Política | 11/07/2025 | Atualizado em: 13/07/25 ás 13:43

O que dizem políticos de Jaraguá do Sul e região sobre o ‘tarifaço’ anunciado por Donald Trump

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O que dizem políticos de Jaraguá do Sul e região sobre o ‘tarifaço’ anunciado por Donald Trump

Foto: Montagem/JDV

As tarifas de até 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros têm gerado forte preocupação em Jaraguá do Sul e região. A medida, que terá início em 1º de agosto, afeta diretamente segmentos importantes, especialmente a indústria, e pode ter consequências socioeconômicas difíceis de se prever.

O presidente americano compartilhou a decisão na última quarta-feira (9), por meio de uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que foi publicada em sua rede social, a Truth Social.

No texto, Trump justifica a imposição da tarifa não apenas por considerar a relação comercial com o Brasil injusta, mas também como uma resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ele diz ser “uma desgraça internacional”.

Diante desse cenário, lideranças políticas de Jaraguá do Sul e região manifestaram suas opiniões sobre o tema, analisando os impactos do “tarifaço”, assim como os motivos da medida anunciada por Trump e as possíveis soluções para esse impasse.

Representantes da região mostram preocupação com cenário

Para o deputado federal Fábio Schiochet, “a tarifa de 50% anunciada pelos EUA é um desastre para quem produz e exporta no Brasil”.

De acordo com ele, a decisão de Donald Trump passa pelos posicionamentos de Lula, sendo “resultado de um governo e de um presidente que colocaram a ideologia acima de diplomacia, preferindo fazer provocações sucessivas, sempre escolhendo o lado errado da história e apoiando regimes ou grupos que não representam nossos valores”.

Ele cita manifestações favoráveis à Rússia, ao Hamas e ao Irã: “Agora quem paga o preço são o nosso agronegócio, nossas indústrias e nossos trabalhadores”, complementa.

Ainda conforme Schiochet, as tarifas têm alto potencial de “machucar” Santa Catarina.

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Fabio Schiochet | Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

“Em 2024, vendemos R$1,7 bilhão em produtos para os EUA e, só no primeiro semestre de 2025, foram R$847 milhões. Carpintaria para construções, madeira serrada, motores elétricos e carne suína estão entre os mais vendidos para lá. Além disso, gigantes industriais como a WEG e a Tupy também serão diretamente impactadas: cerca de 9% das vendas da WEG e quase 14% da Tupy são exportações para os EUA”, destaca.

Esse cenário, na visão do parlamentar, significa uma clara ameaça ao emprego, à renda e ao desenvolvimento. Além disso, ele diz que não há mercado alternativo capaz de absorver esse volume: “Nem o mercado interno suporta tudo que produzimos.”

“Espero que o governo federal pare definitivamente com o discurso ideológico para sua base e com a lacração nas redes sociais, e parta para uma negociação séria. A cadeia produtiva de Santa Catarina e do país não pode arcar com essa conta”, finaliza.

“Em vez de buscar o diálogo, governo federal dobrou a aposta”, diz presidente da Câmara de Jaraguá do Sul

O presidente da Câmara de Jaraguá do Sul, Luís Fernando Almeida, reforça a ideia de que o governo federal é o grande responsável pela taxação anunciada por Donald Trump.

Ele destaca que, até o fim da semana passada, não havia qualquer indicativo de um “tarifaço” dessa magnitude, mas posicionamentos do presidente Lula durante a cúpula do Brics, principalmente em relação a uma moeda alternativa ao dólar, acabaram levando o governo americano a tomar essa atitude.

Almeida ainda pondera que Trump aproveitou o momento para embutir na carta endereçada a Lula temas relacionados ao julgamento de Jair Bolsonaro e das plataformas digitais de origem americana. No entanto, ele ressalta que isso foi utilizado como “tempero” pelo presidente norte-americano, mas o verdadeiro problema seriam as constantes provocações de Lula, praticadas por motivações ideológicas.

Foto: Divulgação

“Não adianta a esquerda, o Lula e deputados do PT quererem atribuir essa situação ao ‘bolsonarismo’ ou ao Eduardo Bolsonaro, que teria ido aos Estados Unidos para fazer esse ‘lobby’, porque não foi. Sabe-se que até dias atrás, antes das reuniões do Brics, não havia essa decisão de taxar os produtos brasileiros em 50%”, afirma Almeida.

Para o parlamentar, portanto, a situação é lastimável e, de acordo com ele, não há sinalização de que o governo federal esteja tentando amenizar o caso.

“O que se percebe é que, em vez de buscar o diálogo, o governo federal dobrou a aposta e está se posicionando de forma ácida, o que tende a piorar a situação existente. E, no fim das contas, mais uma vez, o governo Lula vai prejudicar quem depende de um emprego digno e, principalmente, pequenos e médios empresários do país”, ressaltou.

“Irresponsabilidade” e “medida unilateral”

Já o deputado estadual Vicente Caropreso enfatiza que o Brasil não pode ficar à mercê da atitude de Donald Trump, que ele classificou como uma “irresponsabilidade”.

“É uma medida unilateral que é incompatível com a história de bom relacionamento entre os nossos povos”, diz.

