Menos pressa, mais presença: conselhos de um dos pediatras mais experientes de Jaraguá do Sul
Foto: Divulgação/Hospital Jaraguá
Do primeiro choro aos desafios da adolescência, os pediatras são os profissionais que acompanham os momentos mais decisivos da infância. Mais do que tratar doenças, eles orientam famílias, acolhem dúvidas e ajudam a construir gerações mais saudáveis.
No último 27 de julho, celebrou-se o Dia do Pediatra. A data homenageia aqueles que fazem da escuta, do cuidado e da paciência suas maiores ferramentas de trabalho. E também convida à reflexão: como estamos cuidando das nossas crianças?
Em Jaraguá do Sul, entre os nomes que simbolizam esse compromisso está o do Dr. Airton Weber, o pediatra mais antigo e experiente em atividade no Hospital Jaraguá, com impressionantes 43 anos de dedicação.
Foi ele que ajudou a responder a esta pergunta, afinal o profissional viu de perto a evolução da saúde infantil na cidade. Dr. Airton acompanhou transformações no sistema de saúde, mudanças nas famílias e o surgimento de novos desafios, e agora compartilha conselhos que todo pai e mãe jaraguaense deveriam ouvir.
Os conselhos de quem viu tudo mudar
Com mais de quatro décadas dedicadas à medicina, Dr. Airton tem uma visão clara sobre os principais problemas que afetam a saúde infantil atualmente. Para ele, o maior deles é a perda da cultura da prevenção. “A rotina e a orientação em policultura estão sendo negligenciadas. A maioria das consultas ocorre apenas em emergências. Isso é ruim para as crianças e para a saúde pública.”
Por isso, faz também uma crítica à ausência do pediatra na rede básica e o excesso de dependência do pronto-atendimento. “Orientar sobre nutrição, higiene, vacinação e desenvolvimento deveria ser rotina. Mas hoje se tornou exceção.”
Conteúdos em alta
Dr. Airton compartilhou com o JDV os aprendizados que acumulou ao longo das últimas quatro décadas; dicas que parecem simples, mas que as famílias deveriam levar mais a sério e seguir à risca para garantir a saúde e bem-estar dos pequenos.
- Esteja presente, mesmo na correria: “A vida está mais agitada, todos têm seus compromissos, mas a presença dos pais, mesmo que por pouco tempo, faz diferença. Escutem seus filhos.”
- Não espere o problema aparecer para buscar ajuda: “A rotina de consultas, com foco na prevenção e na orientação, precisa voltar a ser prioridade na nossa sociedade.”
- Confie nos profissionais da saúde: “Google e redes sociais ajudam, mas não substituem o olhar e a escuta do pediatra.”
- Vacinas salvam vidas, e precisam ser levadas a sério: “Há muita desinformação circulando. Os pais precisam confiar na ciência e buscar orientação com quem realmente entende.”
Agora, conheça a história desse pediatra que acompanhou a construção da pediatria em Jaraguá do Sul, e continua sendo referência para a saúde infantil da cidade.
Época em que Jaraguá ainda não tinha plantão pediátrico
Quando chegou ao Hospital Jaraguá, no início dos anos 1980, Dr. Airton encontrou uma realidade desafiadora. Não existia plantão pediátrico: os atendimentos a crianças eram feitos por sobreaviso, e os pequenos pacientes dividiam espaços com adultos.
A estrutura hospitalar era limitada. Não havia unidades de terapia intensiva voltadas para o público infantil, nem serviços intermediários. O próprio médico se responsabilizava por todo o cuidado, inclusive em casos complexos. “Encaminhar uma criança para UTI era um desafio. As vagas eram escassas e, muitas vezes, inacessíveis.”
Com o tempo, veio a transformação. O plantão pediátrico foi criado, os atendimentos se tornaram contínuos, e Jaraguá passou a contar com estrutura especializada: UTI pediátrica, UTI neonatal, cuidados intermediários e rede de especialidades.
“Hoje temos uma estrutura muito boa montada para atender à demanda. Mas temos um gargalo importante: a UTI neonatal está sempre lotada.”
Segundo ele, o aumento de nascimentos prematuros e casos clínicos complexos exige uma resposta mais robusta. “Essa é uma área que precisa ser ampliada com urgência. Os bebês de alto risco não podem esperar.”
Se afaste das redes sociais; repense sobre vacinação
Dr. Airton reconhece que a tecnologia pode ser uma aliada no cuidado com as crianças, mas alerta para os riscos da desinformação e da substituição da escuta qualificada. “A palavra final tem que ser do profissional. Google e inteligência artificial orientam, mas não tocam na criança, não escutam os pais.”
Segundo ele, a escuta – que deveria ser a base da relação entre pediatra, pais e filhos – está cada vez mais escassa. “Hoje temos menos tempo para ouvir. Os pais estão mais ocupados, estressados e inseguros. Mas é justamente isso que torna a escuta ainda mais essencial.”
Essa atenção também se estende às vacinas. O médico faz um apelo direto:
“Há pais deixando de vacinar os filhos por medo da vacina da Covid. Isso é muito grave. A cobertura vacinal caiu, os postos estão defasados e falta uma campanha com informação clara, baseada em ciência.”
Para ele, combater a desinformação e fortalecer o papel do pediatra como fonte segura de orientação são passos urgentes para proteger as novas gerações.
Como isso impacta sua vida?
O recado do dr. Airton é direto: estar presente importa mais do que buscar soluções rápidas. A saúde infantil é uma construção feita no dia a dia, com escuta, paciência e cuidado. Em tempos de pressa, ele nos lembra que educar, prevenir e cuidar exige tempo, afeto e presença.
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.
