Tanto faz | 14/11/2025 | Atualizado em: 14/11/25 ás 14:29

Fim de uma era! Após quase 40 anos de história, Frank Lanches deixa saudade em Jaraguá do Sul

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Fim de uma era! Após quase 40 anos de história, Frank Lanches deixa saudade em Jaraguá do Sul

Foto: Reprodução/Google Maps 2011

Tem lugares que viram parte de uma comunidade. O Frank Lanches era um deles. Quem passou pela Ilha da Figueira entre 1995 e 2025, com certeza viu, comeu ou pelo menos ouviu falar daquele ponto onde o sabor era sinônimo de encontro com os amigos. A fachada simples e o aroma de pão na chapa serviam como convite diário à memória afetiva dos jaraguaenses.

O local fechou as portas oficialmente alguns meses atrás, mas com a demolição do espaço, ao lado do colégio Homago ficou impossível ignorar a saudade. Por isso, o JDV conversou com quem viveu essa história, o casal jaraguaense Lauri (o Frank), de 63 anos, e Marlete da Silva, 65.

Frank no balcão da lanchonete com copos organizados e garrafas ao fundo
Foto: Arquivo pessoal

Eles abriram o coração – e a memória – para contar como um pequeno negócio familiar virou, mais tarde, parte do imaginário e do coração da cidade. Uma Kombi, um carrinho de cachorro-quente, e a vontade de trabalhar com alegria: assim nasceu o Frank Lanches.

A origem de um sonho improvisado

Tudo começou no dia 25 de julho, aniversário de Jaraguá do Sul de 1987. Frank, então com pouco mais de 20 anos, trocou seu Opala por uma velha Kombi e um carrinho de cachorro-quente. Posicionado na esquina da Marechal Deodoro, perto da Grafipel, na época em um terreno baldio, em frente ao Banco Besc, ele começou a vender dog, refrigerante e cerveja – de segunda a segunda.

“A Kombi era velha, mas era o começo de tudo”, relembra Frank. Na época, o improviso era a regra: ele refrigerava as bebidas em casa e levava tudo para a rua.

Trabalhava durante o dia como garçom e, à noite, encarava a lida do carrinho com entusiasmo. Aos poucos, foi conquistando os clientes da noite, os trabalhadores da região e estudantes que circulavam por ali. Com o sucesso, chegou o momento em que decidiu expandir.

A primeira sede fixa veio em dezembro de 1988, na Rua Roberto Ziemann, no bairro Czerniewicz – próximo ao antigo Salão Doering, palco de bailes que marcaram gerações. Ali, Frank e Marlete começaram a servir também hambúrgueres, bolinhos de carne, ovos em conserva.

Fachada antiga do Frank Lanches em terreno de terra batida, com estrutura simples e varanda aberta
Fotos do espaço em frente ao antigo salão Doering. | Foto: arquivo pessoal

Não foi preciso pensar muito em como chamar o novo espaço. O apelido “Frank” já estava na boca dos fregueses; e foi fado por um cliente chamado Renato.

“Um dia ele olhou pra mim e disse: não fica chateado, mas vou te falar uma coisa ‘teu olhar parece o do Frankenstein’. Aí entrei na brincadeira e pegou. Frank pra cá, Frank pra lá… Quando a gente decidiu abrir o ponto fixo, o nome já estava pronto”, conta ele, rindo.

Prédio do antigo Salão Doering, região em que estava instalado a primeira sede do Frank Lanches no Czerniewicz. | Foto: Reprodução/Google Street View

Crescimento, tropeços e reinvenção

O sucesso levou o casal a mudar de ponto em 1991. Na frente do antigo Líder Clube, Frank Lanches passou a oferecer também almoço e café da manhã, atendendo operários da Brasil Telecom, trabalhadores do comércio e famílias da vizinhança.

Fachada do prédio antigo do Frank Lanches com crianças de bicicleta em frente ao restaurante
Foto: arquivo pessoal

“A gente fazia de tudo. Servia, cozinhava, limpava. Era puxado, mas a gente era jovem e cheio de energia”, conta Marlete. “Tinha dia que mal dava tempo de sentar.”

Mesmo com o trabalho árduo, o casal seguia firme. Mas, em 1994, decidiram tentar algo diferente: montaram um salão de baile em Schroeder. A ideia era diversificar, apostar em outro público. “Mas não era nossa praia. Durou pouco”, admite Frank.

