Jaraguaense já desviou 250 toneladas de lixo dos aterros com projeto que virou referência nacional
Marcus mostra que a compostagem é ferramenta de reconexão com a terra e agricultura urbana. | Foto: divulgação
Jaraguá do Sul é conhecida pela força da indústria, pelas paisagens naturais e pela qualidade de vida. Mas, nos últimos anos, a cidade também passou a ser exemplo em sustentabilidade graças a um projeto que nasceu quase de forma silenciosa, mas hoje já impacta milhares de pessoas e toneladas de resíduos: o Composta Rua.
O nome por trás da ideia é Marcus Negri, jaraguaense, educador ambiental, ativista urbano e fundador do projeto que vem transformando o que antes era visto como lixo em solução para cidades e inspiração para o Brasil.

Um problema invisível: o destino do lixo orgânico
Segundo dados da AMVALI (Associação dos Municípios do Vale do Itapocu), cerca de 52% de todo o lixo urbano gerado na região é orgânico. Isso inclui restos de comida, cascas de frutas, borra de café, folhas e outros materiais biodegradáveis. O problema? Todo esse material é enviado ao aterro sanitário, onde fermenta e libera gases de efeito estufa, como metano e CO₂.
Na prática, isso significa que mais da metade do que jogamos fora poderia ser transformado em adubo, mas é tratado como rejeito. E é exatamente essa lógica que Marcus Negri se propôs a quebrar.

O nascimento do Composta Rua
Foi a partir da inquietação com esse desperdício e do desejo de viver de maneira mais conectada com o meio ambiente que surgiu, em 2019, o projeto Composta Rua.
A proposta é simples na teoria, mas poderosa na prática: oferecer um serviço de coleta de resíduos orgânicos em casas, empresas e escolas, levando esses materiais para um processo de compostagem controlada, onde se transformam em adubo natural.
Conteúdos em alta
Com o tempo, o projeto se profissionalizou e virou um pequeno negócio de impacto. Hoje, a Composta Rua funciona por assinatura e já atendeu centenas de famílias e instituições da região, com resultados expressivos.

Apesar da pegada comunitária, a Composta Rua também é uma startup. Está conectada ao ecossistema de inovação local, como o Novale Hub, e integra eventos e encontros sobre ESG, economia circular e empreendedorismo de impacto.
Negri, que começou sozinho, hoje conta com apoio técnico, estrutura de coleta e equipe operacional. O projeto já se expandiu para cidades vizinhas como Guaramirim e estuda formas de escalar o serviço para outras regiões.
Uma solução de ciclo completo
O processo do Composta Rua é pensado para ser circular. O cliente separa os resíduos orgânicos em casa, a equipe do projeto coleta e leva para o pátio de compostagem, onde o material passa por um processo natural de transformação. Depois, parte do adubo gerado é devolvido ao cliente.
Esse modelo aproxima as pessoas do processo, ajuda a criar consciência ambiental e valoriza cada etapa da cadeia. Quem participa, além de reduzir o lixo que produz, aprende na prática que “lixo” não existe, existe recurso mal aproveitado.
Os números impressionam
Até início de 2025, o Composta Rua já havia:
- Desviado mais de 250 toneladas de lixo orgânico dos aterros sanitários
- Produzido mais de 45 toneladas de adubo natural
- Reduzido significativamente as emissões de gases poluentes
- Gerado economia na coleta pública, equivalente a 2,5 dias de operação
Além disso, o projeto já implementou composteiras em toda a rede pública de Pomerode, além de Itapema, onde escolas modelo atendem mais de 400 alunos. Em Jaraguá do Sul, o pátio já processou mais de 160 toneladas de resíduos. Também há atuação em parques fabris, com compostagem para mais de 500 funcionários, e mais de 2 mil alunos de escolas públicas já participaram de atividades com o Composta Rua.
“Nosso alcance poderia ser muito maior. A adesão ainda é baixa e a logística é um desafio constante. Mas o impacto já mostra que vale a pena”, resume Marcus.

