Jaraguá do Sul pode ter arranha-céus? Aposto que você nunca parou pra pensar nisso
Com novas regras urbanísticas, a cidade abre espaço para prédios mais altos, mas será que isso muda o jeito de viver em Jaraguá do Sul?
Imagem ilustrativa com prédios simulados, inspirando debate sobre o futuro urbano de Jaraguá do Sul
Em uma cidade que cresce entre vales, a paisagem de Jaraguá do Sul pode parecer inalterada à primeira vista. Mas, por trás dos casarões enxaimel e da arquitetura industrial, um novo perfil urbano começa a surgir. A pergunta que não quer calar: será que Jaraguá do Sul pode ter arranha-céus?

O que diz o Plano Diretor
Desde a revisão da Lei Complementar nº 219/2018, Jaraguá do Sul eliminou os limites fixos de altura na maior parte da cidade. A exceção são zonas de interesse especial, como o Centro Histórico, onde o limite é de 4 pavimentos (até 12 metros). Em outras áreas sensíveis, como partes da Ilha da Figueira, as restrições variam entre 3 e 8 andares (9 a 26 metros), especialmente por questões de segurança e proteção paisagística.
Fora dessas zonas, a altura permitida passou a ser definida com base no zoneamento urbano e nos índices construtivos. Antes da revisão de 2020, bairros centrais já podiam receber edifícios com até 90 metros de altura (cerca de 30 andares); bairros intermediários tinham limite de 60 metros (cerca de 20 andares); e áreas periféricas, 36 metros (cerca de 12 andares). A nova legislação trouxe mais flexibilidade a esses parâmetros, desde que os empreendimentos apresentem estudos de impacto de vizinhança e respeitem a capacidade da infraestrutura local.

Legislação permite, mas com condições
Jaraguá do Sul não possui uma proibição legal para construção de arranha-céus. O que existe são condicionantes legais: Estudos de Impacto de Vizinhança e Ambiental são exigidos para projetos de grande porte. Essas avaliações servem para entender como o empreendimento afetará a cidade, o trânsito, os serviços públicos e a paisagem urbana. A partir desses estudos, a prefeitura pode exigir contrapartidas das construtoras, como melhorias viárias, obras de drenagem, calçadas e outros investimentos em infraestrutura para reduzir os impactos gerados.
Além disso, o Código de Obras impõe padrões técnicos elevados para garantir a segurança de moradores e usuários. Sistemas de combate a incêndios, elevadores suficientes e saídas de emergência são apenas alguns dos requisitos obrigatórios para que um prédio alto seja aprovado.

Infraestrutura, mobilidade e meio ambiente
Construir alto é possível, mas demanda estrutura. Sistemas de água, esgoto, energia e mobilidade precisam ser reforçados em regiões com edifícios verticais. A concentração de pessoas e veículos em um único ponto pressiona os serviços urbanos e pode gerar congestionamentos e sobrecarga na infraestrutura.
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Por isso, os estudos de impacto analisam exatamente isso: o que aquele prédio trará de exigências para o entorno. Em troca, a verticalização reduz a expansão horizontal desordenada e preserva áreas verdes. Construir para cima pode ser uma solução inteligente, desde que bem planejada.
Visão técnica: verticalizar é mais que construir alto

Para o arquiteto e urbanista Bruno Luiz Gonçalves, mestre em Desenvolvimento Territorial Sustentável, a verticalização só faz sentido se pensada junto com mobilidade, zoneamento e infraestrutura.
“Crescimento não é sinônimo de desenvolvimento. Precisamos de um projeto de cidade que integre dados e planos setoriais com uma pergunta central: que cidade queremos para o futuro?”
Ele ressalta que prédios altos podem tanto melhorar quanto piorar a vida urbana, depende de como são planejados. “Não basta subir andares. O que acontece no térreo é essencial: se o espaço é aberto, arborizado e convida à convivência, temos uma cidade viva. Se o térreo é fechado, com muros e garagem, a cidade perde.”
Bruno também destaca que a verticalização pode ser aliada do meio ambiente e da mobilidade:
“Quando bem planejada, evita que a cidade se espalhe e exige menos da infraestrutura pública, além de reduzir deslocamentos e incentivar o uso do transporte coletivo.”
E reforça: “A arquitetura não pode ser genérica. Cada edifício alto precisa respeitar o lugar onde está, valorizar o passado da cidade e sua paisagem natural. Verticalizar não é só sobre altura, é sobre desenhar um futuro sustentável e humano.”
Cultura e mercado: o que o jaraguaense quer?

