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Coluna: “Respeita o meu cabelo!” – O manifesto que uniu o país

Nascemos em um país miscigenado. A mistura de etnias compõe o colorido mosaico da cultura brasileira, que é única, inigualável. Porém, ainda há caminhos a serem percorridos nesse sentido.

11/04/2021

Por Sônia Pillon

Essa semana, as plataformas digitais repercutiram o comentário do apresentador Tiago Leifert, que fez uma explanação didática e histórica sobre os cabelos Black Power ao cantor sertanejo Rodolffo, o eliminado da vez do BBB 21. Considerando as polêmicas levantadas na web, não há como deixar esse tema passar batido.

Sem dúvida, o episódio vale uma reflexão, principalmente porque racismo e comentários racistas andam lado a lado, estão presentes no dia a dia, e não somente no Brasil. São situações que acontecem em todos os lugares, indistintamente. E por mais que esse assunto seja incômodo para alguns, não há como escapar: está na nossa frente, exigindo de nós uma tomada de posição, ou uma revisão de conceitos.

Somado a tudo isso, vivemos um período delicado de saúde pública com a pandemia, em que as emoções estão à flor da pele. As pessoas estão naturalmente fragilizadas emocionalmente e se melindram com mais facilidade. Tudo toma uma dimensão ainda maior quando há feridas abertas, ou mal cicatrizadas.  É como ligar uma sirene, ou riscar um fósforo em um depósito de gás.

Para quem não acompanhou o episódio do reality, o cantor sertanejo, que neste domingo foi entrevistado no Faustão, reconheceu que aprendeu “lições importantes” enquanto esteve confinado no BBB. Ele se referia principalmente em relação às reações negativas que provocou ao considerar “parecido” o cabelo desgrenhado da fantasia de um pré-histórico com o cabelo Black Power do professor de Geografia João, ex-colega de confinamento. Na hora, o professor só conseguiu responder que o cabelo dele era diferente do pré-histórico, mas ficou profundamente magoado com o que ouviu. Estava exposta uma situação recorrente em rede nacional, que ele e muitos outros passam.

Como não poderia deixar de ser, a atitude do sertanejo desencadeou forte rejeição popular, não somente dos afrodescendentes e de militantes do movimento negro, mas de todos que defendem a igualdade racial. Mesmo ele declarando não ter tido a intenção de magoar, o estrago já estava feito e foi determinante para a eliminação de Rodolffo, que se desculpou repetidamente e, ao que tudo indica, aprendeu a lição.

Nascemos em um país miscigenado. A mistura de etnias compõe o colorido mosaico da cultura brasileira, que é única, inigualável. Porém, ainda há caminhos a serem percorridos nesse sentido. É um processo.

E para quem quiser aprender um pouco mais sobre esse tema, além de se manter bem informado e aberto ao aprendizado, a dica é assistir filmes, documentários e entrevistas com especialistas que abordem negritude e branquitude. O universo para esse tipo de pesquisa é vasto. Pessoalmente, recomendo dois filmes ainda disponíveis na Netflix: A voz suprema do blues e Palmeiras na neve. E para os que apreciam uma boa leitura, aí vai outra dica, a obra “Pequeno Manual Antirracista”, de Djalma Ribeiro.

Se colocar no lugar do outro. Esse é o caminho.

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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