Um projeto com foco em educação ambiental
Além do serviço de compostagem, Marcus Negri atua fortemente na educação ambiental. Já ministrou oficinas em escolas, empresas e eventos, ensinando desde crianças da APAE até estudantes universitários sobre como compostar em casa ou na escola.
Essas atividades ajudam a formar uma cultura ambiental real. Em uma das oficinas com alunos da APAE, por exemplo, a experiência de colocar a mão na terra e entender o processo do adubo deixou claro que o aprendizado vai muito além do conteúdo escolar, é um convite à transformação pessoal e coletiva.
Ativismo e política pública
Em 2025, Marcus ganhou repercussão ao usar a tribuna da Câmara de Vereadores para questionar propostas de incineração de lixo e defender a compostagem como alternativa mais barata e eficaz.
“O caminho passa por descentralizar o tratamento por meio de projetos de agricultura urbana. Mas, acima de tudo, é preciso uma sociedade mobilizada, que cobre um destino adequado para os resíduos orgânicos, que devem retornar à terra, não ao aterro,” defendeu.
Ele apontou que, enquanto alguns defendem soluções caras e poluentes, como a queima de resíduos, a resposta já está no quintal: basta separar, compostar e devolver à terra.
De Jaraguá para o Brasil
O reconhecimento do trabalho da Composta Rua já ultrapassa os limites da cidade. Marcus participou da Semana Nacional da Compostagem, foi convidado para lives e podcasts sobre sustentabilidade e integrou painéis ao lado de projetos de grandes centros urbanos, como o Ciclo Orgânico (RJ) e o Planta Feliz (SP).
Em uma dessas falas, ele resumiu bem o espírito do projeto:
“A natureza não produz lixo. Quem produz lixo somos nós. E podemos parar.”

Quem participa muda de vida
O projeto também colhe frutos nos relatos de quem participa. Muitas famílias relatam que passaram a reduzir drasticamente o volume de lixo, outras dizem que começaram a plantar em casa com o adubo que recebem, e há até quem revele ter mudado o próprio estilo de vida a partir dessa prática.
Marcus lembra com humor de uma história dos primeiros tempos:
“Na época em que eu fazia coleta de patinete, entrei num espaço com o chão recém-limpo e sujei tudo. A senhora da limpeza ficou muito brava. A partir daquele dia, precisei mudar o horário da coleta para não atrapalhar mais.”
A anedota mostra como o projeto cresceu no improviso, na rua, com tentativa e erro, e muito contato humano.
O futuro da compostagem em Jaraguá
Com o sucesso local e o fortalecimento da rede, Marcus Negri agora busca ampliar o alcance do projeto. Ele defende que a compostagem pode ser integrada à coleta pública, com postos de entrega voluntária, pátios municipais e incentivos para condomínios e empresas que adotarem o modelo.
Uma das ideias em andamento é levar a compostagem para hortas comunitárias, como forma de descentralizar o processo, reduzir os desafios logísticos e fortalecer as práticas de agricultura urbana já existentes em Jaraguá do Sul.
“Jaraguá já tem iniciativas comunitárias muito fortes nessa área. Integrar a compostagem a essas hortas é um passo natural para aproximar ainda mais as pessoas da terra e tornar o sistema mais eficiente,” explica Marcus.
O sonho? Tornar Jaraguá do Sul uma cidade referência em compostagem no Brasil, onde nenhum resíduo orgânico precise mais ser enterrado.
“Composte seu resíduo orgânico. Precisamos adubar mais corações,” convida Marcus, resumindo o propósito maior do projeto. Uma escolha simples que melhora sua qualidade de vida e ainda ajuda sua cidade a economizar, respirar melhor e cuidar do futuro.
Como isso impacta sua vida?
Separar o lixo orgânico que você produz em casa pode parecer um detalhe, mas tem um impacto direto na sua rotina, no meio ambiente e nos custos da cidade. Ao aderir à compostagem, você reduz o volume de lixo, evita mau cheiro, diminui o uso de sacos plásticos e ainda transforma restos de comida em adubo para plantas, hortas e jardins.
Gostou da história?
O JDV está acompanhando de perto as transformações positivas que nascem aqui. A cobertura do projeto Composta Rua e outras iniciativas inspiradoras de Jaraguá fazem parte do propósito editorial do JDV.
Se você conhece outras iniciativas parecidas ou quer ver mais matérias como essa, comente, compartilhe e envie sua sugestão para nossa redação no e-mail redacao@nascecom.com.br.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.