficou para trás

Ciclista mulher em estrada de terra cercada por mata atlântica
Pedal solo em meio ao verde da região sul

Como autônomos, não largaram um emprego fixo, mas precisaram encerrar contratos, cancelar projetos e abrir mão de rendimentos. Também venderam diversos itens, liberaram a casa e redistribuíram objetos pessoais. “A gente fica entre dois mundos: ainda não viajando, mas já fora da rotina antiga”, define Bruna.

O mais difícil, segundo eles, é estar longe de quem se ama. “Não estar presente em datas importantes ou quando alguém precisa da gente é o que mais pesa”, diz Rodrigo.

E depois?

“Se der pra continuar viajando depois, melhor ainda. Mas o foco é fazer essa jornada com presença e saúde. Queremos estar inteiros e abertos pro que vier”, afirma Bruna.

Números da viagem

Distância estimada: mais de 6.000 km pedalando

Tempo previsto na estrada: de 6 a 8 meses

Rota: Brasil, Uruguai, Argentina e Chile

Peso estimado das bagagens: cerca de 25 kg por bicicleta

Gastos diários: em torno de R$ 50 a R$ 75 por pessoa

Como isso impacta sua vida?

Mesmo quem não pretende pedalar até a Patagônia pode se inspirar com essa escolha. A jornada de Bruna e Rodrigo nos convida a refletir sobre o que é essencial, sobre a relação com o tempo e sobre o valor de viver com menos. Em um mundo acelerado, escolher desacelerar também é um ato de coragem.

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Max Pires

Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.

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