Músico de Jaraguá do Sul lança trilogia infantil inspirada em bichos da região e memória afetiva; ouça!
Imagem: Divulgação/Projeto Criaturas Musicalizantes
Um sapo que chora, um guaxinim que espirra, um gafanhoto que só pensa em pudim. Esses são alguns dos personagens de “Criaturas Musicalizantes”, novo projeto musical de Marco Antonio Jaguarito, artista aqui de Jaraguá do Sul.
Voltado para as infâncias, o trabalho mistura bichos do Vale do Itapocu, memórias afetivas e educação musical em cinco faixas que buscam fugir do clichê da “música infantil”.
A obra é o primeiro capítulo de uma trilogia que formará o álbum “No Trem do Itapocu”. O projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc com apoio da Prefeitura de Jaraguá do Sul e da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer.
O EP tem produção de Carlos Trilha, referência na música brasileira por sua carreira ao lado de ícones como Renato Russo e Marisa Monte, e por projetos que lhe renderam prêmios no Grammy Latino.

Músicas com bicho, ritmo e imaginação
As canções de “Criaturas Musicalizantes” não são apenas educativas: são também um convite à fantasia, à percepção sonora e à exploração corporal. Em “Gafa, o Gafanhoto”, por exemplo, os ouvintes acompanham um personagem egoísta que só quer saber de pudim.
A brincadeira sonora e os desafios físicos levam crianças e adultos a pularem, contarem e interagirem.
Conteúdos em alta
Já em “Multicolorido, o Camaleão”, a música se transforma em um jogo de atenção: ao ouvir certas palavras, o público deve bater palmas ou os pés.
“O Sapo do Itapocu” mergulha no emocional ao apresentar um sapo triste que encontra alegria com um suco de caju. A faixa também homenageia o rio que corta o Vale do Itapocu.
“O Espirro do Guaxinim” é pura energia e explora a rima com “atchim” para estimular a região diafragmática, essencial na vocalização. Com bases rítmicas inspiradas na antiga banda de Jaguarito, a Samambaia Sound Club, a música transforma um espirro em experiência sonora.
Fechando o EP, “Cigarra Cantou” convida o ouvinte a escutar os sons da natureza à noite. A canção homenageia os povos originários Kaygang e Xokleng e inclui o instrumento Rói-Rói, que remete à infância do artista em Fortaleza, CE. Além disso, a faixa aborda a pesca noturna como atividade de sustento, ampliando o imaginário sonoro com elementos como o tambor do indiozinho e sons da floresta.
Da sala de aula para o estúdio
Marco Antonio Jaguarito também é educador e musicoterapeuta. Toda a obra nasceu de vivências com crianças em sala de aula, onde ele desenvolveu atividades musicais que aliam técnica vocal, coordenação motora, imaginação e expressividade.
“Cada música tem uma função pedagógica. Tem uma música que estimula o pulo, outra que ativa a musculatura vocal, outra que convida à fantasia. Nada é por acaso”, afirma.
Ele reforça que musicalização não deve ser vista como entretenimento vazio, mas como ferramenta didática completa. No ensino fundamental, onde as individualidades se tornam mais presentes, a música pode auxiliar na socialização, no raciocínio lógico e no desenvolvimento emocional. “A organização musical ativa o cérebro inteiro. Isso está comprovado.”
Recentemente formado em musicoterapia, Jaguarito destaca o potencial terapêutico da arte: “A música não cura, mas ajuda a manter o equilíbrio. Ela tem um papel complementar importante em diversos tratamentos”.

Os nomes por trás do som
Além de Carlos Trilha na produção musical, o EP contou com uma equipe de músicos experientes e conectados ao universo do artista. Roger Loz, baterista natural de Jaraguá do Sul, é parceiro de longa data de Jaguarito. No baixo, Pablo Varela trouxe firmeza e groove às canções. E Rodrigo Tranquilo, nos teclados e pianos, ajudou a dar textura e leveza ao som.
“São amigos que caminham comigo há anos. Isso fez toda a diferença na hora de gravar. A gente já se entende no olhar, sabe? Tudo fluiu com muita harmonia”, diz Jaguarito. “A cereja do bolo foi o Trilha, que topou mergulhar nesse universo das infâncias comigo pela primeira vez”.
Ele lembra que procurou outros produtores especializados em música para crianças, como os responsáveis pelas trilhas do Castelo Rá-Tim-Bum e do grupo Tiquequê.
“Mas quando o Trilha aceitou, tudo fez sentido. Ele trouxe um olhar maduro, sensível e incrivelmente técnico ao mesmo tempo. E olha que ele tem três Grammys Latinos no currículo. Não é pouca coisa”

Incentivo público e valor cultural
Jaguarito faz questão de defender o papel dos editais culturais: “A cultura é direito garantido pela Constituição. O artista devolve isso à sociedade com projetos que promovem bem-estar e reflexão.”
Ele lembra que o processo de seleção dos projetos financiados por leis de incentivo é criterioso e baseado em relevância social. “Quem critica o uso de verba pública para cultura precisa rever conceitos. A cultura não é só entretenimento: ela molda comportamento e qualidade de vida.”
Para ele, é injusto pensar que artistas não trabalham: “Tem gente que acha que a gente não faz nada, mas quem diz isso é porque não trabalha com o que ama. Criar arte exige dedicação o tempo inteiro.”

Como isso impacta sua vida?
O EP “Criaturas Musicalizantes” é um produto cultural desenvolvido em Jaraguá do Sul, com músicas que resgatam bichos da região e transformam som em ferramenta de educação e afeto. Para famílias, escolas e crianças da região, é uma oportunidade de aprender brincando, fortalecendo os laços com o território e a memória afetiva.
Maria Eduarda Günther
Jornalista em formação na FURB, nascida em Jaraguá. Cresci entre filmes, livros e peças teatrais. Após criar conteúdo para redes socias sobre Formula 1 e esportes descobri a paixão por jornalismo e a área de comunicação. Nunca perco a oportunidade de conhecer novos lugares e novas histórias por ai.