Jaraguá do Sul | 23/06/2025 | Atualizado em: 23/06/25 ás 18:13

A fotógrafa que eterniza os primeiros momentos da vida — e faz isso como ninguém em Jaraguá do Sul

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A fotógrafa que eterniza os primeiros momentos da vida — e faz isso como ninguém em Jaraguá do Sul

Foto: Débora Cunha/Arquivo pessoal

Tudo começou com uma ausência. Não o tipo de ausência que grita, mas aquela que só se percebe depois, quando se procura algo e simplesmente não encontra. Em 2006, ao se tornar mãe, Débora Cunha viveu todas as emoções intensas do parto: o frio na barriga, o choro que corta o ar, o toque pela primeira vez. Dias depois, quando quis reviver aquele instante em imagens, se deparou com o silêncio. Nenhuma foto. Nenhum registro visual do nascimento da própria filha. Nenhuma memória palpável daquele momento que havia transformado sua vida.

Para alguém apaixonada por fotografia desde a adolescência, aquele vazio doeu. Débora sempre foi a pessoa com a câmera na mão — nos anos 90, com filmes de 36 poses, esperando a revelação como quem espera uma promessa. Mas, naquele dia específico, ninguém clicou. Não havia sequer uma imagem que dissesse: “isso aconteceu”. E foi nesse vazio, inesperado e simbólico, que nasceu um desejo que parecia insano demais para ser compartilhado. E se ninguém mais precisasse passar por isso? E se ela se tornasse a pessoa que eternizaria esses momentos para outras mulheres?

Da estabilidade à decisão


Foto: Arquivo pessoal/Débora Cunha

Na época, Débora já tinha uma carreira consolidada. Era formada em Letras, pós-graduada em Business English Communication, fluente em inglês, com uma trajetória sólida como professora, tradutora e assessora executiva bilíngue na WEG. Tinha estabilidade e uma carreira reconhecida. Mas aquele chamado era mais forte do que qualquer plano. Em 2012, seis anos após o nascimento da filha, ela tomou a decisão: deixaria tudo para trás e se dedicaria à fotografia de partos — algo que, naquele momento, mal existia no Brasil, quanto mais em Jaraguá do Sul.

Foi uma transição cheia de incertezas. A ideia de entrar em centros cirúrgicos com uma câmera profissional parecia absurda. Os primeiros smartphones estavam apenas começando a popularizar câmeras decentes. Partos ainda eram encarados como procedimentos puramente técnicos, clínicos, muitas vezes privados. Havia resistência por parte de médicos, certo receio por parte das famílias, e nenhuma referência local. Mesmo assim, Débora insistiu. Não com imposição, mas com respeito, paciência e uma empatia que se impunha pelo exemplo. O que ela fazia não era só fotografia. Era memória. Era história. Era cuidado.

Quando cada parto se torna único


Foto: Arquivo pessoal/Débora Cunha

Ao longo dos anos, Débora já fotografou mais de 1.500 partos — todos em Jaraguá do Sul. Mas não se engane: para ela, não são números que importam, e sim histórias. Cada nascimento é único. Cada sala de parto tem seu próprio clima, sua própria música silenciosa. Cada mãe tem um olhar diferente, uma respiração que antecede o choro, uma força que nem sempre sabe que tem.

“O que mais me emociona é ver o instante em que o amor muda de forma e se torna presença.”

E é exatamente isso que sua lente registra: não apenas um bebê que nasce, mas uma mulher se transformando em mãe.

Muito além da lente


Foto: Arquivo pessoal/Débora Cunha

O trabalho exige mais do que técnica. Exige entrega. Débora não apenas fotografa — ela participa, com a delicadeza de quem entende o espaço que ocupa. Já segurou mãos de mulheres sozinhas, já foi buscar mala esquecida no carro, já alimentou gatos de famílias que saíram às pressas. Já saiu do dentista com a boca anestesiada porque o bebê não esperaria. Já interrompeu jantares, abandonou carrinhos de supermercado no caixa, lavou tinta do cabelo antes da hora. A vida não marca hora para chegar, e ela aprendeu a viver sem agenda fixa.

Cada parto tem sua própria dramaturgia. Teve pai que desmaiou de emoção, avô que sambou pelos corredores, avó que chegou ao hospital ainda de pijama. E teve também o silêncio de um bebê natimorto — um dos momentos mais desafiadores e sensíveis que ela já enfrentou. “A mãe quis registrar aquele momento com dignidade. Mesmo sem vida, aquele bebê era amado. Era desejado. Eu entrei, fotografei, e chorei junto. Foi uma das maiores lições da minha vida: o nascimento nem sempre é alegria, mas sempre é amor.”

Memórias que curam


Foto: Arquivo pessoal/Débora Cunha

Débora não faz cliques aleatórios. Ela constrói narrativas visuais. Cada trabalho entregue é uma história contada com imagens, desde o nervosismo da chegada até o calor do primeiro colo. Ela diz que seu papel é eternizar os detalhes que a pressa ou o medo fariam desaparecer. E isso inclui não apenas os pais, mas todos os profissionais envolvidos. Médicos, enfermeiros, anestesistas, instrumentadores. “As pessoas nem sempre se dão conta que, para o bebê nascer, há muito trabalho coletivo. E eu gosto de mostrar quem estava lá, fazendo parte, para tudo acontecer.”

Para Débora, registrar um parto é, também, um ato político. Uma forma de resgatar o protagonismo da mulher no nascimento. “Fomos ensinadas a ter medo. A esperar com receio. Meu trabalho mostra que o parto pode ser potente, belo, humano. Que ele é sobre entrega, coragem e uma força quase sobrenatural.” Não à toa, muitas mulheres que passaram por traumas emocionais com seus partos dizem que se curaram ao rever as imagens. “Elas se reconhecem naquelas fotos. Se reconectam com a própria história.”

O reconhecimento mais importante

Apesar de já ter recebido prêmios internacionais por seu trabalho, Débora não gosta de colocar isso em evidência. O que realmente a emociona é quando encontra uma mãe na rua e ouve: “Você viu meu filho nascer”. Ou quando uma criança aponta para ela no supermercado e a reconhece das fotos do álbum de nascimento.

“É saber que o que eu fiz ficou. Que alguém vai abrir aquele álbum daqui 20 anos e lembrar do dia em que tudo começou.”

Hoje, seu trabalho é respeitado e reconhecido. Mas nem sempre foi assim. No início, foi preciso enfrentar o desconhecimento e até julgamento. “Era como se eu estivesse adentrando um espaço que não era meu. Mas com o tempo, fui mostrando que meu olhar não é intrusivo. Ele é necessário.” Débora faz questão de agradecer às equipes do Hospital Jaraguá que a acolheram desde o início, mesmo quando tudo era novidade.

Uma cápsula de tempo

A frase que mais representa sua visão de mundo é de sua autoria: “A fotografia é o presente, para que a gente possa abrir no futuro.” E é isso que ela entrega a cada família: uma cápsula de tempo, cheia de emoção, verdade e presença. Um registro de algo que não volta, mas que merece ser lembrado para sempre.

Quando perguntam se vale a pena, ela responde com os olhos. “Vale. Vale cada madrugada. Cada plantão. Cada lágrima. Porque o que eu vejo, ninguém mais vê daquele jeito. E eu me sinto honrada por isso.”

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Max Pires

Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.

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