Conheça Sana, um iraniano que fugiu da guerra e encontrou a liberdade em Jaraguá do Sul
Viver em meio ao medo ou ir atrás dos sonhos? Veja a saga do iraniano que fugiu do seu país por ser proibido de estudar
15/06/2020
Desde que fugiu do Irã em meados de 1970, o cenário de guerra e perseguição não faz mais parte da vida do iraniano Sana Ollah Malaki, 59 anos.
Natural de Qorveh, ele viu seu destino ser traçado quando percebeu que o sonho de cursar odontologia e conseguir construir um futuro melhor no país de origem não se tornaria possível.
Sana pertence a fé Bahá´i – que tem como objetivo levar a igualdade entre homens e mulheres e é considerada uma religião de minoria no Irã. Assim como ele, mais de 300 mil seguidores são perseguidos e proibidos de frequentar o ensino superior pelo governo.
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“Quando alguém morria a gente não tinha o direito de enterrar. Quem é contra o regime é morto”, comenta Malaki ao relembrar a execução de milhares de fiéis, inclusive médicos.
A perseguição se intensificou, em 1979, após a Revolução Islâmica e, na visão do governo iraniano, a fé Bahá´i é um movimento político não sendo reconhecido como religião.
O principal ponto que é repudiado pelas autoridades é a forma como a religião é organizada. Ao contrário do que é pregado no Islã, não há clero e nem hierarquia e deve existir respeito pela diversidade, inclusive religiosa.
Em busca da formação
Jovens como Sana, chegavam a ser expulsos das escolas. Com medo de ser descoberto e morto, muitas vezes a alternativa encontrada por ele era estudar escondido. Mesmo assim, a melhor opção para garantir o sonhado diploma e tranquilidade foi fugir de sua terra natal.
Com a decisão tomada, o iraniano deixou para trás estudos e as ações de um regime autoritário.”Há muito fanatismo, o governo é ruim e muitas mulheres não são livres. De dez filhos que nasciam, cinco eram mortas’, recorda o iraniano.
Foto: Arquivo Pessoal
A Saga de Sana envolveu uma travessia envolvendo mais de 17 países, sendo os Estados Unidos o lugar em que ele garantiu seu primeiro estudo em técnico eletrônica. Muitos de seus familiares se formaram em medicina.
Em 1986, ele deixa o solo americano e inicia uma incrível jornada que lhe traz ao Brasil, país onde encontrou tudo o que sempre buscou – a sua liberdade.
Metade brasileiro, metade iraniano
Mas até garantir uma estabilidade em terras brasileiras nem tudo foi do jeito em que ele imaginava. “Saí dos Estados Unidos com uma vida financeira boa. Mas a confiança nas pessoas também me fez perder muito dinheiro”, explica Sana.
No país, o iraniano obteve mais uma conquista em sua vida com a formação de sua primeira graduação em engenharia e automação.
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Além das vitórias profissionais, foi no Brasil que Malaki também encontrou o amor. Ele fabricava antenas parabólicas em São Paulo e vendia os produtos para todos os estados.
Em uma de suas viagens, ele conheceu Janete da Silva Porto Malaki na cidade de Rio do Campo, em Santa Catarina, no ano de 1995.
Foto: Arquivo Pessoal
Em 1996, eles vieram para Jaraguá do Sul e o fruto do amor nasceu Jefferson, o primeiro filho do casal. Após 12 anos, vinha ao mundo Sarah – a filha caçula.
Segundo Janete, um dos fatores que pesou no início do relacionamento foi o choque cultural. “Ele não falava quase nada em português. Minha família demorou para entender, agora ele fala certinho”, brinca.
Desde quando veio ao Brasil, Sana vem aprendendo com a cultura brasileira. Além disso, o convívio com os dois mundos também trouxe muitos conhecimentos.
Desde costumes, hábitos e a própria gastronomia que virou até mesmo uma fonte de renda para o casal.
Os dois produzem juntos o verdadeiro Shawarma, que é feito com todos os ingredientes da culinária iraniana. Segundo Sana, o público aprovou o alimento e tem conseguido manter sua vida financeira com a comercialização dos produtos.
No entanto, com a pandemia do novo coronavírus, ele comenta que as vendas tiveram uma queda.
A Saudade
Ao lembrar de sua trajetória, Sana salienta que o que sente mais falta é o convívio com a família. A maioria de seus familiares estão divididos entre o Irã, Alemanha, Estados Unidos, Suiça e Itália.
“O governo iraniano tem proibido a população de usar algumas redes sociais. Mas quando possível tenho bastante contato com minha irmã”, explica
Enquanto Sana vai construindo uma nova de história de vida, o passado fica apenas nas fotografias. Segundo Malaki, voltar a morar no país de origem nem passa pela sua cabeça.
“Eu espero que o Irã mude esse regime. Muitas pessoas estão morrendo, mas, a história sempre mostrou que 80% do povo iraniano é contra esse governo. Um dia posso voltar para passear. Não é questão de morar”, explica.
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