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Coluna: A tormenta

A tormenta – O tempo fechou para os lados da Praia da Ressaca. O dia virou noite em questão de segundos, anunciando o temporal. Em alto mar, os pescadores dos pequenos barcos olhavam o céu com apreensão, temerosos com a tormenta. Tinham saído para o mar antes mesmo do…

18/12/2019

O tempo fechou para os lados da Praia da Ressaca. O dia virou noite em questão de segundos, anunciando o temporal. Em alto mar, os pescadores dos pequenos barcos olhavam o céu com apreensão, temerosos com a tormenta. Tinham saído para o mar antes mesmo do amanhecer e decidiram se apressar em voltar para a margem. Era a única maneira de salvar os poucos peixes e também de salvar a si mesmos. O pavor de sucumbir ao mar bravio e arriscarem as próprias vidas estava estampado em seus rostos.

Na areia, os poucos veranistas começaram a levantar acampamento, retirando os guarda-sóis rapidamente e carregando bolsas e sacolas. Pais chamavam nervosamente os filhos para partirem. Os pequenos olhavam fascinados para cima, admirando a escuridão, enquanto eram puxados pelas mães sem nada entender.

Joãozinho estava tranquilamente sentado perto da beira da praia fazendo um boneco da areia e teve de ser carregado dali enquanto esperneava no colo do pai. Foi o tempo suficiente para uma onda derrubar o boneco e inundar ao redor. Uma forte ventania começou a soprar, sacudindo os arbustos e soltando as folhas, que se deslocavam pelas ruas próximas à beira-mar. Janelas e portas foram fechadas rapidamente.

Não demorou muito e uma forte chuva começou a cair incessantemente. Os prevenidos abriram guarda-chuvas e sombrinhas, mas a verdade é que a maioria foi pega de surpresa e mal tece tempo de se abrigar debaixo de marquises, ou de uma árvore, apesar do grande risco de serem atingidos por raios.

Recém-saído do barco, o pescador Gael estava ensopado. Conseguiu salvar alguns peixes da tormenta que carregava em uma caixa de isopor, juntamente com a rede de pesca. Ia caminhando para casa, mas tinha uma boa caminhada até alcançar a vila dos pescadores. Enquanto caminhava em meio à chuvarada, pensava na vida. As lágrimas que caíam pela face queimada do sol se confundiam com a água que jorrava do alto.

Demoraria us 15 minutos caminhando até o barraco onde passou a morar sozinho, desde que a ex-mulher, Maria, partiu com o filho Luisinho. Ficou lembrando do menino e das brincadeiras na areia, das risadas, das conchas que ele gostava de colecionar. O garoto sempre perguntava para o pai sobre os mistérios do mar e dos segredos de uma boa pescaria. “Quero ser pescador que nem o senhor!”, disse certa vez.

“Não, não, você tem que estudar! Vida de pescador é muito sacrificada. Você merece uma vida melhor!”, retrucou o pai. Ao chegar no modesto barraco de tijolos sem reboco, pegou um dos peixes para limpar e guardou os outros pescados na geladeira. Enquanto limpava o peixe para fritar, notou que a tempestade estava serenando. Ficou olhando da janela até a chuva cessar por completo.

Depois temperou o peixe, pegou a frigideira e começou a fazer o breve almoço. Olhou de novo pela janela e viu que um lindo arco-íris se formou. Considerou que era um bom sinal. Respirou fundo e soltou um longo suspiro. A esperança mais uma vez tomou conta de seu coração. “Não está morto quem peleia!”, disse para si mesmo, enquanto saboreava a tainha frita.

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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