Em 1995, voltaram a Jaraguá do Sul e encontraram um ponto na Ilha da Figueira, ao lado do Colégio Homago. Foi ali que o Frank Lanches viveu sua era mais longa e marcante.

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Três décadas na Ilha da Figueira

Interior da lanchonete Frank Lanches com mesas e cadeiras organizadas, balcão ao fundo e estrutura de madeira
Foto: Arquivo pessoal

De 19 de junho de 1995 até setembro de 2025, o Frank Lanches virou parte da alma da Ilha da Figueira. Foram 30 anos servindo lanches, porções, pizzas e, principalmente, construindo laços.

“A gente viu gente se apaixonar ali. Casais que começaram na mesa da frente, voltaram anos depois com os filhos. Depois, com os netos”, diz Marlete, emocionada. “Era mais que vender lanche. Era ver a vida acontecer.”

O lanche mais pedido era o cheese bacon com batata frita, sempre com o pão torrado na chapa, como nos velhos tempos.

“O pessoal dizia que era lanche raiz. E a gente fazia com gosto, com capricho”, afirma Frank. E talvez o verdadeiro tempero fosse mesmo o carinho. “Nunca deixei de atender com um sorriso. Mesmo cansado, mesmo doente. O balcão era meu palco, minha casa”, emociona-se.

As festas juninas eram um capítulo à parte. Em algumas edições, a lanchonete abria no sábado de manhã e só fechava no domingo, já de madrugada. “Tínhamos cinco garçons, mas mesmo assim não parávamos um minuto”, lembra Marlete. E mesmo nos dias comuns, o movimento era constante. “A freguesia era fiel. E virava família.”

Frank e Marlete junto dos filhos adolescentes nos anos 2000. | Foto: Arquivo pessoal

Mas o sucesso do Frank Lanches nunca foi só sobre comida. Marlete diz que o segredo morava no jeito como o marido tratava as pessoas:

“Ele nunca mostrava cansaço. Mesmo depois de um dia inteiro no balcão, o atendimento era sempre com o mesmo carinho. Acho que isso tocava as pessoas.”

No começo, ela conta, atendiam diariamente e não tinham horário para fechar. O local abria cedo e ia até a hora em que os clientes paravam de chegar. Somente mais tarde, depois de anos passaram a limitar o funcionamento. “E também tinha o lanche, né? Sempre feito com capricho, com tudo muito limpo. Isso conta demais para o sucesso de um estabelecimento.”

Despedida com gratidão e saudade

O encerramento das atividades aconteceu em 21 de setembro de 2025. Depois de décadas de trabalho, o casal decidiu que era hora de descansar, curtir os finais de semana, participar de festas que nunca conseguiam ir. O terreno onde funcionava a lanchonete era alugado e voltou para as herdeiras, que hoje reformam o espaço.

“Quando pediram o terreno, foi como se tirassem o meu chão. A gente sabia que ia acabar um ciclo. Mas doeu”, diz Frank.

Apesar da dor, o sentimento predominante é o de gratidão. “Gente que vinha de fora e voltava só para comer com a gente. Clientes que viraram amigos. Pessoas que nos ajudaram a crescer”, lembra Marlete. “A gente só pode agradecer por tudo que viveu ali.”

Frank ainda não descarta voltar – mesmo que em outro formato, menor, mais íntimo.

“Quem sabe um dia monto algo pequenininho. Para os antigos sentirem de novo aquele sabor que marcou época. Porque o Frank pode até ter fechado, mas o tempero continua comigo.”

Frank Lanches foi mais que uma lanchonete. Foi testemunha do tempo, do crescimento da cidade, dos laços que o alimento constrói. E mesmo não estando mais presente fisicamente, o cheiro da chapa, o barulho da fritadeira e o sorriso do Frank permanecem vivos na memória de Jaraguá do Sul.

Como isso impacta sua vida?

Memórias como a do Frank Lanches não apenas despertam saudade, mas também nos lembram de que os lugares que marcam nossa história são construídos com afeto, constância e comunidade. Relembrar esse espaço é, de alguma forma, manter viva a Jaraguá de ontem que ainda mora dentro da gente.

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Gabriela Bubniak

Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.

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