Projeto grandioso, anúncio com atriz da Globo: Como seria o shopping nunca concluído em Jaraguá do Sul
Anunciado em 1993 como o primeiro shopping de Jaraguá do Sul, o Jaraguá Shopping Sul nunca foi concluído.
Imagem da maquete que representava o projeto do Jaraguá Shopping Sul, divulgada em 1993. A estrutura nunca foi concluída. Foto: reprodução
Em maio de 1993, Jaraguá do Sul vivia um período de forte crescimento e otimismo. A com a economia em constante crescimento, atraía novos moradores e ganhava infraestrutura urbana. Foi nesse cenário que surgiu a proposta do Jaraguá Shopping Sul, o empreendimento que prometia ser o primeiro shopping center da cidade.

O projeto foi apresentado pela construtora gaúcha Pajost Construções Ltda. como um marco de modernização comercial e de lazer para o município. Com ampla divulgação na imprensa local e regional, incluindo um comercial estrelado pela atriz global Isabela Garcia, o shopping foi anunciado como uma transformação urbana. Mas a obra nunca foi concluída, e hoje, mais de três décadas depois, o que resta é uma estrutura abandonada no Centro da cidade.

Anos 90: Jaraguá do Sul crescia com força industrial e urbana
No início dos anos 1990, Jaraguá do Sul era reconhecida nacionalmente como a “Capital da Malha”. A cidade contava com empresas desenvolvidas e conhecidas em todo o País,como Malwee, Marisol, outras conquistando espaço, como Dalcelis e Darpe e inúmeras empresas menores buscando seu espaço, como a Lunender, atualmente o o gigante grupo Lunelli.
A WEG já consolidava a liderança no setor metalmecânico, gerando empregos e atraindo investimentos. A economia local era diversificada, com empreendimentos em praticamente todos os segmentos econômicos.
A cidade vivia um momento de modernização. O SESI, por exemplo, havia recentemente inaugurado um supermercado moderno na Rua Barão do Rio Branco (vendido ao grupo Angeloni em 1997, que permanece no local) e uma cozinha industrial para atender o setor produtivo.
A comunicação local se dava principalmente por jornais como A Gazeta, Jornal do Vale, rádios como Jaraguá, Stúdio e RBN, e, com menor penetração, por veículos de circulação diária de Joinville e da capital, como A Notícia, DC e Jornal de Santa Catarina.
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Foi nesse ambiente de otimismo e expansão que surgiu o anúncio do Jaraguá Shopping Sul.

O projeto do shopping: um centro de compras com proposta inédita
Segundo os anúncios da época, o Jaraguá Shopping Sul teria:
- Escada rolante (a primeira da cidade)
- Ar-condicionado central
- Lojas com pé-direito de 5 metros, permitindo mezaninos
- Praça de alimentação com 80 opções
- Espaços para cinema, eventos, convenções e exposições
- Fonte luminosa e área de lazer
- Estacionamento para 450 veículos
- Administração e segurança próprias
O modelo comercial também era ousado: as lojas seriam vendidas, não alugadas, o comprador teria a posse do ponto comercial dentro de um sistema de condomínio. Parte da área comum seria explorada pelo próprio condomínio, reduzindo custos mensais.

Campanha massiva e otimismo no lançamento
A divulgação foi ampla. A Pajost investiu em anúncios nos principais veículos locais, regionais e na televisão. Um comercial foi veiculado pela RBS TV, com a atriz Isabela Garcia afirmando:
“Jaraguá do Sul vai ganhar seu primeiro shopping: o Jaraguá Shopping Sul.”
No material promocional, o empreendimento era descrito como “moderno, do tamanho ideal” e “a mais nova atração da cidade”. O objetivo era claro: posicionar o shopping como um centro de compras, lazer e convivência, algo inédito para Jaraguá do Sul naquele momento.
Lojistas locais chegaram a anunciar publicamente a aquisição de unidades, como foi o caso da Loss Cine Foto, que celebrou contrato e apareceu em fotos ao lado da diretoria da Pajost.

O que restou: promessa que virou estrutura inacabada
O que se vê hoje no local, no Centro de Jaraguá do Sul, é uma estrutura inacabada: paredes de tijolos expostos, infiltrações, vegetação crescendo entre os vãos e ausência total de acabamento. Um contraste direto com as imagens de maquete e os anúncios que circularam em jornais, rádios e até na televisão.
A construção foi iniciada, mas parou ainda nas fases iniciais. Pouco tempo depois, a Pajost faliu. Com isso, o Jaraguá Shopping Sul nunca foi entregue, e dezenas de investidores e compradores ficaram à espera de uma solução que nunca chegou.

Décadas de ações judiciais e impasse sem fim
Com a falência da construtora, o caso se arrastou judicialmente. A massa falida da Pajost ainda responde a processos movidos por compradores das lojas e credores. A estrutura permanece no mesmo local, sem destinação, sem reaproveitamento e sem conclusão.
Ao longo desses 32 anos, nada foi finalizado, e o que um dia foi vendido como um marco de modernidade para Jaraguá do Sul permanece como um imóvel inacabado no coração da cidade.
Nos fundos da construção há uma área com salas envidraçadas e um portão trancado que abriga dois carros e uma placa de “entrada proibida”. Mas nada indica que tenha algo a ver com a retomada do empreendimento.

O tempo passou, mas a história ficou
Jaraguá do Sul seguiu seu curso. A cidade continuou se desenvolvendo, recebeu novos empreendimentos comerciais e investiu em infraestrutura urbana, industrial, educacional e cultural. O episódio do Jaraguá Shopping Sul não representa um atraso permanente, mas é, até hoje, um lembrete físico de um projeto que não se concretizou.
A estrutura permanece no mesmo ponto, visível a quem passa, não mais como promessa, mas como testemunho de uma era em que a confiança no futuro da cidade permitia sonhos ambiciosos, nem todos realizados.
Como isso impacta sua vida?
A história do Jaraguá Shopping Sul pode parecer distante para quem vê a cidade hoje consolidada e em constante evolução. Mas o caso ainda está presente no cotidiano urbano, como estrutura física, como parte do mapa e como um exemplo real das consequências que grandes promessas não cumpridas deixam para trás.Para moradores e investidores, fica a reflexão: grandes projetos exigem responsabilidade, transparência e visão de longo prazo. A cidade cresceu, sim. Mas o que ficou para trás continua ali, concreto exposto, promessas não cumpridas e a lembrança de um capítulo congelado no tempo.
Marcio Martins
Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão