Economia | 05/08/2025 | Atualizado em: 05/08/25 ás 18:52

Quando a WEG vendia peixe: uma história que pouca gente conhece

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Quando a WEG vendia peixe: uma história que pouca gente conhece

Weg vendia pescados congelados com sua marca Imagem Ilustrativa/IA JDV

Hoje, com um valor superior a R$ 100 bilhões, a WEG, multinacional com sede em Jaraguá do Sul, é sinônimo de tecnologia e inovação, líder mundial em energia e automação. No entanto, em sua trajetória, a empresa já se aventurou por um setor inesperado: o mercado de pescados. Entre as décadas de 1980 e 1990, o grupo comprou a Indústria e Comércio de Pescados Penha Ltda, que passou a se chamar Weg Penha Pescados, e iniciou um plano de investimentos de Cr$ 630 milhões para expandir suas instalações e adquirir novos equipamentos.

Uma fase de diversificação

A entrada da WEG no mercado de pescados fez parte de sua estratégia de diversificação, em um contexto de crises econômicas no Brasil. Nos anos 1980, o país enfrentava desafios econômicos, e o grupo procurava reduzir riscos, explorando novas áreas de atuação além de seus negócios principais. Em 1984, a Weg Penha Pescados tinha capacidade para processar 100 toneladas de camarões e 50 toneladas de peixes por mês. Com o novo investimento, a empresa planejava aumentar sua produção para 150 toneladas de camarões e 600 toneladas de peixes mensais.

Aproveitando a estrutura mercantil do Grupo WEG, a Weg Penha Pescados buscava aumentar sua presença no mercado internacional. O projeto de expansão também trouxe benefícios para a comunidade local, com a previsão de 40 novos postos de trabalho, somando aos 140 colaboradores que já faziam parte da empresa.

Foto: reprodução Google Maps

Gestão e liderança na Weg Penha Pescados

O Conselho de Administração da Weg Penha Pescados era composto por Eggon João da Silva (presidente), Geraldo Werninghaus e Vandelino José Santana, que ocupava o cargo de diretor-superintendente operacional, com Rubens Nicoluzzi como diretor da área. Nicoluzzi, com um currículo sólido, teve um papel fundamental na gestão da unidade pesqueira. Antes de se dedicar à Weg Penha Pescados, Rubens Nicoluzzi atuou em grandes empresas como o Banco Inco e a Kolbach, e mais tarde se transferiu para o Grupo WEG, onde ocupou diversos cargos, como gerente de comércio exterior, gerente de vendas e marketing e diretor da WEG-Asea e da Weg Acionamentos.

Boatos sobre venda e as estratégias para superar a crise

Em 1992, diante de boatos de que a Weg Pescados estaria à venda, o diretor-presidente do grupo Weg, Décio Silva, negou enfaticamente essa possibilidade. Ele reconheceu que a empresa enfrentava um momento difícil devido à retração do mercado, uma situação sazonal que afetava o setor nos meses de janeiro e fevereiro. Silva acreditava que, a partir de março, a situação começaria a se reverter.

Para melhorar os resultados da Weg Pescados, a direção da empresa focava em duas frentes: o projeto “Catfish“, que visava intensificar a produção de peixe gato (catfish) com o apoio de piscicultores integrados, e o arrendamento de barcos-fábricas para pesca em alto-mar, onde a oferta ainda era farta. Silva estava confiante de que esses projetos impulsionariam os negócios da Weg Pescados.

O projeto Catfish e a piscicultura

Na segunda metade dos anos 1980, a empresa iniciou o projeto de piscicultura, sob responsabilidade da Weg Florestal (empresa Weg de projetos de reflorestamento). A Weg investiu na criação de Catfish (bagre norte-americano), um projeto que envolvia a integração com piscicultores de Corupá. A empresa fornecia alevinos, ração subsidiada e assistência técnica aos produtores, garantindo a compra dos peixes com 700 a 800 gramas. O foco era aumentar a produção para atender tanto ao mercado interno quanto ao mercado externo. A empresa atuava também na produção de ração para peixes.

Mudanças na operação

A sinergia entre o setor pesqueiro e o foco principal do grupo foi reavaliada, e a WEG decidiu ajustar sua operação. A empresa esteve presente no mercado até o início dos anos 1990, quando então a Weg decidiu se desfazer das operações pesqueiras e de piscicultura para voltar-se aos setores de energia e tecnologia nos quais vinha tendo grande desenvolvimento.

Aquisição por Rubens Nicoluzzi

Foto: Acervo Acijs

Posteriormente, a Weg Penha Pescados foi adquirida por Rubens Nicoluzzi. O empresário prosseguiu operando principalmente no setor de ração. Em reconhecimento às suas contribuições comunitárias, Rubens Nicoluzzi foi homenageado com o nome de uma rua em Penha (SC).

Fim das operações pesqueiras

A baixa oficial no CNPJ da unidade de Penha ocorreu em 2 de junho de 1997, e em 28 de outubro de 2002, uma assembleia decidiu retirar do estatuto da empresa qualquer atividade relacionada à pesca, importação ou comercialização de pescado, encerrando a operação nesse setor.

Embora esse episódio não seja amplamente lembrado, ele revela uma faceta pouco conhecida da WEG: sua disposição em se aventurar por caminhos fora do óbvio, mesmo que temporariamente. E, sim, por um bom período, a WEG foi responsável pela venda de peixes congelados nos supermercados, algo que, até hoje, causa surpresa a muitos que associam a marca exclusivamente a tecnologia e energia.

Resumo das operações pesqueiras da Weg Penha Pescados

Conforme registros de CNPJs encontrados, ao longo das décadas passadas, a Weg Penha Pescados registrou diversas atividades pesqueiras e de processamento. Em Cananéia (SP), a empresa atuou principalmente na fabricação de conservas de peixes, crustáceos e moluscos. Em Penha (SC), a produção foi voltada para alimentos para animais, enquanto em Rio Grande (RS), o foco estava na preservação e processamento de pescado. No entanto, todas as unidades foram extintas entre 1997 e 2001, com o encerramento das operações por meio de baixa voluntária.

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Marcio Martins

Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão

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