Casal de Jaraguá larga casa e trabalhos para pedalar até a Patagônia
Casal de Jaraguá parte em jornada de 6 mil km de bicicleta.
Contemplação e silêncio no alto da montanha
Bruna de Moraes, de 35 anos, designer gráfica e ilustradora, e Rodrigo Tranquilo, de 45, músico, estão prestes a transformar um sonho em realidade. Moradores de Jaraguá do Sul, eles decidiram largar tudo para viver uma experiência que vai muito além do turismo. A missão: atravessar a América do Sul de bicicleta, com destino à Patagônia, acampando ao longo do caminho e vivendo com o essencial.
A jornada deve durar entre seis e oito meses e não tem data de retorno. Eles partirão com barracas, utensílios básicos e disposição para enfrentar o imprevisível.
Como tudo começou: do incômodo à decisão de partir

“Sempre fizemos trilhas, camping e pequenos pedais, então a bicicleta já fazia parte da nossa vida. Mas a decisão de sair mesmo exigiu foco e coragem. Em dezembro passado, definimos que essa seria nossa prioridade. Começamos a recusar trabalhos longos e isso tornou tudo real”, conta Bruna.
Rodrigo completa: “Sonhos assim a gente sempre adia porque tem um projeto, um cliente, uma obrigação. Mas chegou uma hora em que dissemos: agora vai ser isso.”
“A gente está sempre comprometido com algo, e sonhos como esse acabam ficando pra depois. Quando começamos a dizer os primeiros ‘nãos’, foi como se abríssemos a porta da viagem. A sensação de que tudo estava mesmo acontecendo veio ali.”
Eles têm histórico com mochilão, acampamentos e viagens autônomas. Em 2021, o pedal entrou com mais força como forma de lidar com a pandemia. Desde então, passaram a explorar rotas regionais como o Circuito Vale Europeu e o Circuito das Araucárias.
Conteúdos em alta
Roteiro flexível e mochila enxuta

“A fase de pesquisa é deliciosa. A gente viaja antes de sair. Mas quando chega a hora de escolher, é difícil deixar tantas ideias de lado”, diz Rodrigo. A rota seguirá por Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina e Chile, com foco na Patagônia. Eles têm planos mais detalhados apenas para os primeiros dias.
Para montar o equipamento, pesquisaram muito em canais de cicloviajantes e testaram tudo em pequenas viagens. O objetivo é estar preparado para múltiplas situações e evitar perrengues evitáveis.
Viagem como espelho do relacionamento

“Qualquer projeto conjunto exige maturidade e companheirismo. Vamos nos apoiar muito quando a coisa apertar fisicamente ou emocionalmente”, diz Bruna. Segundo eles, a viagem é também uma oportunidade de criar memórias potentes juntos.
“A gente sabe que vão ter dias difíceis, de desgaste, de cansaço, de silêncio. E é justamente por isso que escolhemos fazer isso juntos. Porque confiamos um no outro pra lidar com os altos e baixos. É uma decisão de estar presente – com o outro e com a gente mesmo.”
A segurança é uma preocupação real. Eles estudaram as rotas, revisaram os equipamentos e vão manter contato frequente com amigos e familiares. Mas evitam gastar energia com o imprevisível: “Pro que a gente não pode controlar, não adianta sofrer por antecedência”, resume Rodrigo.
Conexões e reflexões

“Toda vez que a gente pedala com os alforjes, sentimos como a bicicleta desperta simpatia. As pessoas puxam conversa, oferecem ajuda. Isso gera um senso de comunidade muito bonito”, conta Bruna. Eles esperam viver muitos encontros e aprendizados ao longo do caminho.
No plano pessoal, esperam que o tempo longe das telas, somado ao esforço físico e à lentidão da bicicleta, abra espaço para reflexões internas. “A gente carrega muitas questões. Não temos respostas, mas queremos espaço para escutar o que esse tempo vai revelar”, diz Rodrigo.
Preparação física e rotina na estrada

Nos últimos três meses, passaram por acompanhamento com nutricionista e preparador físico. Fazem treinos três a quatro vezes por semana e ajustaram a alimentação. Durante a viagem, planejam pedalar de dia e descansar bem à noite.
A ideia é acordar cedo, tomar café, pedalar até a pausa para o almoço e seguir no restante da tarde. Hidratação constante, comidas leves e sono reparador são prioridades.
Como acompanhar o projeto

Eles já compartilham bastidores no Instagram @projetoandalento e planejam publicar vídeos no YouTube @andalento. Querem também manter uma newsletter e escrever relatos no estilo de diários de bordo.
A primeira parada será em Timbó, e o plano é cruzar Santa Catarina pela serra. O Natal e o Ano Novo devem ser celebrados entre Uruguai e Argentina, embora o destino exato ainda seja incerto.
O que ficou para trás

Como autônomos, não largaram um emprego fixo, mas precisaram encerrar contratos, cancelar projetos e abrir mão de rendimentos. Também venderam diversos itens, liberaram a casa e redistribuíram objetos pessoais. “A gente fica entre dois mundos: ainda não viajando, mas já fora da rotina antiga”, define Bruna.
O mais difícil, segundo eles, é estar longe de quem se ama. “Não estar presente em datas importantes ou quando alguém precisa da gente é o que mais pesa”, diz Rodrigo.
E depois?
“Se der pra continuar viajando depois, melhor ainda. Mas o foco é fazer essa jornada com presença e saúde. Queremos estar inteiros e abertos pro que vier”, afirma Bruna.

Números da viagem
• Distância estimada: mais de 6.000 km pedalando
• Tempo previsto na estrada: de 6 a 8 meses
• Rota: Brasil, Uruguai, Argentina e Chile
• Peso estimado das bagagens: cerca de 25 kg por bicicleta
• Gastos diários: em torno de R$ 50 a R$ 75 por pessoa
Como isso impacta sua vida?
Mesmo quem não pretende pedalar até a Patagônia pode se inspirar com essa escolha. A jornada de Bruna e Rodrigo nos convida a refletir sobre o que é essencial, sobre a relação com o tempo e sobre o valor de viver com menos. Em um mundo acelerado, escolher desacelerar também é um ato de coragem.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.