Tanto faz | 26/09/2025 | Atualizado em: 26/09/25 ás 11:55

4 histórias reais e inacreditáveis guardadas no Museu da Paz em Jaraguá do Sul

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4 histórias reais e inacreditáveis guardadas no Museu da Paz em Jaraguá do Sul

Foto: Bruna Friedel/JDV

Mesmo distante dos campos de batalha, Jaraguá do Sul esteve mais perto da Segunda Guerra Mundial do que se pode imaginar. A prova disso está no FEB – Museu da Paz, na antiga Estação Ferroviária, onde se preservam histórias de 99 soldados da região que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Com boa parte do acervo formado por doações de veteranos e famílias, o museu emociona ao oferecer um olhar regional da Segunda Guerra, e mostra como o conflito global, travado entre 1939 e 1945, também transformou a história da cidade.

Mas e você, já esteve no Museu da Paz? Já percorreu as salas e descobriu as histórias que ele guarda?

Com o propósito de compartilhar as memórias preservadas no local, o JDV mergulhou neste acervo riquíssimo e descobriu 4 histórias inacreditáveis que todo jaraguaense deveria conhecer.

Um acervo de memórias

Mas para entender o peso dessas histórias, é preciso primeiro conhecer o espaço que as preserva.

Antes de se tornar o Museu da Paz como os jaraguaenses conhecem, o acervo dos pracinhas – soldados brasileiros que lutaram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial – ocupava uma sala temática no Museu Histórico Emílio da Silva. Foi só em 2008, após a revitalização da antiga Estação Ferroviária, que o espaço ganhou nova vida.

Mais tarde, o antigo Museu do Expedicionário ganhou novo nome: FEB – Museu da Paz, que simboliza o convite à reflexão sobre a guerra e a construção da paz. Em 2023, o espaço passou por mais uma revitalização, reafirmando sua missão de preservar, de forma independente, a memória dos soldados da Força Expedicionária.

A Associação dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), fundada em 1976, foi decisiva na criação do atual museu. Desde então, segue como uma das principais responsáveis por manter viva a história dos pracinhas da região.

Ivana Cavalvanti, Chefe dos Museus Municipais, conta que o espaço promove ações como monitorias e exposições para estimular a reflexão sobre a guerra.

“Anualmente, no dia 8 de maio, é realizada, junto da Associação dos Amigos do Museu da Paz, uma cerimônia que celebra o Dia da Vitória e aproveitamos para homenagear os pracinhas e a seus familiares, fortalecendo o vínculo entre a comunidade e essa memória coletiva”.

Assim, o lugar se tornou não só um lar para as memórias, mas também de aprendizado. E, por trás de suas vitrines, estão também acontecimentos singulares.

Conheça 4 histórias marcantes e curiosas guardadas no museu

Por trás de cada objeto, cada uniforme e cada fotografia expostos no local, há fragmentos que compõem uma história real. Algumas emocionam pela dor da perda, outras surpreendem pela coincidência, pelo acaso ou pelos detalhes que refletem o tempo.

Selecionamos quatro delas que revelam o verdadeiro valor do acervo – não pelas peças em si, mas mas pelo que representam. Entre irmãos que lutaram sem saber um do outro e relíquias redescobertas por acaso, essas memórias permanecem vivas e continuam a surpreender a cada visita.

1. Os irmãos que nunca se encontraram

O corupaense Arthur Scheibel foi contratado, em 1938, como tripulante de um dos navios mercantes da Companhia Nacional de Navegação Costeira, antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial. Em uma viagem, a embarcação foi atingida por um navio de bandeira alemã, o que levou ao seu naufrágio. Arthur sobreviveu ao ataque e foi resgatado por um navio norte-americano que passava perto da tragédia.

Imagem antiga sobre o expedicionário Arthur e uma descrição sobre ele
Foto: Bruna Friedel/JDV

Levado ao país estrangeiro, o jovem brasileiro naturalizou-se americano e alistou-se na Marinha de Guerra dos Estados Unidos, conhecida como US Navy. Com a guerra instaurada no mundo, Arthur embarcou no navio que dava suporte às tropas americanas no desembarque na Normandia, litoral da França – que sediou uma das batalhas mais sangrentas e agressivas da 2ª Guerra, o Dia D, em junho de 1944.

Aos 26 anos, o jovem Tenente faleceu em combate. Ele foi um dos dois brasileiros que estavam presentes naquele dia histórico.

Em setembro de 1944, seu irmão, o jaraguaense Bruno Scheibel se alistou e embarcou em direção à Europa com a esperança de encontrar o irmão mais velho, sem saber que ele havia falecido dois meses antes.

Imagem antiga de Bruno com uniforme de expedicionário e descrição sobre ele ao lado.
Foto: Bruna Friedel/JDV

Bruno fez parte da Companhia de Canhões Anti-Carro (CCAs) e participou das Batalhas de Castelonuevo, Monte Castello e Montese. Voltou ao Brasil com vida, mas trazendo no peito o vazio de não ter encontrado o irmão que tanto buscava.

2. Medalhas “Sangue do Brasil”

Antônio Carlos Ferreira, João Zapella, Harry Hadlich e Gumercindo da Silva. Esses são os nomes de expedicionários que partiram de Jaraguá do Sul e perderam a vida em combate durante a Segunda Guerra Mundial.

Como forma de reconhecimento e homenagem, suas famílias receberam a medalha “Sangue do Brasil”, concedida exclusivamente a soldados feridos ou mortos em campo de batalha.

Feita em bronze, a peça carrega símbolos fortes: o sabre das Armas da República, três estrelas vermelhas que remetem aos ferimentos do General Sampaio na Batalha de Tuiuti, ramos de pau-brasil e uma faixa com o escrito “Sangue do Brasil”.

