Como o futsal de Jaraguá do Sul revelou Filipe Luís para o futebol mundial
Filipe Luís ao lado dos colegas da equipe de futsal Urbano | Foto: Acervo Pessoal Augustinho Ferrari
Muito antes de comandar o Flamengo à beira do campo, erguer taças na Europa ou disputar Copa do Mundo, Filipe Luís já se destacava pelas quadras de Jaraguá do Sul. Era um jovem magro, calado, mas com um raciocínio veloz e um toque refinado que chamavam a atenção de quem entendia de jogo. E esse talento que o levaria ao topo começou a tomar forma aqui mesmo, jogando futsal em campeonatos de base.
Filipe nasceu e cresceu em uma Jaraguá onde o futsal já moldava caráter e despertava sonhos. Com treinos puxados, jogos acirrados e a rotina de ginásio, ele aprendeu cedo que, mais do que talento, era preciso disciplina, escuta e visão coletiva.
Nesse ambiente, cercado de treinadores experientes e colegas determinados, que ele desenvolveu o estilo de jogo que mais tarde chamaria a atenção do Figueirense e abriria caminho para o futebol profissional.
>> Nesta reportagem, o JDV reconstrói a origem do craque a partir das memórias de quem ajudou a escrever seus primeiros capítulos.
O início do jovem Filipe no futsal jaraguaense
Filipe Luís deu seus primeiros passos com a bola nos pés no time de futsal da empresa Urbano, aos 9 anos de idade, montado pelo próprio pai, Moisés Kasmirski, que também organizava as primeiras competições com apoio da Liga Jaraguaense de Futsal.
O ex-técnico Manoel Dalpasquale, o Maneca, relembra o impacto causado pelo garoto que, mesmo franzino, demonstrava uma inteligência rara em quadra. “Foi em 1995, quando ele tinha 10 anos. A gente convidou ele para jogar pelo ADJ (Associação Desportiva Jaraguá) no estadual. Ele era muito esperto, entendia o jogo como poucos”, conta.
Conteúdos em alta
Segundo Maneca, Filipe foi o primeiro atleta da turma a executar com naturalidade as jogadas de movimentação treinadas, como o “toca e sai” com diagonais e paralelas.
“Durante as viagens ele perguntava por que fazíamos certos movimentos, queria entender a lógica do jogo. Sempre foi curioso, raciocinava rápido e queria dominar os fundamentos. Muito inteligente, ele era um Ala-armador, fazia o passe que criava jogada, mas se virava bem de Beque também”, lembra.

Da base à seleção estadual
Filipe ficou por cerca de cinco anos na Associação Desportiva Jaraguá (ADJ), onde passou por treinadores como Cleiton Koch, Maneca e, mais tarde, Augustinho Ferrari. Em 1999, foi campeão estadual infantil, de forma invicta, com a equipe da ADJ.
Ferrari, que acompanhou o jovem desde os jogos escolares, relembra:
“Ele se destacava pela velocidade, o chute forte de esquerda e uma inteligência tática fora do comum. Sempre atuou como ala-esquerdo, e se tivesse continuado no futsal, com certeza, teria alcançado a Seleção Brasileira da modalidade”.
Antes disso, já acumulava passagens por times escolares, como o Colégio Marista São Luís. Em todas as fases, se mostrava disciplinado, curioso e determinado a evoluir, treinando com foco e profissionalismo desde cedo.

Influência do pai e o futuro no campo
Moisés Kasmirski, pai de Filipe, teve papel fundamental no início da trajetória do filho. Além de montar o primeiro time e incentivar a participação em campeonatos, foi responsável por articular patrocínios e mobilizar a comunidade para fortalecer o futsal de base em Jaraguá do Sul.
Apesar de o futebol de campo não ser sua paixão na infância, Filipe migrou para os gramados aos 14 anos e se tornou um dos laterais mais respeitados do país. Ele sempre reconheceu a influência do futsal na sua formação, destacando que fundamentos como dribles curtos, passes com o lado externo e controle de bola foram aprendidos nas quadras.

Em entrevista ao ge, em abril de 2021, o jogador reforçou a importância do futsal para a sua carreira “Tudo que aprendi de domínio de bola, controle, domínio orientado, esses dribles curtos de um pé para o outro, passe com lado externo do pé, jogar para frente, passe diagonal cortado… Tudo isso eu aprendi com o Maneca no futebol de salão.”
Legado vivo em Jaraguá
Após deixar as quadras, Filipe Luís construiu uma carreira vitoriosa no futebol de campo. Jogou em clubes como Figueirense, Ajax, Real Madrid, Deportivo La Coruña, Atlético de Madrid e Chelsea, conquistando títulos importantes, como Campeonato Espanhol, Liga Europa, Premier League e Copa América. Também foi titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2018, além de outras competições internacionais.
Atualmente, é técnico do Flamengo, clube onde encerrou sua carreira como jogador – time com o qual foi campeão do Campeonato Brasileiro em 2019 e 2020. Mas até hoje, a conexão com Jaraguá do Sul permanece forte. O Centro Esportivo Filipe Luís, inaugurado em 2019 na cidade, é gerido por Maneca e atende mais de 300 crianças e jovens com foco na formação esportiva e cidadã.

O centro foi criado com estrutura profissional, grama sintética e inspiração na Granja Comary, como forma de retribuir à cidade onde tudo começou. Para Augustinho Ferrari, esse legado mostra a importância de acreditar nos talentos locais e investir em base com qualidade, já que Jaraguá do Sul é reconhecida nacionalmente pela sua cultura do futsal.
O Centro Esportivo Filipe Luís está localizado na Rua Carlos Tribess, 500, bairro Jaraguá, em Jaraguá do Sul (SC), CEP 89253-535. Para acompanhar novidades, projetos e treinos do local, basta seguir o perfil oficial no Instagram: @ctfilipeluis.
Como isso impacta sua vida?
A trajetória de Filipe Luís mostra a importância das escolinhas locais, do incentivo dos pais e da estrutura esportiva municipal. Jaraguá do Sul segue sendo berço de talentos, e exemplos como o dele reforçam o papel vital da base no desenvolvimento de futuros craques. Investir no esporte é investir em cidadania, disciplina e oportunidade.
Maria Eduarda Günther
Jornalista em formação na FURB, nascida em Jaraguá. Cresci entre filmes, livros e peças teatrais. Após criar conteúdo para redes socias sobre Formula 1 e esportes descobri a paixão por jornalismo e a área de comunicação. Nunca perco a oportunidade de conhecer novos lugares e novas histórias por ai.