Ele ressalta que a medida afeta diversas empresas e trabalhadores e que, portanto, é preciso encontrar uma solução.

Foto: Divulgação

“Empresas como WEG e a metalúrgica Tupy são extremamente importantes, e o impacto poderá ser muito negativo não só para a economia do nosso estado, mas de toda a nossa nação”, pontua.

Caropreso diz ainda que segue acreditando na capacidade da diplomacia na resolução deste problema: “Espero que possamos encontrar o mais breve possível um denominador comum, indiferente de ideologia politica.”

Secretário diz que é preciso separar política de negócios

Por sua vez, o secretário de Estado da Agricultura e deputado federal licenciado, Carlos Chiodini, entende que a doutrina política de cada um não pode interferir em questões econômicas – e tanto o Brasil quanto os Estados Unidos precisam entender isso.

Em relação aos efeitos práticos da medida anunciada por Trump, ele cita um estudo do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa), que aponta uma “elevada dependência comercial de setores específicos do agro de SC ao mercado norte-americano”.

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Carlos Chiodini | Foto: Divulgação/Secom SC

Isso porque os Estados Unidos são, há algum tempo, o segundo maior destino das exportações do agronegócio
catarinense, com um fluxo comercial de US$982,1 milhões, equivalente a 13% do total exportado pelo agro estadual em 2024. Além disso, há uma alta concentração em poucos produtos, “o que aumenta a vulnerabilidade destes setores a medidas protecionistas”.

“É muito estranho um intervencionismo estatal desse tamanho vindo dos Estados Unidos, símbolo da liberdade econômica. Já aconteceu no início do ano com outras nações, e o governo americano muitas vezes tem recuado, então imagino que seja possível encontrar um diálogo para, por meio da diplomacia, resolver esse impasse”, destaca.

Cenário em Jaraguá do Sul

Se a taxação de 50% dos produtos brasileiros se confirmar, o cenário em Jaraguá do Sul poderá ser bastante preocupante. O secretário municipal da Fazenda, Tiago Coelho, explica que, em 2024, o município exportou mais de US$1 bilhão e 25% desse total foi para os Estados Unidos, que é o principal parceiro no exterior.

“Desses US$250 a US$260 milhões, 90% são motores, transformadores e geradores da nossa principal empresa, a WEG. Então, nitidamente, podemos ter, sim, um impacto enorme na economia local, caso essa imposição do governo americano se confirme”, diz.

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Tiago Coelho, secretário da Fazenda de Jaraguá do Sul

Ele pontua que 50% a mais de custo para as empresas exportadoras significa que elas terão suas vendas inviabilizadas, uma vez que o cliente final tende a não comprar um produto com esse acréscimo de valor.

“Então, as empresas deixam de vender e, portanto, deixam de arrecadar. Dessa forma, o município também arrecada menos e pode enfrentar problemas para prestar serviços básicos. Por sua vez, as empresas precisam fazer movimentos de contração, que podem ser o de gerar menos empregos ou de demitir colaboradores.”

Ainda conforme o secretário, é preciso levar em conta que essas indústrias não trabalham sozinhas. Afinal, ela negociam e compram de prestadores de serviços locais e, dessa forma, o “tarifaço” pode causar um efeito cascata de prejuízos para todos os envolvidos.

Fiesc diz que não há justificativa econômica

A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) também se manifestou com preocupação diante da tarifa de 50% anunciada pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros.

Do ponto de vista econômico, conforme a Fiesc, não há justificativa para a imposição da tarifa, uma vez que os Estados Unidos registram superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos, chegando a US$ 256,9 bilhões ao se considerar também o comércio de serviços.

Além disso, a entidade reforça que, como nação soberana, o Brasil deve ter suas posições, “certas ou erradas”, respeitadas.

Segundo o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, é fundamental que a diplomacia brasileira atue na busca por uma solução negociada, evitando danos maiores, como o cancelamento de investimentos no país.

“A implementação da tarifa anunciada nesta quarta, de 50%, compromete a competitividade dos produtos catarinenses, uma vez que países concorrentes em setores relevantes para a pauta exportadora de SC podem ser submetidos a taxas bem inferiores”, afirma.

“Conversarei com Lula, mas não agora”

Com o anúncio de Trump tendo pego o Brasil de surpresa, ainda não se sabe qual será o desfecho dessa história. Na última quinta-feira (10), Lula afirmou que, se não houver uma solução até o próximo dia 1º de agosto, ele aplicará a Lei da Reciprocidade.

Já Donald Trump, questionado durante uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (11), disse que pretende, em algum momento, conversar com Lula, mas não agora.

Enquanto isso, especialistas apontam que a imposição das tarifas pode levar o Brasil a acionar mecanismos de defesa comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC). Já os setores afetados buscam se reorganizar para manter sua presença no mercado internacional, torcendo para que, como em ocasiões anteriores, os Estados Unidos voltem atrás em sua decisão.

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Thomas Madrigano

Meu foco é encontrar e contar boas histórias, onde quer que elas estejam. Com experiência em jornalismo multimídia, busco levá-las ao público em diferentes formatos e linguagens, aliando forma e conteúdo para uma experiência enriquecedora.

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