Jaraguá do Sul | 29/09/2022 | Atualizado em: 29/09/22 ás 14:16

Minha filha não se conformava de não ir à escola, diz afegã refugiada no Brasil

Mulher que deixou o Afeganistão devido à volta dos extremistas hoje vive no Brasil

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Minha filha não se conformava de não ir à escola, diz afegã refugiada no Brasil

Ativista pelos direitos femininos em um dos países com maior desigualdade de gênero no mundo, a afegã Khatera Mohmand, 38, enfrentou muitas batalhas para combater a violência contra a mulher no serviço público que chefiava.

 

“Como eu iria explicar isso para ela? Como dizer que ela não pode estudar, mas os meninos, sim?”

 

Mas poucos momentos foram tão difíceis quanto ter que explicar à própria filha, Lema, 8, que ela não poderia mais ir à escola. “Ela me perguntou: ‘o quê? Por quê? Eu adoro a escola, eu quero ir”, conta. “Como eu iria explicar isso para ela? Como dizer que ela não pode estudar, mas os meninos, sim?”.

Chefe do departamento de equidade de gênero de uma organização do governo, Khatera deixou seu escritório às pressas no dia 15 de agosto do ano passado, quando o Talibã entrou em Cabul e, em uma ofensiva relâmpago, assumiu o poder central.

Ela lembra de outro período em que o grupo extremista controlou o país, no ano de 1996. Filha de um casal de professores, na época Khatera passou quase 6 anos estudando em casa com a irmã, escondida, como se fosse um crime. Em agosto de 2021, temendo que esta situação fosse ainda pior, ela decide sair as pressas do próprio país e migrou para o Brasil com seu marido, a filha Lema e o filho mais velho Sohail. Auxiliados por uma ONG, eles estão morando em Jundiaí, São Paulo. Os filhos já estão frequentando a escola pública.

No pequeno apartamento com varanda estão alguns objetos decorativos que antes faziam parte da casa com 5 quartos, em Cabul: medalhes escolares do filho, livro da mãe, suvenires, artesanatos. “ Você não consegue colocar a sua casa inteira na mala, mas eu trouxe objetos de maior valor sentimental”, conta.

“A sociedade afegã é tradicional e sempre deu mais direitos aos homens do que as mulheres. Eu sou de uma família diferente. Minha mãe era professora e escritora, meu pai também foi professor. Eles nunca trataram os filhos de forma diferente. Ele dizia – Nunca tolere qualquer violência contra você ou qualquer pessoa a sua volta!” Conta Khatera.

 

 

Ela conta que seus pais deixaram que os filhos escolhessem com quem se casar, nada na família foi arranjado. No período sem o Talibã no poder, Khatera graduou em ciências da computação e passou em um concurso público. “Nessa época o governo criou departamentos de gênero em cada organização e eu me tornei chefe deste departamento”.

Quando o Talibã voltou ao poder, Khatera conta que parecia um dia normal no trabalho embora o clima estava tenso. Então uma amiga ligou para ela e disse “Khatera, vai para casa. Acabou!” Ela conseguiu pegar apenas o seu laptop e saiu as pressas para dentro de casa onde permaneceu por uns 5 meses. “Eu não poderia sair. Outras ativistas foram agredidas e outras desapareceram”, lembra.

Com a baixa renda diante das mudanças no país e o enclausuramento da família, eles decidem sair do Afeganistão. Procuraram países democraticos e livres, pesquisaram entre amigos opções de onde morar e todos descreveram o Brasil como uma boa opção.

 

“Quando sai do avião vi que todas as pessoas que carimbavam os passaportes na alfândega eram mulheres trabalhando, interegindo. Nesse momento senti que o Brasil era um país que valorizava as mulheres.”

 

Via Folha de São Paulo

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