Quando tudo era mato: o papel das Escolas Isoladas na formação de Jaraguá do Sul
Foto: Arquivo
As Escolas Isoladas marcaram profundamente o avanço social e cultural de Jaraguá do Sul. Em um período sem tanta tecnologia, elas foram espaços de encontro comunitário e motores do desenvolvimento das regiões rurais do município.
Mas para falar das Escolas Isoladas é preciso entender as dificuldades da colonização no Vale do Itapocu. Em uma região onde o Estado demorou a chegar, o ensino surgiu da iniciativa das próprias comunidades. Como explica o historiador Ademir Pfiffer, as primeiras instituições de ensino foram criadas pelos colonos, que “assumiram a responsabilidade de construir e manter os espaços de ensino” em meio ao isolamento geográfico e cultural.
Antes mesmo que o poder público estruturasse redes de ensino, portanto, já existiam na região as chamadas escolas étnicas, ligadas a igrejas e mantidas de forma comunitária. O professor – ou Lehrer – muitas vezes falava apenas alemão, e a educação acontecia nos fundos dos vales, acompanhando o ritmo de crescimento das pequenas localidades rurais.
Pfiffer destaca que, com a Reforma Orestes Guimarães, ocorrida em 1911, em Santa Catarina, começou a surgir o conceito de Escola Isolada: unidades pequenas, geralmente com uma única sala e um professor para todas as séries. Elas se diferenciavam dos Grupos Escolares, que eram estruturas grandes, imponentes e de alvenaria localizadas na região central.
E, assim, as Escolas Isoladas multiplicaram-se com rapidez nas décadas seguintes, espalhando-se por regiões como Rio Cerro, Rio da Luz e Estrada Garibaldi. Segundo Pfiffer, “praticamente cada comunidade rural tinha a sua, que era o centro da vida social”.
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Da nacionalização ao auge
Durante a Era Vargas, entre 1937 e 1945, as escolas étnicas foram obrigadas a se adaptar às normas de nacionalização. Muitas se transformaram oficialmente em Escolas Isoladas. Houve mudanças bruscas, sobretudo para regiões de forte colonização alemã, mas foi também o início da consolidação do modelo com diferentes séries (multisseriado) nas comunidades jaraguaenses.
Conforme Ademir Pfiffer, a partir da década de 1950, as Escolas Isoladas viveram seu auge. Eram instituições simples, mas fundamentais para a formação das novas gerações. Embora fossem estaduais, boa parte da manutenção ficava a cargo da Associação de Pais e Mestres (APM), reforçando o vínculo entre os moradores e a educação local.
Para quem morava em comunidades afastadas, as Escolas Isoladas eram a garantia de que não faltaria instrução. A educação, que sempre fora uma prioridade em Jaraguá do Sul, mantinha sua força no município e essa constância seria decisiva, também, para o progresso econômico da cidade.
O modelo das Escolas Isoladas, porém, começou a desaparecer nos anos 1980 e 1990, com o processo de nucleação. O governo decidiu substituir as pequenas escolas por estruturas maiores e centralizadas. Assim, as antigas unidades foram fechando suas portas, mas não foram esquecidas.
Quando a história volta a respirar
Um dos ex-alunos dessas instituições é o empresário e deputado estadual Antídio Lunelli, que se orgulha de dizer que estudou na Escola Isolada Desdobrada da Barra do Ribeirão Grande do Norte. Posteriormente, a instituição mudaria de nome para Escola Isolada Ângelo Moretti.
Dessa forma, quando era prefeito de Jaraguá do Sul, Lunelli decidiu ajudar a preservar esse passado. Ele iniciou a reconstrução da escola onde havia estudado, respeitando a arquitetura original e devolvendo à comunidade um símbolo de sua identidade.

A reinauguração da Escola Isolada Ângelo Moretti, em agosto de 2023, emocionou moradores, ex-professores e familiares. O prédio reconstruído ganhou carteiras antigas restauradas e nova função: receber estudantes dentro do projeto “Conhecendo Jaraguá”, permitindo que futuras gerações entendam como era a educação no interior do município.
Além disso, o anexo Espaço Cultural Eurides Silveira amplia sua utilidade, abrigando atividades culturais como dança, música e teatro.
Durante a cerimônia, homenagens foram prestadas a antigos professores e a todos que ajudaram a resgatar aquele patrimônio físico e afetivo. Antídio Lunelli destacou que a obra representava a realização de um sonho pessoal e coletivo, uma forma de honrar a escola que o formou, os docentes que fizeram parte de sua trajetória e as famílias pioneiras daquela região.

Por que preservar as Escolas Isoladas importa hoje
Valorizar as Escolas Isoladas é reconhecer uma parte fundamental da história de Jaraguá do Sul. Esses espaços foram responsáveis por alfabetizar gerações, fortalecer laços comunitários e integrar áreas afastadas do centro urbano.
Hoje, quando visitantes e estudantes entram na escola reconstruída, não encontram apenas um prédio histórico, mas um capítulo vivo da formação cultural do município. Um capítulo que ajuda Jaraguá do Sul a lembrar de onde veio e como chegou até aqui.