Cotidiano | 10/07/2025 | Atualizado em: 10/07/25 ás 19:46

Com as próprias mãos: Ferrari, o massagista que ouve e transforma histórias em Jaraguá do Sul

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Com as próprias mãos: Ferrari, o massagista que ouve e transforma histórias em Jaraguá do Sul

Foto: Divulgação/Massagista Ferrari

Tudo começou com o barulho da água — não da chuva em si, mas das perdas que ela trazia. As enchentes em Rio do Sul pareciam sempre voltar, levando embora não apenas móveis e paredes, mas também a estabilidade de quem tentava, dia após dia, reconstruir algo. Foi ali, entre as águas e os planos adiados, que Moacir Ferrari decidiu: era hora de recomeçar. Jaraguá do Sul parecia promissora. Segura, próspera, cheia de oportunidades. O lugar ideal para alguém que sempre acreditou no poder de recomeçar com as próprias mãos — literalmente.

Moacir chegou com a família, o nome do pai no peito e uma bagagem de histórias nas costas. Começou do zero. Tentou a gastronomia, testou a malharia, enfrentou a crise do Collor, tropeçou no desânimo — como tantos brasileiros na década de 1990. Mas foi o pai, um judoca que por acaso virou massagista, quem enxergou algo além. Cedeu uma sala, uma chance e, mais importante: uma confiança. Foi ali que nasceu o Massagista Ferrari.

Moacir lembra exatamente do primeiro toque profissional. Uma senhora do bairro Albertina, em Rio do Sul. O joelho dela, suas mãos, o olhar do pai ao lado. O momento em que percebeu que aquilo não era só uma massagem — era um chamado. Desde então, nunca mais parou.

As mãos que escutam o corpo e os silêncios

Ferrari aprendeu cedo que massagem não é milagre, mas pode ser um caminho. Seu maior desafio? Explicar que tratamento demanda tempo, paciência, repetição. “As pessoas chegam com dores de anos, às vezes crônicas, e esperam que em uma sessão tudo se resolva.” Ele entende. Mas também sabe que cada corpo tem seu tempo, sua resposta, sua história.

E há histórias que marcam. Como a do caminhoneiro Mário Saldanha, que chegou ao consultório sem conseguir andar. Moacir encostou na perna dele e sentiu algo errado. Uma bolsa de água, um sinal de alerta, um histórico de acidente antigo. Parou tudo. Disse: “Você precisa ir ao hospital agora.” Três meses depois, a família apareceu com um presente e uma notícia: os médicos disseram que, se tivesse demorado mais, a perna precisaria ser amputada. Moacir salvou aquela vida sem fazer o atendimento — justamente porque soube não fazer.

O profissional que sabe até onde vai — e onde ouvir é mais importante que tocar

Essa consciência, ele aprendeu com o tempo. Sempre que algo parece fora do padrão, ele pede exames. Raio-x, ressonância, o que for preciso. “Se não é pra mim, eu não mexo.” As mãos só agem quando a escuta termina. E às vezes, o que o paciente precisa mesmo é ser escutado.

Foi assim que ele fez amigos. Muitos. Centenas. Alguns já passaram por ali há mais de 20 anos. Outros chegam com filhos no colo e voltam com netos. Entre um atendimento e outro, risadas, conselhos, desabafos, café. “Tem gente que começou comigo menino, ansioso com o futuro, e hoje é um homem feito, realizado.” Ele lembra de cada um com carinho. E se esquiva de listar nomes por medo de esquecer alguém.

Ferrari: o nome que virou marca e homenagem

Moacir é o mais novo de quatro irmãos. O olhar sério engana: basta uma conversa para perceber o afeto fácil, o cuidado nas palavras, o humor contido que escapa no meio das histórias. O nome que leva na fachada não é artístico — é do pai. Sensei Ferrari, como era chamado por muitos, foi marceneiro, carpinteiro, investigador e, acima de tudo, judoca e massagista. O filho seguiu os dois caminhos.

Começou no tatame aos 9 anos, ajudou o pai nas aulas, competiu, treinou. Mas aos 23, trocou o kimono pelo toque da massagem. E nunca mais voltou. “O judô me ensinou disciplina, concentração. Mas a massoterapia me mostrou outro tipo de luta: a de ajudar alguém a voltar a viver sem dor.”


Foto: Arquivo pessoal da família Ferrari

Em noites especiais, como num amigo secreto de Natal, o pai, que era de poucas palavras, olhou nos olhos do filho e disse que tinha orgulho. Chamou Moacir de seu “rapaz trabalhador”. Ali, naquele gesto simples, havia tudo. “Meu pai era meu ídolo. Ele trabalhou até os 80 anos. E me ensinou tudo que sei — até com o silêncio.”

Hoje, o espaço que leva o nome da família é compartilhado com a esposa Ida. Juntos há 33 anos, eles dividem o dia a dia profissional com carinho e respeito. Enquanto ele cuida da massoterapia, ela oferece depilação, manicure e pedicure. Uma dupla afinada que acolhe o corpo e a alma de quem chega.

O futuro nas mãos — e no coração

Aos 58 anos, Moacir quer mais tempo com a família, com os netinhos, com a vida fora do consultório. Mas não pensa em parar. Só ajustar o ritmo. Seguir com qualidade. Seguir com sentido.

Foto: Arquivo pessoal da família Ferrari

Para quem pensa em seguir o mesmo caminho, ele deixa um conselho direto: estude, troque com profissionais experientes, e só entre se tiver amor de verdade pela profissão. “As pessoas procuram alívio para o corpo, mas muitas vezes, o que mais precisam é de escuta, carinho, esperança.”

E é isso que ele oferece, a cada sessão.

Texto feito com informações coletadas pela jornalista Priscila Silva.

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Max Pires

Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.

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