Leônidas Cabral Herbster e a transformação de Jaraguá do Sul durante o Estado Novo
Inauguração da Prefeitura de Jaraguá do Sul | Foto: Reprodução
O Estado Novo foi um período controverso da história do Brasil, marcado pela instauração de um regime autoritário liderado por Getúlio Vargas, que perdurou de 1937 a 1945. Caracterizou-se pela centralização do poder, censura à imprensa, supressão de liberdades individuais e extinção dos poderes legislativos em todas as esferas.
Apesar do autoritarismo, o período também foi responsável por transformações significativas no país. Houve avanços na industrialização, investimentos em infraestrutura viária, criação de estatais como a Companhia Siderúrgica Nacional, além da promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Durante o regime, as eleições foram suspensas em todos os níveis. Governadores eram indicados pelo presidente Vargas, que por sua vez indicavam os prefeitos municipais — todos chamados de interventores.
Foi nesse contexto que um personagem vindo do distante estado do Ceará se tornou interventor de Jaraguá do Sul: o tenente-coronel Leônidas Cabral Herbster, nomeado pelo então interventor estadual Nereu Ramos, aliado de Vargas.

Herbster: origens, carreira militar e chegada a Jaraguá
Filho de Manoel e Joana Cabral Herbster, Leônidas nasceu em Maranguape (CE), no ano de 1903. Casou-se com Anna Braga, com quem teve dois filhos: Walter e Waldéia Herbster.
Na carreira militar, alcançou o posto de 2º tenente em 1932, foi promovido a 1º tenente em 1938 e a tenente-coronel em 1941. Atuou como policial em cidades como Cruzeiro, Chapecó e Blumenau. No campo político, foi prefeito de Caçador (SC) em 1935.
Conteúdos em alta
Em 1938, atuava como militar da Marinha em Florianópolis. No mesmo ano, foi transferido para Jaraguá do Sul, onde passou a ocupar a Delegacia Auxiliar da Comarca. Logo após, foi nomeado interventor municipal por Nereu Ramos, que havia sido nomeado governador de Santa Catarina por Getúlio Vargas.
Gestão sem Câmara: início da urbanização de Jaraguá do Sul
Durante o Estado Novo, os municípios não possuíam câmaras de vereadores. Todas as decisões eram concentradas nas mãos do prefeito-interventor. Jaraguá do Sul começava a dar os primeiros passos rumo à industrialização, e, baseado nos princípios do regime, Herbster iniciou uma série de obras e reformas urbanas.
Seus primeiros decretos estavam voltados à construção de calçadas, muros e instalações sanitárias. Além disso, implantou medidas fiscais e administrativas, como legislação para aluguel e construção de casas, bem como a regulamentação de horários para o comércio e a indústria local.
Com apoio de Nereu Ramos, conseguiu recursos para diversas obras que impactariam o futuro da cidade.
A construção da nova Prefeitura
Em 1939, Herbster iniciou a construção de uma das obras mais emblemáticas de sua gestão: o prédio da Prefeitura Municipal, localizado na Praça Ângelo Piazera. A estrutura monumental foi inaugurada em 1941, com cerimônia solene.
Na mesma data foi inaugurado o busto de Emílio Carlos Jourdan, fundador da cidade. A escultura, encomendada ao artista Fritz Alt, foi financiada com doações da comunidade jaraguaense. Estiveram presentes autoridades como Nereu Ramos e familiares de Jourdan, incluindo seu filho Rodolfo Augusto Jourdan.
Do circo à sede do poder municipal
Um detalhe curioso: os pilares superiores do prédio da prefeitura, ao redor do brasão municipal, exibem a letra “H” em relevo, referência direta ao nome Herbster.
A escolha do local da construção passou por diversas sugestões, muitas delas influenciadas por interesses distintos. No entanto, após uma conversa com o empresário Arnoldo Leonardo Schmitt, proprietário do Curtume Schmitt, decidiu-se construir o edifício no terreno onde os circos costumavam montar suas tendas ao visitar a cidade. Assim nasceu a praça e a sede do poder municipal, que funcionou no prédio até a década de 1990.
O terreno onde foi construída a prefeitura pertencera a Constância Piazera, viúva de Ângelo Piazera, que já o havia doado para a construção das estruturas municipais.


Urbanização e obras estruturantes: rodoviária e praça
Além da prefeitura e escolas, Herbster ordenou a construção de pontes, calçamento de vias e da rodoviária municipal. Também foi responsável pela construção da rodoviária antiga e da praça que levava seu nome, hoje chamada de Praça do Expedicionário.
A construção da rodoviária iniciou um novo ciclo de intercâmbio para Jaraguá do Sul, impulsionando a economia local com a chegada de linhas intermunicipais e interestaduais, facilitando o transporte de pessoas e mercadorias.
A nova estação ferroviária
A primeira estação ferroviária de Jaraguá do Sul foi construída em 1909, recebendo ampliações ao longo dos anos. No entanto, com o aumento da população e do envio de cargas, passou a não suportar mais a demanda, situação que exigia a construção de uma nova edificação.
Leônidas Cabral Herbster levou o assunto ao interventor estadual Nereu Ramos, que o encaminhou ao governo federal. O pleito foi atendido e, em 1943, foi inaugurada a nova estação ferroviária, um prédio imponente que atualmente abriga o Museu da Paz e a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer.

Tempos sombrios: repressão durante a Segunda Guerra Mundial
Apesar das conquistas urbanas, o período também foi marcado por repressões e intolerância linguística. O Estado Novo coincidiu com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e, com o Brasil ao lado dos Países Aliados, o governo federal impôs uma série de medidas contra imigrantes dos países do Eixo — especialmente alemães, italianos e japoneses.
Por determinação nacional, o uso dos idiomas desses países foi proibido em todo o território brasileiro. Falar nessas línguas passou a ser considerado crime, e as autoridades locais eram responsáveis por fiscalizar e punir quem descumprisse a norma.
Em Jaraguá do Sul, que contava com forte presença de descendentes de alemães e italianos, o interventor Leônidas Cabral Herbster, nacionalista e alinhado ao regime, aplicava detenções e prisões a quem fosse flagrado desobedecendo à proibição.
Marcio Martins
Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão