Guaramirim: um legado a ser construído para o futuro
Vista aérea de Guaramirim: cidade passa por reestruturação administrativa com foco em gestão eficiente. Foto: Prefeitura de Guaramirim
Em 2026, Guaramirim celebrará marcos históricos de grande relevância: 140 anos de sua fundação e 77 anos de sua emancipação política. Longe de ser apenas uma data no calendário, a dupla celebração representa um momento crucial para a cidade refletir sobre sua identidade e planejar o futuro a partir de suas raízes.
A história de Guaramirim é rica e multifacetada, construída pelas mãos de imigrantes e colonizadores de diversas etnias. No entanto, o desafio reside em ir além das menções genéricas e aprofundar o entendimento e a valorização desse mosaico cultural. A cidade enfrenta a oportunidade de transformar o potencial de sua memória afetiva em um legado concreto, que inspire tanto os moradores quanto os visitantes.
O mapeamento de uma identidade incompleta
Embora a comunidade tenha grande orgulho de suas origens, falta um reconhecimento formal e sistemático de suas diversas heranças. O folclore alemão, germânico-báltico, italiano, português e as valiosas tradições afrodescendentes, por exemplo, não parecem ter um mapeamento público que organize e apoie os grupos que os mantêm vivos. Da mesma forma, o rico patrimônio gastronômico e culinário, que carrega a memória das famílias e das festas, ainda não foi oficialmente reconhecido como um ativo cultural e turístico.
Além do patrimônio imaterial, a própria paisagem de Guaramirim, com suas edificações históricas, formações rochosas únicas e os remanescentes da Mata Atlântica, carece de uma valoração integrada. Sem um mapeamento que una esses elementos em um roteiro coerente, a cidade perde a chance de contar sua história de forma completa e de oferecer uma experiência turística verdadeiramente autêntica, que vai além dos marcos isolados e se conecta com a essência do lugar.
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Um chamado para o legado de 2026
O futuro de Guaramirim, com suas oportunidades industriais e crescimento populacional, exige uma base sólida que não seja apenas econômica. Para criar atrativos identitários que realmente inspirem e gerem valor, é fundamental que a memória afetiva e o patrimônio sejam agregados aos produtos e serviços da cidade. A falta de um plano de salvaguarda abrangente pode dificultar a criação de uma marca forte e distintiva para o município.
Assim, as comemorações de 2026 são o momento ideal para o poder público, a Prefeitura e a Câmara de Vereadores, assumirem um compromisso com o futuro. O legado das celebrações não deve se resumir a festividades, mas sim à organização de um projeto de patrimônio. Esse projeto deve incluir o mapeamento e a formalização do apoio a grupos folclóricos, o reconhecimento da gastronomia local como patrimônio imaterial e a valoração da paisagem como um todo.
Ao fazer isso, Guaramirim estará construindo não apenas pontes e estradas, mas também as conexões com sua própria história. Estará garantindo que as próximas gerações se inspirem em um passado que foi devidamente registrado e valorizado, solidificando as bases para uma cidade com crescimento e com alma.
Ademir Pfiffer
Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais