Do império à festa: a 35ª Schützenfest como espelho da colonização multifacetada de Jaraguá do Sul
Foto: Prefeitura de Jaraguá do Sul
A 35ª edição da Schützenfest, a maior Festa de Atiradores do Brasil, é mais do que um evento festivo; é a celebração viva de um projeto de colonização singular. Para compreender a profundidade cultural que sobe ao palco em 2025, é preciso olhar para o passado, para a figura de Emil Charles Jourdan. Este engenheiro belga, vindo de Namur, não era apenas um concessionário de terras; era o “Representante dos Negócios da Corte”, encarregado de administrar os domínios do Conde D’Eu e da Princesa Isabel.
Jourdan planejou uma colonização que, embora fortemente marcada pela presença germânica, estava aberta ao “congraçamento dos povos”. Ele desenhou um território onde diferentes etnias europeias e africanas poderiam não apenas coexistir, mas prosperar juntas sob o solo brasileiro. Hoje, essa visão visionária se materializa na corte da Schützenfest .
A corte de 2025: síntese de etnias e tradições
A realeza atual, estampada na foto a seguir, é a prova cabal desse sucesso colonizador. No centro, temos a Rainha Ana Letícia Hornburg, da Sociedade Aliança, do bairro Rio Cerro II. Ana carrega em seu sangue e em sua faixa a herança pomerana, povo que formou comunidades coesas e resilientes em vales como o do Rio Cerro. Mais do que isso, ela é a ponte entre gerações: filha da primeira rainha da festa (1989), ela personifica a continuidade da tradição do Schützenverein (sociedades de tiro), herdada dos ancestrais do hemisfério norte e mantida viva pelos antepassados do sul.

Ladeando a rainha pomerana, temos as princesas que completam este mosaico cultural. A 1ª Princesa, Casilia Alice Horst (Salão Centenário), traz a forte marca da origem alemã clássica. Já a 2ª Princesa, Mariana Dalcanali (Sociedade Amizade), com seu sobrenome de origem italiana, simboliza a integração perfeita idealizada por Jourdan: uma descendente de italianos que abraça e representa com orgulho a tradição teuto-brasileira do tiro. Juntas, Hornburg, Horst e Dalcanali não são apenas rostos bonitos; são a representação demográfica e cultural da história de Jaraguá do Sul.
Conteúdos em alta
Convite para testemunhar a história
A foto publicitária veiculada em 6 de novembro não é apenas um chamado para o chope e a música; é um convite para testemunhar a história em movimento. Quando a 35ª Schützenfest começa, ela celebra o triunfo de uma comunidade que soube honrar as raízes de seus fundadores – sejam eles belgas, alemães, pomeranos ou italianos – transformando a diversidade em uma identidade única e coesa. Prestigiar a festa é, portanto, um ato de reconhecimento a essa longa jornada que começou com as medições de terra do engenheiro de Namur e culmina hoje na alegria dos salões de tiro.
Ademir Pfiffer
Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais