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Coluna: A despedida do riso

Ele vinha sempre à noite, ansiosamente aguardado, mas não tive o privilégio de conhecê-lo. Deve estar arrancando gargalhadas e aplausos em outra esfera.

07/08/2022

Desde pequena me acostumei com a presença dele na minha casa. Ele vinha sempre à noite e era ansiosamente aguardado. A gente se reunia na sala e quando ele chegava, era uma alegria só!  Era um dos poucos momentos em que a família se juntava no sofá para o assistir vestindo aquelas roupas coloridas, extravagantes, e contar aquelas piadas que faziam a gente se contorcer de tanto rir. Era impossível não soltar gargalhadas com aquela figura bizarra e carismática, que sabia provocar o riso como ninguém. Tinha um humor fino, inigualável! Por isso o “Gordo” era tão esperado no nosso Lar, Doce Lar!

Falando assim, com tanta intimidade sobre ele, até parece que o conheci pessoalmente, mas não! Infelizmente, não tive o privilégio de ficar cara a cara com ele. A entrada na nossa morada era sempre através da “caixa mágica”, entende? Naquela época, ainda tínhamos o velho televisor P&B. E mesmo com uma tela entre nós e ele, o sentíamos muito próximo.

E assim fui crescendo e descobrindo seus múltiplos talentos: um multimídia, como se diz. Humorista, dramaturgo, ator, diretor, jornalista, escritor… Aquele homem culto, que dominava seis idiomas, era ao mesmo tempo refinado e simples. Acima de tudo, uma pessoa que valorizava a essência do ser humano.

Foi pioneiro do gênero talk show no Brasil, de 1988 a 2016. Somando os períodos do SBT e da Globo, realizou 14 mil entrevistas, “do Presidente da República ao engraxate”, conforme palavras dele. Detalhe: com o mesmo respeito e valorização para cada um dos entrevistados. Ouvia e mostrava as particularidades, as histórias de vida de cada um.

Arrogância e soberba eram palavras que não existiam no dicionário dele, que sempre tratou igualmente e com cordialidade todos os que o rodeavam.

Hoje é comum encontramos pseudo-profissionais em diversas áreas do entretenimento (especialmente pseudo-humoristas, de humor raso, grotesco) e celebridades instantâneas. Mas não há como comparar com a genialidade do Gordo Mais Amado do Brasil!

A despedida do riso está fazendo o país chorar. Reverberam lembranças, imagens de um artista completo, original, inigualável.

Vá em paz, Jô Soares! Com certeza você agora está levando alegria em outra esfera e continuará recebendo muitos aplausos!

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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