Bastou um nome, um primo desconhecido e um resultado de DNA para Katlin Wormsbecher começar a montar o quebra-cabeça mais importante da sua vida: a própria árvore genealógica, em busca por sua mãe biológica.
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Terapeuta holística de Guaramirim (SC), sempre soube que era adotada. Cresceu com amor, acolhida, mas com aquela perguntinha que insiste em ecoar lá no fundo: “de onde eu vim, afinal?”. A resposta ficou adormecida por mais de 30 anos, até que um empurrãozinho do destino – com uma possível gravidez – reacendeu a faísca da busca.
Katlin junto do irmão Tiago com quem compartilhou a rotina e brincadeiras na infância. | Foto: arquivo pessoal
Só que fazer teste de DNA não é muito barato. E, sem condições de bancar, entrou com o plano B: buscar alternativas internet. Em um grupo de apoio a adotados no Facebook, ela encontrou uma voluntária disposta a enviar um kit da Genera, empresa que oferece testes genéticos feitos em casa. Em troca, Katlin ofereceu o que sabia fazer de melhor: uma leitura de baralho cigano.
Sim, a gente tá falando de um reencontro familiar que começou numa troca mística-científica.
Quando ciência encontra o misticismo
O kit chegou, o teste foi feito, a ansiedade bateu. E então veio o primeiro nome: Max Pires, um primo de segundo grau que morava ali do lado, em Jaraguá do Sul. A partir disso, Katlin virou investigadora oficial da própria história.
Usando ferramentas de genealogia, redes sociais e aquele faro de quem tem intimidade com o destino, ela usou as informações que tinha – o DNA e o nome da mãe Maria Salete Alves – e começou a conectar cada ponto que descobria.
Até que apareceu o nome de Paulo Silva — filho de um primo de primeiro grau, morando nos Estados Unidos e dono de uma árvore genealógica cheia de galhos cruzados. “Confesso que eu estava bem apreensiva com a receptividade das pessoas. A gente nunca sabe como vão reagir a esse tipo de notícia”, conta Katlin.
Durante a conversa, veio mais uma surpresa: o pai de Paulo também havia sido adotado. Katlin se prontificou a ajudá-lo na busca pela mãe biológica dele — e assim nasceu uma aliança inesperada. Foi aí que uma das voluntárias da missão-DNA achou um número de WhatsApp que parecia pertencer ao filho da possível mãe dela. Quando eles mandaram mensagem, o rapaz ficou desconfiado, mas topou averiguar com a família.
Katlin com a tia, após ser adotada | Foto: arquivo pessoal
E então veio o retorno que parece escrito por roteirista: não só era a mãe e Paulo, como ela estava recebendo a visita da mãe de Katlin naquele exato momento! As duas eram irmãs.
O contato foi imediato. Trocaram números, mensagens e aquela ansiedade boa que mistura medo, esperança e um frio na barriga que nem tarô explica. “Foi impactante, uma alegria misturada com aquele medinho… você não sabe como vai ser recebida, o que vai ouvir. Mas foi um dos momentos mais felizes da minha vida.”
Semanas depois da primeira conversa à distância, ela combinou de encontrar Maria Salete pessoalmente em Santa Cecília, no Oeste de Santa Catarina. E foi um reencontro muito afetuoso e acolhedor, em que ela ainda pôde conhecer o irmão James, filho de Maria Salete, que também foi muito receptivo.
Outro encontro que marcou essa jornada, foi Dionatha, irmão por parte de pai (já falecido). A conexão com ele aconteceu por meio de uma amiga em comum que, por coincidência, era parente do seu pai biológico. Quando a mãe de Dionatha soube da história, emocionada, correu para contar ao filho, que logo entrou em contato com Katlin. Hoje eles são muito amigos, e trocam mensagens com frequência!
Katlin ao lado do irmão Dionatha. | Foto: arquivo pessoal
Ancestralidade, velas acesas e o direito de se reconhecer
Mais do que reencontrar a mãe, Katlin reencontrou a si mesma. Logo nas primeiras conversas, ela percebeu que algumas das práticas que sempre carregou consigo, como acender velas, fazer orações e pedir proteção, também faziam parte da rotina de Maria Salete. Coincidência? Não quando a ancestralidade grita mais alto.
“Descobri que isso vem da minha origem. Explicou muito sobre mim”, contou. Uma espiritualidade herdada no DNA, que talvez nenhuma árvore genealógica soubesse mapear, mas que o coração já reconhecia.
Katlin ao lado de Salete, mãe biológica. | Foto: arquivo pessoal
O reencontro também trouxe respostas práticas. Com acesso ao histórico genético, Katlin finalmente entendeu de onde vinham alguns diagnósticos médicos. “Tenho muitas alergias e nunca soube de onde vinham. Agora tudo começa a fazer sentido.”
Entre dois mundos (e pertencente aos dois)
Hoje, aos 37 anos, Katlin não sente que perdeu nada — pelo contrário. Ela se vê inteira, mesmo sendo feita de pedaços que vieram de lugares diferentes. Criada com amor e cuidado por sua mãe adotiva, teve em casa tudo que precisava. E embora essa busca por suas raízes biológicas tenha gerado certo receio no começo, foi acolhida com serenidade.
“Tenho duas famílias que me amam. E me sinto muito feliz com tudo isso.”
Como isso impacta a sua vida?
Essa é uma daquelas histórias que mostram que nossas raízes não se apagam com o tempo. Elas ficam ali, esperando o momento certo pra se reconectarem. Os testes de DNA caseiros democratizaram o acesso à própria história, e a internet, com seus grupos e algoritmos, virou ponte entre passados partidos e futuros possíveis. Se você sente que falta um pedaço do quebra-cabeça, talvez esteja a uma busca no Facebook ou uma amostra de saliva de descobrir.
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.
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