O que está por trás do icônico mural de mosaicos de Guaramirim? Conheça esta história!
Arte, memória e orgulho em 240 m² de mosaico no coração de Guaramirim.
Foto: Arquivo Pessoal/Paulico
Às margens da BR-280, no muro que acompanha a Rua Athanásio Rosa, um dos maiores mosaicos históricos do Brasil se espalha em cores e formas, transformando um espaço – antes cinza – em um verdadeiro livro aberto sobre Guaramirim. São 240 metros quadrados divididos em 12 painéis, cada um com 10 metros de largura por 2 metros de altura, que contam a história, a cultura, a economia e as tradições da cidade.
A obra, assinada pelo artista plástico e mosaicista Paulo David da Silva, o Paulico, é um ponto de encontro, de curiosidade e de orgulho para os guaramirenses. Um cartão-postal que nasceu de uma ligação inesperada e cresceu com a participação ativa da comunidade.
Nesta matéria especial que celebra o aniversário de Guaramirim, te convidamos para redescobrir a cidade a partir deste que é um de seus pontos mais icônicos e significativos.
O convite e o nascimento da ideia
A primeira fagulha para o mural surgiu quando Paulico recebeu uma ligação de Orlando Hoper, morador de Guaramirim, com a sugestão de criar um painel de mosaico em algum ponto da cidade. A ideia inicial era instalá-lo no muro do Colégio Almirante Tamandaré, mas as conversas com o município acabaram levando o projeto para o espaço que hoje encanta quem passa pela BR-280.
Para Paulico, a ligação com Guaramirim é antiga, então foi um prazer para ele executar um trabalho tão importante para a cidade. “Tenho vários amigos nascidos na cidade e outros que vieram de fora e foram acolhidos aqui. Guaramirim é a minha segunda cidade natal”, conta.
O projeto ganhou corpo quando o então secretário de Cultura, Emerson Flores, trouxe a proposta oficial. Mas não foi algo feito às pressas. Emerson contou com a consultoria do historiador e memorialista Daniel Graudin, profundo conhecedor da história local e detentor de um vasto acervo de fotos e documentos. Juntos, eles selecionaram ícones e marcos da história de Guaramirim, que foram repassados para Paulico transformar em arte.
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Do papel ao muro, um desafio de paciência e técnica
Para receber o mosaico, o muro precisou ser completamente rebocado. Cada painel era confeccionado no ateliê de Paulico, um trabalho minucioso de cortar, ajustar e colar cacos de cerâmica que depois seriam transportados para o local da instalação.
O artista levava cerca de 30 dias para finalizar cada painel e mais dois ou três dias para aplicá-lo no muro. “Não podia chover, e teve vez que alguns painéis ficaram parados no ateliê por dias, esperando o tempo melhorar”, lembra.
O trabalho chamava atenção. “Enquanto eu aplicava o mosaico, muita gente parava o carro, tirava fotos, conversava comigo. Até fechei outros trabalhos menores com pessoas que me conheceram ali”, conta Paulico.
Teve até visita escolar! Um grupo de alunos foi levado até o mural para assistir de perto ao processo e tirar fotos com o artista. Mas uma das memórias mais curiosas envolve um carro de luxo estacionado do outro lado da rua. “Fiquei desconfiado no começo, os vidros eram escuros. Depois de uns minutos, desceu uma mulher e um menino. O garoto amava arte e queria uma foto comigo. Foi muito legal.”
A técnica utilizada é a mesma que Paulico empregou no famoso painel do Parque Malwee, em Jaraguá do Sul, considerado o maior mosaico da América Latina, com 600 metros quadrados. “A diferença é que aqui houve uma evolução na forma de trabalhar, especialmente para reproduzir fotos com muitos detalhes em grande escala”, explica.
Para ele, não existe segredo maior do que paixão e dedicação. “Nada na vida é feito com excelência se não houver paixão. É paixão e suor, buscar informação, aprender novas técnicas e praticar sempre.”
A sequência que conta sobre a cidade
Os 12 painéis seguem uma ordem cronológica e temática, cada um com uma placa explicativa:
1. Brasão de Guaramirim – Criado em 1972, traz elementos como o guará vermelho, arrozais, bananais e o Rio Itapocu.
2. Garças vermelhas – Símbolo da cidade e inspiração para seu nome.
3. Casa de Analores Jahn – Construção enxaimel de 1895, marco da colonização germânica e russa.
4. Pastor Wilhelm Gottfried Lange – Fundador da comunidade de Brüderthal em 1886.
5. Igreja Luterana Brüderthal – Templo de 1893 que ainda mantém características arquitetônicas históricas.
6. Estação Rodoferroviária – Inaugurada em 1910, foi fundamental no crescimento urbano.
7. Igreja São José (Rio Branco) – Fundada em 1921, integra o roteiro religioso da cidade.
8. Antigo Hotel Butschardt – Ponto de hospedagem e comércio no fim do século XIX.
9. Maria Fumaça – Ícone do transporte ferroviário e das memórias afetivas da população.
10. Antiga Prefeitura – Sede administrativa por décadas e centro das decisões políticas.
11. Monumento aos Expedicionários da FEB – Homenagem aos combatentes da Segunda Guerra Mundial.
12. Paróquia Senhor Bom Jesus e Padre Mathias Maria Stein – Símbolo religioso e social, ligado a importantes obras comunitárias.
Cada imagem carrega detalhes que prendem o olhar. No painel da locomotiva, por exemplo, Paulico se encantou com a riqueza visual da foto original. Já o painel que traz a partitura do hino de Guaramirim é o xodó do artista, pois foi uma sugestão sua, aceita pela equipe de curadoria.
A vida que nasceu ao redor do mural
Desde a sua inauguração, o mural não apenas conta histórias, mas também cria novas. Moradores e visitantes usam o local para sessões de fotos, escolas organizam visitas guiadas e ciclistas fazem pausas para admirar a obra.
A comunidade também acompanha de perto a preservação. O vereador Emerson Flores já indicou melhorias como pintura, jardinagem, iluminação e manutenção técnica feita por mosaicistas. A prefeitura estuda implantar um sistema especial de iluminação para que os painéis possam ser apreciados também à noite.
Paulico explica que obras ao ar livre exigem manutenção periódica. “O tempo e a chuva provocam infiltrações, mas isso é normal. É como cuidar de um patrimônio vivo.”
Confira mais fotos do mural:
Um patrimônio que pertence a todos
O mural de Guaramirim se tornou um espaço de memória coletiva. Ao caminhar por seus 12 painéis, é possível fazer uma viagem pela história da cidade, desde os primeiros colonos até as expressões culturais e econômicas que moldam seu presente.
E talvez essa seja a maior contribuição da obra: despertar no morador um sentimento de pertencimento e orgulho, ao mesmo tempo em que apresenta aos visitantes uma narrativa visual que instiga e emociona.
Como diz Paulico, “a beleza estática é importante, mas o verdadeiro valor é fazer com que a comunidade conheça e se reconheça na sua história”.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.
