Saiba por que o ovo explode no micro-ondas e o que mais não se deve esquentar no aparelho

Outro problema comum na hora de requentar comida é a perda do sabor e textura próprios do alimentos. Um exemplo é a famosa pizza do dia seguinte, que fica com um aspecto “emborrachado”.

O Guia de Compras conversou com especialistas para entender por que esses fenômenos acontecem e o que você pode fazer para evitá-los.

• Ovos, vegetais inteiros e embutidos

Batatas, ovos, tomates e salsichas inteiros devem ser tratados com cautela. O que esses alimentos têm em comum é que suas cascas ou peles agem como uma película protetora.

“O micro-ondas é um equipamento que emite ondas em baixa frequência, o que gera calor e aumenta a pressão no interior do alimento”, explica Elke Stedefeldt, nutricionista e professora do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp e colaboradora da Associação Brasileira de Nutrição.

“O aumento de pressão dentro de um espaço fechado como o micro-ondas aliado a essa película pode fazer com que o alimento exploda”, diz Stedefeldt.

“Mas nada é perigoso se você seguir as recomendações do fabricante”, completa a nutricionista.

Nos manuais de instruções de seus produtos, a Consul, a LG e a Electrolux avisam que esses tipos de vegetais e embutidos devem ser furados com um garfo ou cortados com faca antes de serem aquecidos.

Isso vale para pratos que já chegam do supermercado prontos, como lasanhas e hambúrgueres congelados. A embalagem deve ser aberta antes de ser inserida no eletrodoméstico e as instruções de uso fornecidas no pacote do produto devem ser seguidas com atenção.

Já para os ovos, a regra é mais dura: nunca esquente ovos com casca ou mesmo ovos inteiros já cozidos no aparelho. Se crus, os ovos devem estar sem casca e com a gema furada e, se cozidos, devem ser cortados.

• Água, óleo e outros líquidos

Outro caso que pode levar a queimaduras graves é o fenômeno de ebulição tardia, ou erupção tardia de bolhas, que pode acontecer com líquidos aquecidos no micro-ondas.

“Diferente de um forno elétrico, que esquenta a comida por convecção, o micro-ondas esquenta por meio da condução”, diz Stedefeldt.

Segundo a nutricionista, na convecção, o calor faz a massa de líquido se movimentar em porções. Na condução, as ondas aquecem a água dentro das moléculas do líquido e não causam essa movimentação. Por isso, é mais difícil que a água forme bolhas, especialmente se for livre de impurezas (como água filtrada ou destilada).

“A água pode chegar à temperatura de fervura com pouca ou nenhuma bolha e, olhando pela porta do micro-ondas, você pode achar que está menos quente”, explica Stedefeldt. “Na hora que a porta abre, você causa uma diferença de pressão. Isso vai causar a ‘explosão’ e fazer com que o líquido fervente espirre”, completa.

Mexer no recipiente ou despejar alguma substância nele – como café solúvel, por exemplo – também pode fazer com que o líquido imediatamente entre em ebulição e espirre.

Nas orientações de segurança dos produtos, os fabricantes alertam para o risco da ebulição tardia e recomendam alguns passos para evitar que isso aconteça:

1. Mexer o líquido antes do aquecimento.
2. Não usar recipientes com gargalos estreitos, como garrafas.
3. Após o aquecimento, deixar o líquido descansar dentro do micro-ondas por cerca de 30 segundos.
4. Ter cuidado ao adicionar substâncias ou usar utensílios para mexer no líquido após o aquecimento.

Stedefeldt também alerta contra esquentar por mais tempo ou em potência mais alta do que o necessário. “Isso já me aconteceu. Não fiz o cálculo, esquentei muito e, na hora de abrir a porta, espirrou. Mas foi erro meu”, diz ela.

• Pães, amendoim e outros alimentos secos

Essas comidas têm pouca umidade no seu interior e, se aquecidas além do necessário, podem inclusive pegar fogo.

“O que você tem que cuidar é da potência e do tempo em que deixa o alimento no micro-ondas”, diz Elke Stedefeldt.

Um inconveniente comum ao usar o micro-ondas é quando a comida perde seu gosto ou textura característicos, tornando-se desagradável. A massa da pizza requentada fica com uma sensação de “emborrachada”, bem diferente do crocante de quando está fresquinha.