Segundo o IBGE e o Censo 2022, Jaraguá do Sul já é a 5ª cidade mais verticalizada de Santa Catarina, com 28% da população vivendo em prédios. Isso significa que uma parcela significativa da população já vive em apartamentos, e esse número tende a crescer. O estilo de vida está mudando: mais apartamentos, mais prédios com áreas de lazer, mais segurança e praticidade.
Novos perfis familiares impulsionam esse movimento. Famílias menores e mais conectadas com a vida urbana preferem moradias em condomínios verticais. E o mercado responde com lançamentos altos e modernos, que oferecem conforto e sofisticação no coração da cidade.
Depoimento do mercado imobiliário

Segundo Charles Medeiros, Diretor da Poder Imóveis e especialista em imóveis de grande porte, a maior preferência por apartamentos em andares mais altos: “Em cerca de 80% dos casos, os clientes escolhem andares elevados. Isso não se deve apenas à vista, eles são mais arejados, silenciosos e valorizam mais, inclusive no preço por metro quadrado.”
Sobre a comparação entre casa e apartamento, ele destaca que a escolha ainda depende do perfil de cada comprador: “Cada tipo de imóvel tem seus pontos positivos e negativos. Mas a busca por praticidade e segurança tem levado muitos a optar pela vida em condomínio.”
Charles também ressalta que as mudanças no Plano Diretor foram fundamentais para abrir espaço a construções mais modernas:
“A nova legislação urbanística flexibilizou os parâmetros e permitiu que Jaraguá do Sul se alinhe ao padrão das cidades mais desenvolvidas.”
Ele reforça, no entanto, que a construção de prédios com até 90 metros de altura ainda é limitada a alguns bairros com infraestrutura e zoneamento adequados: “Há grande interesse do consumidor nesses empreendimentos mais altos e modernos”
Exemplos concretos

O Edifício Jaraguá marcou época com seus 18 andares nos anos 1980. Foi um marco na paisagem urbana e permanece como referência arquitetônica. Por muitos anos, ele foi o mais alto da cidade, em uma época em que ainda não existiam limites legais claros para altura.
Hoje, projetos como o Hyperion Wellness Residence (27 pavimentos) e o Palazzo Del Fiore (20 pavimentos) mostram que a cidade já entrou na era dos “arranha-céus locais”. Esses edifícios representam uma nova fase do mercado imobiliário jaraguaense, mais ousado e conectado com tendências urbanas.

Afinal, o que é um arranha-céu?
O termo “arranha-céu” tem origem no inglês skyscraper e costuma ser associado a prédios enormes de cidades como Nova York ou Dubai. Mas existe um critério técnico: segundo o Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH), órgão referência internacional em edificações altas, um arranha-céu é qualquer prédio com 100 metros ou mais de altura, o que equivale, em média, a 30 andares.
No entanto, esse conceito pode variar de acordo com o contexto. Em cidades como Jaraguá do Sul, onde a paisagem urbana ainda é majoritariamente horizontal, edifícios com 20 andares ou mais já se destacam no horizonte e acabam sendo chamados de “arranha-céus” por incorporadoras e pela população. Mais do que a altura exata, o que define o impacto de um prédio na cidade é como ele se insere no entorno e transforma a paisagem urbana.
Como isso impacta sua vida?
A possibilidade de construção de arranha-céus muda a cara da cidade e também o modo de viver nela. Pode significar mais moradias perto do centro, melhor aproveitamento do solo, menos deslocamentos diários e mais opções de serviços.
Mas também exige planejamento: infraestrutura, trânsito e meio ambiente precisam acompanhar. Entender isso ajuda você a participar das decisões sobre o futuro de Jaraguá do Sul.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.