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Coluna: Cuidados sim! Julgamento jamais!

Crescem os casos de ansiedade, depressão e agressividade que, em parte, foram agravados pela pandemia. Acolhimento dos alunos e parceria com as famílias são fundamentais para o diagnóstico e o encaminhamento.

06/07/2022

Saúde mental em Crise

Ao longo de dois anos de isolamento social, muitas pessoas começaram a apresentar ou viram crescer manifestações de problemas emocionais. No que diz respeito aos estudantes, a volta às aulas presenciais não funcionou como solução para os problemas, como muitos imaginavam. Em muitos casos, a dificuldade em lidar com os colegas e com os professores, a pressão pela recomposição de aprendizagens e outras questões relacionadas à pandemia até mesmo agravaram a situação.

Em todo o país, são muitos os relatos de pais e professores que demonstram uma preocupação crescente com o comportamento e a saúde mental dos jovens. A pesquisa Situação Mundial da Infância 2021 – Na minha mente: Promovendo, protegendo e cuidando da saúde mental das crianças (disponível em inglês)do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aponta que, no mundo, mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre dez e 19 anos vivem com algum transtorno mental diagnosticado.

Gustavo Estanislau, psiquiatra da infância e da adolescência, pesquisador e membro associado do Instituto Ame Sua Mente, explica que, até os oito anos de idade, as questões mais comuns estão relacionados à agitação e à impulsividade.

Já nos adolescentes, a percepção sobre si mesmo e a relação com o mundo é mais complexa. Eles dão bastante importância para a vida social e a opinião dos pares e percebem a vida e a morte de um modo mais elaborado do que as crianças. Nessa fase, aumentam os casos de ansiedade, depressão e comportamento destrutivo, como o bullying, e autodestrutivo, como a automutilação.

Quando não estão bem, os sinais mais comuns são problemas com sono, alterações no padrão de alimentação (comer pouco ou em excesso), mudança no comportamento (mais agitado ou muito mais lento), medos excessivos, aparente regressão no desenvolvimento (medo de separação da mãe e dificuldade para realizar tarefas que já fazia, por exemplo), isolamento, pessimismo, queda no rendimento escolar e queixas físicas – estas costumam ser avaliadas por outros médicos, mas não se chega a um diagnóstico.

Pandemia e o que há de novo no comportamento dos estudantes

Infelizmente, questões emocionais sempre afetaram (em menor ou maior grau) a humanidade. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), metade de todos os problemas de saúde mental começa até os 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. Soma-se a isso o fato de que a pandemia de Covid-19 trouxe uma série de novas experiências, como medo de contágio, luto social, isolamento por tempo indeterminado e impactos na renda familiar e nas condições de vida, que intensificaram essa situação.

Na volta ao ensino presencial, muitos educadores perceberam os estudantes mais agressivos e indisciplinados. Segundo Gustavo, uma série de interrelações com a pandemia pode explicar esse quadro. Para começar, as pessoas reagem de modo diferente ao estresse causado por uma situação catastrófica, e algumas delas ficaram mais reativas e impulsivas. “Estamos vivendo uma retomada complexa e cheia de desafios que geram em muitas pessoas uma sensação de fracasso, o que, por sua vez, causa a necessidade de extravasar a chateação”, afirma. “Além disso, um dos sintomas da depressão, que está aumentando nos últimos anos, é a agressividade. ”

Outro aspecto que deve ser observado, principalmente pelos professores, é que os alunos passaram muito tempo em casa e esqueceram de uma série de regras sociais e escolares que já estavam assimiladas. “O afastamento por dois anos faz com que os adolescentes questionem, direta ou indiretamente, o papel social da escola de forma mais veemente”, completa o psiquiatra.

Pressão para atingir resultados

Além das questões emocionais, as escolas têm se preocupado bastante com a recomposição de aprendizagens. Nesse contexto, aspectos do processo de ensino e aprendizagem, como as avaliações, podem pressionar os estudantes e causar reflexos negativos.

”Essa pressão em nada contribui para o necessário acolhimento de crianças, adolescentes e jovens que viveram intensamente o isolamento social e a privação de trocas e aprendizagens de várias naturezas”, comenta Thereza Paes Barreto, diretora pedagógica do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). Ela aponta que a cobrança excessiva pode provocar desinteresse, descrença na própria capacidade de aprender e, por consequência, desengajamento.

A tendência do aumento das taxas de evasão já se confirma em vários estados brasileiros e se torna um grande desafio para as escolas garantir que os estudantes não apenas retornem e permaneçam na escola, mas, sobretudo, que se engajem na própria aprendizagem.

Ações para promover a saúde emocional dos alunos

Em Pernambuco, os casos de ansiedade nas escolas estaduais acenderam o alerta de que era preciso investir na escuta acolhedora de todos os estudantes e, em alguns casos, no encaminhamento para atendimento psicológico especializado. Gestores e professores receberam uma formação sobre questões socioemocionais e participam de palestras sobre o tema. Uma rede de proteção que envolve vários parceiros também começou a atuar diretamente nas escolas para dar apoio quando necessário. Fazem parte dela a Secretaria de Saúde, por meio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), o Conselho Tutelar e a Vara de Infância.

Atualmente, acontecem nas escolas os círculos restaurativos de escuta, que são rodas de conversa conduzidas por especialistas em educação inclusiva e psicólogos. Segundo Neuza, nesses círculos, os adolescentes têm reconhecido a escola como um local para pedir apoio. “Eles sempre colocam que o momento da pandemia gerou muita insegurança e medo devido ao risco de morte, perda de emprego, situação de vulnerabilidade social e modificação da composição familiar.”

Parceria família-escola e articulações com outros setores

Para que a saúde emocional dos estudantes seja respeitada, de acordo com Gustavo, é necessário que escola e família estabeleçam uma parceria nesse cuidado. As duas partes precisam estar em diálogo para perceber os possíveis sinais que o aluno está dando e, caso seja necessário, encaminhá-lo para um atendimento especializado. Nesse caso, são três partes envolvidas na conversa.

A busca por apoio pode ser difícil nas escolas públicas, que dependem do sistema para inicialmente reconhecer como necessária a contratação de profissionais da saúde e, posteriormente, executar os processos. Ela defende que sejam organizadas articulações entre os setores do governo – Secretaria de Educação, Secretaria de Assistência Social e Secretaria de Saúde – para conceber e executar uma política de atendimento às necessidades sinalizadas pelas escolas. “Sozinha, a escola não dispõe de recursos e competências para apoiar os estudantes e a sua equipe escolar, que também traz demandas próprias e igualmente legítimas.”

cito como base de pesquisa https://novaescola.org.br/conteudo/21279/como-cuidar-da-saude-mental-de-criancas-e-adolescentes-na-volta-ao-presencial

Por

Professor Pesquisador, Mestre em Educação, Especialista em Planejamento Educacional e Docência do Ensino Superior, Historiador e Pedagogo. Entusiasta da Educação

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