Cotidiano | 02/12/2025 | Atualizado em: 02/12/25 ás 16:45

Maior explosão da história de Jaraguá, em 1953, deixou 10 mortos, ganhou música e tem personagem que sobreviveu por ‘milagre’

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Maior explosão da história de Jaraguá, em 1953, deixou 10 mortos, ganhou música e tem personagem que sobreviveu por ‘milagre’

Foto: Arquivo

No dia 6 de novembro de 1953, Jaraguá do Sul viveu um de seus capítulos mais trágicos, naquele que ficou conhecido como o maior desastre industrial da história da cidade. A explosão da fábrica de pólvora Pernambuco Powder Factory matou dez trabalhadores, feriu outros 12 e ficou gravado na memória coletiva da cidade.

O episódio foi tão marcante que inspirou a composição de uma música e alimentou histórias de sobrevivência que até hoje impressionam. Entre elas, a de Guilherme Spengler, funcionário que escapou ileso das três explosões registradas na fábrica ao longo de sua história, incluindo a de 1953, a mais grave de todas.

As origens da fábrica de pólvora na Tifa Rappe

A história do empreendimento remonta à chegada dos químicos alemães Fritz e Henrique Rappe ao Vale do Rio da Luz, em 1909. Com suas famílias e equipamentos trazidos da Alemanha, eles instalaram a primeira fábrica de pólvora da região, transportando máquinas em carroças pela estrada de chão.

O negócio era voltado inicialmente para a produção de pólvora de caça e mina. Ao longo dos anos, a fábrica mudou de gestão diversas vezes e, por sua própria natureza, o risco era constante.

Interdição durante a Primeira Guerra Mundial

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), por determinação das autoridades militares, a fábrica foi interditada por pertencer a alemães. Foi justamente nesse período que ocorreu a primeira explosão da história da fábrica, embora não haja registro de feridos.

Em 1918, porém, os Rappe mudaram-se para Curitiba, e a fábrica de pólvora passou para o comando de Augusto Mielke, que levou a empresa para a Rua João Doubrawa. Ela passou a ser gerida por seu genro, Francisco Frederico Moeller, que a manteve até 1926. Depois, a fábrica foi vendida para Reinoldo Rau e, por fim, em 1939, para a Pernambuco Powder Factory.

Portanto, foi já sob a nova gestão que ocorreu a segunda explosão, na noite de 8 de setembro de 1941. Na ocasião, cerca de 200 kg de pólvora detonaram, destruindo galpões e assustando moradores próximos. Este, porém, não seria o episódio mais trágico da fábrica.

A maior explosão da história de Jaraguá do Sul

Na manhã de 6 de novembro de 1953, às 10h30, a fábrica registrou sua explosão mais devastadora. A carga acumulada, mais de 6 mil quilos de pólvora estocados entre a produção da véspera e a matutina, gerou um impacto ouvido a grande distância e sentido em casas num raio de mil metros.

As consequências foram dramáticas:

  • 10 operários morreram;
  • 12 ficaram feridos;
  • pedaços de máquinas, ferramentas e estruturas foram lançados a centenas de metros;
  • casas próximas sofreram rachaduras profundas;
  • vidraças, portas e telhados foram destruídos pela onda de choque.

Testemunhas relataram ter encontrado fragmentos de roupas e ferramentas presos a árvores a mais de 200 metros do local. A cidade, então pequena, ficou marcada para sempre.

No dia da explosão, houve grande movimentação na cidade | Foto: Arquivo

A tragédia que virou música: “As Deix Cruiz”

O impacto do desastre foi tão grande que inspirou o funcionário municipal e poeta Atayde Machado a compor uma balada em estilo caipira para registrar o sofrimento e homenagear as vítimas. A música, intitulada “As Deix Cruiz”, foi declamada em seu programa na Rádio ZYP-9, “O Rancho do Dadi”, tornando-se um símbolo do luto local.

Os versos singelos fazem jus à memória dos trabalhadores que, em um piscar de olhos, perderam a vida de forma trágica. Aqueles pobres operário/Que ali ganhava seu pão/Do mundo se desligaram/Com a tremenda exprosão/Para Deus se apresentaram/Merecendo eles a sarvação, diz trecho da obra de Machado.

Guilherme Spengler saiu ileso das três explosões

Entre os trabalhadores da fábrica, um nome se destaca: Guilherme Spengler. Operador especializado em explosivos, ele saiu ileso nas três explosões que marcaram a trajetória da empresa: a da Primeira Guerra, a de 1941 e a de 1953.

Na última, aliás, foi salvo por muito pouco. Naquela manhã, Spengler acabou retardando sua ida à fábrica, porque, conforme relata o historiador Emílio da Silva, ficou em um “bate-papo amigo” na ponte Abdon Batista.

Quando escutou o barulho da explosão e viu a fumaça, exclamou: “Mein Gott, mein Schutz (Meu Deus, meu protetor)! Era o meu fim se eu estivesse ali”. E, imediatamente, rumou para a fábrica de bicicleta.

Spengler viveu até a velhice e se tornou figura conhecida da cidade. Seu nome, claro, manteve-se associado ao fatídico evento de 1953, do qual se salvou por “milagre”.

Último sobrevivente faleceu em 2023, aos 86 anos

O último sobrevivente da trágica explosão de 1953 faleceu em 12 de julho de 2023, aos 86 anos. Pery Quirino da Silva tinha apenas 26 anos quando o grave acidente ocorreu.

Pery Quirino da Silva, o último sobrevivente da explosão | Foto: Divulgação

Em entrevista anterior ao JDV, Pery contou que, no dia da explosão, trabalhava escavando um morro para fazer um depósito para guardar pólvora. Ele relatou que, a poucos metros de onde estava, dois colegas de trabalho morreram atingidos por madeiras da estrutura da fábrica. “Foi terrível”, resumiu.

Uma justa homenagem aos mortos foi feita em 2013, quando completou 60 anos do ocorrido. No dia 1º de novembro, véspera de Finados, houve a inauguração de um monumento aos dez trabalhadores. Custeado pelo empresário Werner Voigt, ele fica na entrada do Cemitério do Centro, com uma cruz de sete metros de altura, e cercado de outras dez menores.

Foto: Divulgação

Um capítulo marcante da história jaraguaense

A explosão de 1953 não foi apenas um acidente industrial. Foi um acontecimento que moldou a memória da cidade, deixou cicatrizes profundas e originou relatos que atravessaram gerações.

A canção de Atayde Machado e a história improvável de Guilherme Spengler ajudam a manter viva a lembrança desse episódio, que, mais de sete décadas depois, permanece como um dos capítulos mais fortes da história de Jaraguá do Sul.

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