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Coluna: Resgates

De tudo o que vivenciei nos últimos dias ficou uma certeza, de que nessa vida não há nada mais importante do que resgatar e valorizar a família da gente

05/09/2021

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

São 5h45 da manhã do dia 2 de setembro. Levanto e me visto rapidamente, preparo a granola com leite e faço a primeira refeição do dia, de olho no horário. Reviso a maleta e a mochila pela última vez e refaço mentalmente a programação dos próximos dias. Respiro fundo. Aquela viagem já havia sido idealizada há tanto tempo! E agora, quando finalmente chegou o momento, sinto um misto de expectativa e ansiedade. É tanta coisa para fazer em três dias! Fico me perguntando o tempo todo: Será que vou conseguir cumprir num espaço tão curto de tempo? A correria será grande, mas vamos lá!

Sete horas! O Uber chegou. A bagagem está pesada e por isso desço cuidadosamente as escadas. A mochila pesa e é o motivo principal da minha missão. O peso nela contido vai muito além das gramas da balança. Um resgate familiar está iniciando e oro internamente para que tudo transcorra bem.

Chego no Aeroporto Internacional de Navegantes, decido desfrutar de um café com creme com croissant, confirmando que o lanche ali é literalmente nas alturas… Durante a espera pelo embarque a Porto Alegre, minha cabeça fica a mil por hora. Olho para a mochila pesada inúmeras vezes e sinto angústia. Mas sei que em breve essa sensação se transformará em alívio ao resgatar a minha dívida e isso me conforta.

Cheguei em Porto Alegre! Agora começo efetivamente a cumprir a minha agenda tão minuciosamente calculada. Nada pode dar errado!

Primeiramente, me dirijo à Rodoviária e garanto passagens para São Luiz Gonzaga. Em seguida vou ao Cemitério João XXII, onde vai acontecer uma etapa importante desse roteiro: depositar a urna com as cinzas do meu pai, conforme a sua vontade. Me emociono ao depositar as flores, ao mesmo tempo que me sinto aliviada, com a certeza do dever cumprido. Era como tirar um peso nas costas. Voltar à minha cidade natal nessas circunstâncias não foi uma tarefa fácil, mas com certeza a presença de amigos preciosos tornou essa missão mais leve, menos pesada, e sou muito grata por isso.

Às seis da manhã do dia seguinte, embarco para Sapiranga, onde encontro o tio Nilson, minha prima Doroti e a cativante filha dela, Eduarda. Não via minha prima desde pequena e o reencontro presencial foi emocionante para ambas. Quantas histórias de família para contar! Quanta risadas! O dia foi pequeno para tantas conversas.
Chegou a noite. Hora de se despedir. Pego o Uber novamente rumo a Novo Hamburgo até a estação do Trensurb, que me levaria novamente a Porto Alegre. O ônibus para São Luiz Gonzaga sairia às 22h30 e lá estava eu, coração pulando no peito, para a última etapa de resgate familiar. Nas paradas pelo caminho, reconheci sotaques regionais e me reconectei com a vida no Rio Grande. Cochilava e acordava, atenta a cada parada.

Rodoviária de São Luiz Gonzaga, seis da manhã. Filmo a fachada da rodoviária para não perder uma referência sequer. Ligo o celular (temi ficar sem bateria no caminho…) e aviso da minha chegada à prima Edith pelo zap. Até então, a maioria dos contatos com os filhos do meu tio Virgílio (in memoriam) havia sido pelas redes sociais.
Edith chega em cerca de cinco minutos. Fomos direto para Dezesseis de Novembro. No caminho, feito turista, fiz questão de fotografar placas e prédios, respirar aquele ar puro. Me sentia como uma criança quando ganha doce, de tanta alegria.

A acolhida não poderia ser melhor. Comida típica italiana e vinho produzido em casa, já pensou? Quantos papos colocados em dia! Quantas revelações!

Na manhã do dia 5, a última etapa dessa missão estava prestes a acontecer, a de levar crisântemos para a visita ao túmulo dos meus nonos Ângela e João. À noite chegará a hora de partir novamente, retomar a vida em Jaraguá do Sul, mas até lá, há ainda um dia para ser desfrutado e quero aproveitar cada segundo. Os acontecimentos superaram a minha expectativa e um sentimento de gratidão me invadiu. É tão bom realizar uma meta há tanto tempo acalentada!

De tudo o que vivenciei nos últimos dias ficou uma certeza, de que nessa vida não há nada mais importante do que resgatar e valorizar a família da gente.

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