Relembrando o Foto Loss, uma das grandes lojas da história de Jaraguá
Quem lembra do Foto Loss? A loja que ensinou Jaraguá do Sul a guardar lembranças. Relembre essa história que marcou gerações.
Foto Loss, ícone da fotografia em Jaraguá do Sul - Foto: Acervo Foto Loss
Quem viveu o auge do Foto Loss guarda lembranças que parecem cena de cinema. Era o tempo em que se voltava de uma viagem com o rolo de filme na bolsa, levava ao balcão e esperava dias até poder ver as imagens reveladas. O suspense, a curiosidade e o encanto se misturavam quando o envelope com as fotos era aberto. O Foto Loss não era apenas uma loja, era um ponto de encontro da memória jaraguaense, um espaço onde momentos simples se transformavam em lembranças eternas.
O encanto de revelar uma foto
Ir ao Foto Loss era uma experiência completa. As pessoas entregavam seus filmes, conversavam com os atendentes uniformizados e saíam com a sensação de que estavam deixando suas histórias em boas mãos. Havia uma aura especial naquele ambiente. Os funcionários, sempre bem vestidos e atenciosos, tratavam cada cliente com o cuidado de quem compreendia o valor de um registro fotográfico. Muitos deles também eram fotógrafos, contratados para cobrir casamentos, aniversários e eventos familiares.
Cada clique feito pela equipe do Foto Loss carregava não apenas técnica, mas emoção. Quem buscava um fotógrafo na cidade sabia que era ali que encontraria os profissionais mais preparados. A loja se tornou referência em qualidade e confiança, sinônimo de boas lembranças.
O Foto Loss também se destacava pela inovação. Além das câmeras e filmes, o espaço oferecia equipamentos de som, aparelhos de áudio de última geração, instrumentos musicais e até telescópios. Era um verdadeiro centro de tecnologia, que acompanhava as tendências e encantava quem passava pela Marechal Deodoro da Fonseca. Os móveis de mogno, o brilho das vitrines e o som suave das conversas formavam o cenário perfeito para o que havia de mais moderno em Jaraguá do Sul.
Uma história de amor pela fotografia
A origem de tudo remonta à década de 1930, quando o fotógrafo João Rudolfo Florêncio Loss chegou a Jaraguá do Sul vindo de Curitiba, trazendo consigo uma câmera de madeira e o sonho de empreender. Instalou-se em uma salinha na esquina da Marechal com a Quintino Bocaiúva e fundou o Photo Atelier Loss em 1933.
Naquele pequeno estúdio, João Rudolfo construiu uma reputação sólida e uma história que se entrelaçaria com a da cidade. O jovem aprendiz Waldemar Behling começou a trabalhar com ele e acabou se apaixonando pela filha do patrão, Rosemary. O casamento uniu as famílias e deu origem a uma parceria que duraria décadas.
Conteúdos em alta
Waldemar não apenas aprendeu o ofício, mas ajudou a modernizar o negócio. Foi ele quem trouxe a técnica das fotografias coloridas à mão para Jaraguá do Sul, um marco na época. Com pincéis e tintas, transformava imagens em preto e branco em retratos vivos, repletos de cor e emoção. Quando os filmes coloridos chegaram, o Foto Loss já estava preparado para outra revolução.
A loja se expandiu, ganhou novos equipamentos e se transformou em uma das mais modernas do Sul do Brasil. Nos anos 80, Waldemar importou máquinas da Fuji e lançou a famosa “foto veloz”, com revelação em apenas uma hora. O sucesso foi imediato. Jaraguá do Sul inteiro queria revelar suas fotos no Foto Loss.
Do analógico ao digital
Mas o tempo, como as fotografias, também muda. Com a chegada da fotografia digital, a forma de registrar o mundo se transformou. As pessoas deixaram de revelar filmes, preferindo armazenar as imagens em computadores e câmeras digitais.
Entre 2002 e 2005, o movimento do laboratório começou a cair de forma acentuada. Os equipamentos analógicos, antes indispensáveis, se tornaram obsoletos. Waldemar cogitou investir em uma máquina de revelação digital, mas o custo altíssimo e a mudança de comportamento do público tornaram a decisão inviável.
Mesmo com tristeza, a família entendeu que era hora de encerrar o ciclo. A loja que já empregara 30 pessoas, que formara gerações de fotógrafos e encantara clientes de toda a região, fechou as portas em 2005. O fim não apagou o legado. Pelo contrário, transformou o Foto Loss em uma lembrança viva, símbolo de uma era em que a fotografia era um ato de amor e paciência.
O legado preservado
Hoje, parte do acervo do Foto Loss está nas mãos de Waldemar Behling, que decidiu doar os equipamentos, câmeras e máquinas para o Museu Emílio da Silva. O gesto é uma forma de garantir que essa história continue sendo contada, não apenas em fotos antigas, mas também como parte da memória cultural de Jaraguá do Sul.
As estantes da casa de Waldemar são como um pequeno museu particular. Lá estão câmeras de diferentes épocas, filmadoras, projetores e prêmios conquistados pela loja ao longo dos anos. Ele fala com brilho nos olhos sobre o tempo em que as pessoas se reuniam para revelar fotos e folhear álbuns de família.
Mais do que empresário, Waldemar foi um cidadão ativo. Presidiu a CDL, participou da Comunidade Evangélica Luterana, integrou o conselho da SCAR e do Hospital Jaraguá, além de ter sido membro do Rotary Club, onde chegou a ser governador distrital. Em 2019, recebeu o título de Cidadão Honorário de Jaraguá do Sul, reconhecimento por sua dedicação à cidade e ao legado da fotografia local.
Como isso impacta sua vida?
Relembrar o Foto Loss é revisitar uma época em que as imagens tinham cheiro de papel fotográfico e emoção de verdade. Cada retrato era uma história revelada com paciência e cuidado. O Foto Loss foi mais do que um negócio de sucesso, foi um símbolo da relação afetiva entre a cidade e suas memórias.
Em um tempo em que as fotos se perdem em nuvens digitais, a lembrança do Foto Loss nos lembra da importância de guardar, sentir e reviver os momentos que moldam a identidade de Jaraguá do Sul. Essa história é sobre tecnologia, trabalho e amor, mas acima de tudo, sobre o valor de preservar o que faz uma comunidade lembrar de quem ela é.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.