Isso também tem a ver com o método de aquecimento por condução do micro-ondas, mencionado acima.

“Para ficar crocante, o alimento precisa perder água. O micro-ondas não funciona de forma a retirar a água do alimento, mas sim de forma a aquecer a água dentro do alimento”, diz Stedefeldt.

“Para resolver isso, alguns modelos vêm com a função grill, que funciona com uma resistência dentro do aparelho, como um forninho elétrico”, explica.

Já na hora de tentar salvar um pão duro demais, o micro-ondas pode ajudar. “Se você pincela ele com água e esquenta por 10s, o pão volta a amolecer, apesar de poder ficar um pouco ‘borrachudo’”, conta a nutricionista.

Se a ideia é requentar uma comida pronta que foi congelada, mas que fica com um gosto estranho, o problema pode estar na técnica de congelamento, e não no aquecimento.

“Quando a comida congela devagar, pode formar cristais de gelo muito grandes e pontiagudos, que perfuram a membrana das células do alimento e deixam a água vazar. É isso que faz com que grande parte do sabor e textura se perca”.

“O ideal é congelar de forma rápida, para que cristais de gelo pequeninos sem essas pontas se formem. A água congelada da célula fica uniforme e, consequentemente, o alimento fica mais firme”.

Além dos alimentos, existem também os materiais proibidos de se colocar no micro-ondas. Os materiais mais seguros de usar no eletrodomésticos são a cerâmica e o vidro (exceto os vidros frágeis, como taças).

Veja as recomendações da nutricionista os fabricantes para outros materiais:

• Plástico

Apenas recipientes de plástico apropriado para micro-ondas devem ser usados, por isso não esqueça de checar a informação antes de comprar, nas especificações do produto.

Além disso, procure também selos que indiquem que o item seja livre de substâncias tóxicas. “Os plásticos feitos com dioxina, bisfenol A e ftalatos não devem ser usados”, diz Stedefeldt.

No caso do bisfenol A, o selo costuma usar a sigla, e não o nome da substância. Portanto, busque produtos que indiquem serem “livres de BPA” (ou, em inglês, “BPA free”).

O isopor é um derivado de plástico (poliestireno expandido), portanto vale a regra de não colocar no aparelho a não ser que seja explicitamente citado como próprio para micro-ondas.

• Metais

Recipientes de metal não devem ser usados, pois podem gerar faíscas e danificar o aparelho. Também não se deve usar utensílios de vidro com partes em metal, mesmo que pequenas.

Papel alumínio deve ser evitado, pois causa o mesmo efeito, mas pode ser usado para cobrir partes da comida (nunca o alimento inteiro). Também não pode ser posicionado próximo às paredes do micro-ondas e deve ficar a pelo menos 5 cm delas.

De forma similar, aquelas embalagens de marmita feitas de alumínio também podem ser usadas, desde que todas as medidas de segurança sejam tomadas. Segundo a Associação Brasileira de Alumínio, as medidas são:

1. A embalagem deve estar sem tampa e cheia até a boca. Se não estiver cheia, a comida deve ser transferida para um prato.
2. Apenas uma embalagem deve ser aquecida por vez.
3. Ela não pode encostar nas paredes do aparelho e deve estar a pelo menos 5 cm de distância delas. Para garantir, use uma tampa própria de micro-ondas sobre a marmita.
4. Use um protetor de mãos para retirar a embalagem do aparelho, pois o alumínio também esquenta.

• Papeis

Recipientes ou embalagens de papel também não devem ser usadas, pois podem se incendiar dentro do micro-ondas.

• Alimentos ensacados

Seja qual for o material, alimentos ensacados podem explodir devido à pressão gerada dentro do saco.

Mas e a pipoca? “Ela vem em uma embalagem projetada para ter um espaço suficiente para conter a pipoca pronta, por isso pode ser aquecida”, diz Elke Stedefeldt.

Por esse mesmo motivo, não é recomendado tentar fazer uma versão caseira da pipoca de micro-ondas em embalagens ou recipientes improvisados.

Abaixo, veja fornos micro-ondas e acessórios para usar com o aparelho. Os produtos custavam entre R$ 20 e R$ 1.180, no começo de agosto, quando consultados nas lojas da Internet.