Medalhas de combate,"Sangue do Brasil" no lado direito.
Foto: Bruna Friedel/JDV

Para Ivana Cavalcanti, essa é uma das relíquias de maior valor simbólico no acervo do Museu da Paz. E não foi só a medalha que marcou esses ritos de despedida. O Brasil também recebeu as cinzas dos soldados enviadas do exterior.

As famílias chegaram a receber apenas as caixas simbólicas, enquanto as cinzas permaneceram no Rio de Janeiro. Somente em 1960 elas foram trazidas ao país, mas não há registros oficiais de que tenham ocorrido comemorações na época.

Pequena caixa de madeira que trouxe cinzas do soldado ao Brasil.
Foto: Bruna Friedel/JDV

Durante os ritos fúnebres, as famílias dos soldados também receberam a Bandeira Nacional, entregue pelo Comando Militar Brasileiro. A cerimônia aconteceu em 1945 no espaço que, mais tarde, se tornaria a atual Praça dos Expedicionários. O monumento em homenagem aos pracinhas e a própria denominação da praça só foram oficializados em 1985. Desde então, o local permanece vivo na memória da cidade como um marco de dor, honra e reverência.

Bandeira do Brasil utilizada em ritos fúnebres
Foto: Bruna Friedel/JDV

3. O soldado que morreu por acidente

O jaraguaense Harry Hadlich embarcou para a Itália em julho de 1944, integrando uma das unidades da Força Expedicionária Brasileira que atuaram diretamente no combate durante toda a Campanha da FEB. Enfrentou meses de batalhas, medo e vivenciou cenas que ficariam marcadas na história mundial. Mas não foi o campo de guerra que encerrou sua trajetória.

No dia 2 de junho de 1945, quando a guerra já havia se encerrado, uma granada explodiu acidentalmente e tirou a vida de Harry. Ele faleceu fora de combate, aos 24 anos.

Foto de Harry Hadlich, soldado morto por acidente fora de combate.
Foto: Bruna Friedel/JDV

4. A bolsa de V. Leite

Entre os objetos simbólicos do Museu da Paz, uma bolsa carrega uma história que atravessou décadas. Ela pertenceu a Virginia Leite, uma das enfermeiras voluntárias que acompanharam a Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra.

Na época, os itens utilizados pelas profissionais de saúde precisavam ser devolvidos ao fim da missão. E assim foi: a bolsa retornou ao Brasil como mais um objeto entre tantos outros.

O que ninguém imaginava é que, anos depois, Virginia – já morando no Paraná – visitaria o museu em Jaraguá do Sul e reconheceria ali, entre vitrines e memórias, sua antiga bolsa de guerra.

O nome gravado no tecido confirmava: aquele acessório, resistente ao tempo, guardava parte da trajetória de quem cruzou o oceano para cuidar de vidas.

Bolsa usava por enfermeira voluntária na segunda guerra mundial
Foto: Bruna Friedel/JDV

Bônus: a bússola escondida!

Nem todas as descobertas do Museu da Paz vieram de arquivos ou pesquisas. Algumas surgem de olhares atentos e curiosos – como o de uma criança que visitava a exposição.

Ao observar um binóculo posicionado ao lado de uma antiga bússola, usada pelos soldados na Itália, ela levantou uma hipótese: esse binóculo também possui uma bússola dentro!

O detalhe havia passado despercebido pelos historiadores do museu. De fato, o binóculo guardava uma pequena bússola embutida, localizada bem entre as lentes. A descoberta virou parte do acervo e mostra que, no Museu da Paz, cada visita pode trazer uma nova camada à história.

Binóculos antigo com pequena bússola no meio.
Foto: Bruna Friedel/JDV

À procura dos rostos da guerra

Você reparou que, em duas das histórias acima, conseguimos reconhecer o rosto dos expedicionários? Infelizmente, essa não é a realidade de todos.

Isso porque alguns pracinhas jaraguaenses que embarcaram para a Segunda Guerra Mundial não têm, até hoje, uma fotografia no acervo do Museu da Paz.

Para mudar isso, o Museu da Paz lançou a campanha “Você tem fotografia desse expedicionário?”, que busca reunir imagens de combatentes que fizeram parte da história da cidade.

Campanha do Museu da Paz para encontrar fotos dos expedicionários.
Foto: Bruna Friedel/JDV

A proposta convida os moradores a vasculhar álbuns antigos, conversar com parentes e redescobrir memórias que podem estar guardadas em gavetas há décadas.

Faça uma visita ao Museu da Paz

O espaço promove visitas guiadas, ações educativas e mantém um vínculo direto com a comunidade. Além dos objetos de combate, uniformes e medalhas, o museu carrega, em cada canto, pedaços da vida de quem vivenciou na pele a Segunda Guerra Mundial e voltou para contar a história.

Aberto de segunda a sexta-feira, você pode fazer a visita das 7h30 até 11h30 ou das 13h até 16h30. Fica localizado na Avenida Getúlio Vargas, 405, no Centro de Jaraguá do Sul.

Telefone para contato: (47) 2106-8703.

Como isso impacta sua vida?

Entender a história dos pracinhas jaraguaenses é valorizar a herança de resistência, coragem e cidadania que eles deixaram. O Museu da Paz é um lembrete vivo de que a paz se constrói com memória, e que Jaraguá do Sul tem muito a contar. Visitar o espaço é um convite à reflexão e à valorização da nossa própria identidade local.

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Bruna Friedel

Jornalista em formação na FURB. Escrita é minha paixão, assim como livros, música e tudo que envolve cultura.

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